Espanha: Pedro Sánchez é uma vítima?

Por Flávio Carvalho.

Claro que sim.

E há algo que precisa ser dito. Para ele, Sánchez, também.

“E apesar de termos feito tudo tudo tudo que fizemos…” (Belchior)

Até porque em véspera de eleição, é normal que político profissional tenha suas taxas hormonais alteradas. Política é vida. E admite a presença de homens sensíveis. Tanto quanto de mulheres valentes, das que não se calam, que gritam. Até mesmo sem binarismos maniqueístas. Como não?

O bipartidismo de sustentação ao franquismo estrutural (bem herdado, como apoiar monarquia corrupta) deixou PP e PSOE em zona de conforto: milhares de cargos, bem pagos, no governo de uma Espanha mileurista, sem casa, inflacionada, sem azeite de oliva…

Leia mais: O pacotão gringo de autoajuda.

Agora, este ministério para ti, PP; daqui a 4 anos para mim, PSOE.

Há centenas de presos políticos não famosos nessa mesma Espanha onde o PSOE de Sánchez governa há décadas, como se esses presos políticos nem existissem.

São jovens antifascistas principalmente (catalães, bascos, galêgos, valencianos…), graças aos 3 esquemas franquistas que o PSOE jamais encarou de frente (porque não lhe convém e lhe tira votos de centro-direita): monarquia, juízes franquistas com polícia racista, e imprensa fascista. Não são autônomos, respondem e sustentam interesses de casta. Tal como o Podemos espanhol pagou preço alto pela denúncia incansável. Atuam pagos pelo capitalismo que sustenta o bipartidismo espanhol. Como se o Brasil ainda fosse somente PMDB × Arena, PDS, PFL, DEM…

Ou o PT quebra isso… ou se transforma nisso. O PT é a chance de que isso se quebre. Mas não se faz omelete sem quebrar ovos.

Não se transforma desigualdade social em menos ruim. Privilegiado nota melhoria, sim. Mas critério de quem vive na miséria é a fome. Mas não vive quem fome quem a polícia já assassinou, como sempre (sempre os mesmos de sempre).

Vai pedir pra esperar mais um pouquinho? Até quando?

Ou se muda a estrutura ou nada muda.

Ada Colau ousou quebrar a estrutura na prefeitura de Barcelona, sabendo que corria o risco (viver é enfrentar desafios), mas apostou pela dinigidade: foi derrubada pelo Lobby de sempre (socialistas, centro-esquerda + convergentes, à direita) em Barcelona: indústria do turismo, hoteleiros, La Vanguardia, El Periódico, El País, lidos pelos ricos irritadinhos porque seus carros potentes e contaminantes estão sendo expulsos do centro da cidade.

Os ataques contra o PSOE são misóginos e machistas, e encontram misoginia e machismo mesmo dentro da “esquerda” (autoenganando-se como se machismo e racismo fosse coisa “dos outros”).

Não é Guerra Cultural. Nem é identitarismo. Nem vitimimimismo. É linguagem de quem sempre se lascou na vida. Você não sabe, porque pensava que quem estava mal era você. Surpresaaaa! Hay peor. Muito pior.

Devemos condenar os ataques à Pedro Sánchez, junto com, ao mesmo tempo, exigir o fim dos vacilos que seduz a esquerda pra ganhar votos que não são de esquerda.

Não é entregar governo pra direita. É história velha. A melhor campanha eleitoral se inicia no dia que ganhas, não na véspera da próxima.

O fascismo se vence de cara. Dando nome e preocupando-se cada vez mais com a linguagem.

Todes, sim! TodEs! Se te dói no ouvido, revise. Vai querer comparar tua dorzinha, legítima, com a da trans assassinada?

Ou o Brasil não é o país onde mais se assassinam trans no mundo?

Será isso um mal menor?

PSOE e PT teriam fácil se usassem a memória histórica. Basta voltar aos princípios. À base. Às ruas. Às favelas. Às pateras.

Não nasceram contra ditaduras? E se perceberem que elas, as ditaduras, não se acabaram completamente?

Dar nome ao nazifascismo. Sem medo. Sem vacilos.

Com firmeza.

Principalmente enfrentando o mal-comum da esquerda mundial: acomodar-se ao cargo com ar-condicionado ou aquecimento, longe das ruas, não virar lagartixa balançando a cabeça a tudo que o líder beatifica (já que nem ele pediu isso de nós).

Insisto! O cargo de deputada de Maria Dantas no Parlamento Espanhol mostrou-nos o caminho. Custe o que tenha lhe custado. Segue firme, deu nomes, incomodou pra todos os lados, está nas ruas de onde jamais saiu, agora ainda mais carregada de dignidade e de legitmidade.

É preciso dar nome em voz alta contra o nazifascismo – não é extrema esquerda; faz tempo que é muito mais que isso.

Sánchez conta comigo.
Mas não é somente pela sua família.
É contra o nazifascismo.

E, se quiser, chame de Capitalismo, Racismo, Machismo…

É tudo a mesma merda.
E mata.

@1flaviocarvalho

A opinião do/a/s autor/a/s não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.

 

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