Equador: Sem o apoio indígena, a centro-esquerda não vencerá no segundo turno

Por Lautaro Rivara.

Pode ser ou não uma opinião popular, não importa, mas ratifico o que sempre pensei e disse sobre o Equador, país que visitei várias vezes e pelo qual tenho muitos afetos: o movimento indígena não é suficiente (o Equador não é a Bolívia, pelo menos não em termos demográficos), mas sem o movimento indígena não é possível. E não me refiro apenas à situação atual e ao seu capital eleitoral decisivo, evidente para aqueles que sabem somar e subtrair, mas à construção de um projeto progressista, soberano e descolonizador para um país. Temos que ganhar, sim, mas depois temos que governar em um país e em um mundo que não é o de 2007 ou 2017 (basta perguntar a outros governos da segunda onda progressista). A crise de segurança, para começar, não será resolvida apenas com políticas estatais e estatistas, mas também com força territorial. A crise econômica, por outro lado, responde a fenômenos que vão além da tragicomédia chamada Daniel Noboa e seu total desgoverno.

O movimento indígena, e a CONAIE em particular, é o movimento social mais importante do país e o único estruturado territorialmente em nível nacional. Contra aqueles que procuram um bom selvagem rousseauniano entre os indígenas, em vez de sujeitos políticos, trata-se de um sujeito complexo com interesses contraditórios (basta dar uma olhada na cidade de Otavalo, na província de Imbabura). Mas isso também não é verdade para o correísmo?

O que poderia ser uma desculpa com quinta-colunistas como Yaku Pérez (tão defendido por uma certa intelligentsia liberal-progressista que agora finge insanidade) não o é com um líder honesto, combativo e representativo como Leonidas Iza. Para quem duvida, assista aos vídeos dele chegando a Quito à frente das enormes colunas indígenas que se mobilizaram a partir do Cotopaxi durante a explosão social de 2019.

O trem da história está passando novamente no Equador. Talvez seja o último do dia. Aqueles que viveram em países devastados pela criminalidade, pelo paramilitarismo e pelo tráfico de drogas sabem que, independentemente da dimensão local da crise, o pior ainda está por vir. Esperemos que a liderança tenha a maturidade e o senso de dever que este momento grave merece, para salvar um país que está à beira do precipício. Para Guayasamín, talvez o mais universal de todos os equatorianos, depois da raiva e antes da esperança, havia a ternura. Precisaremos de uma boa dose dela.

Tradução: TFG, para Desacato.info.

A opinião do/a/s autor/a/s não representa necessariamente a opinião de Desacato.info.

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here


This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.