Epagri em risco? Entidades se manifestam a favor do espaço de pesquisa Cepaf em Chapecó

    Foto: Divulgação/Fetraf-SC

    Por Assessoria de Comunicação, Fetraf-SC.

    Sob a alegação de desafogar as avenidas Atílio Fontana e São Pedro, o vereador, Ivaldo Pizzinatto (UB), que representa o Executivo na Câmara de Vereadores, coordena, nesta quarta-feira (1º), uma Reunião de Trabalho para discutir a possibilidade de abertura da Rua Licínio Córdova, no bairro São Cristóvão.

    O objetivo, segundo a proposta, é abrir a via que sai do Loteamento Lunardi, atravessando uma área da Estação de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural (Epagri), e culminando na rotatória da rua Leopoldo Sander.

    Foram convidados para a Reunião, que acontece a partir das 14 horas no plenário da Câmara, o prefeito de Chapecó, João Rodrigues, o gerente regional da Epagri, Mário Jovino Aléssio, além do presidente Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Celso Moretti. 

    De acordo com a proposição, a intenção é aliviar o trânsito da região, melhorar o fluxo e otimizar a mobilidade urbana, para isso, colocando em risco a permanência da Epagri no local “considerando que tem outras áreas que podem comportar as instalações”, diz o documento.

    A área, que inicialmente foi doada pela prefeitura, hoje pertence à Embrapa, que cedeu o espaço para uso da Epagri/Cepaf.

    Mobilidade ou especulação imobiliária?

    Foto: Divulgação/Fetraf-SC

    Para Alberto Höfs, gerente regional do Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar (Cepaf) da Epagri, o que a prefeitura busca é assumir o espaço em função do alto valor imobiliário, já que a área cobre 850 mil metros quadrados.

    Na sua avaliação, a abertura da rua é um pretexto para futura exploração imobiliária, “existem outras maneiras de desafogar o trânsito, ninguém cogitou cortar o Ecoparque ou o Verdão ao meio, por exemplo. Não podemos pensar em linha reta”, adverte.

    Além disso, o gerente lembra que a estação experimental da Epagri em Chapecó existe há 55 anos, e é grande responsável pela região ser um vetor de produção de grãos e proteína animal com alta qualidade, “sem a Epagri, o estado vai precisar buscar tecnologia de fora, se isso acontecer, toda a sociedade sentirá o impacto.”

    Área de Preservação Permanente

    Foto: Divulgação/Fetraf-SC

    Um ponto conflitante da proposição é o local de abertura da rua Licínio Córdova. Segundo o engenheiro agrônomo da Epagri, Leandro Wildner, o espaço é uma Área de Preservação Permanente (APP).

    Leandro explica que “é preciso aprovar um projeto para conseguir uma licença ambiental, porque nesse local, inclusive, há uma nascente que dá origem ao Riacho das Pombas, afluente do Lajeado São José”. Ele acrescenta que, além dessa, há outra fonte na área da Epagri que seria prejudicada. 

    Ainda conforme o agrônomo, mesmo que a ideia seja cortar a área pelo outro lado, da mesma forma seria inviável, pois, sendo uma área de várzea, é também uma APP. 

    Foto: Divulgação/Fetraf-SC

    Impacto na produção de alimentos

    Sydney Kavalco, pesquisador em Melhoramento Vegetal da Epagri, avalia que a retirada ou transferência da Epagri acarretaria na paralisação de pesquisas importantes para o desenvolvimento da produção de alimentos e commodities.

    Segundo ele, ao comprometer o trabalho dos pesquisadores, seria preciso parar de fornecer novos cultivares e tecnologias aos agricultores, além de paralisar a recomendação do trato cultural e manejo, “um exemplo é a cigarrinha-do-milho, se o Cepaf deixa de recomendar o manejo, isso prejudica a produção de grãos e impacta em toda a cadeia alimentar”.

    Para o pesquisador, se os trabalhos da Epagri fossem limitados, a população sentiria o impacto rapidamente, “no caso do feijão, por exemplo, se o Cepaf parar de registrar e recomendar novos cultivares, isso vai afetar a sociedade instantaneamente, que sentirá o resultado da queda de produção no mesmo ano”, avalia.

    Mudança de local

    Foto: Divulgação/Fetraf-SC

    Outro ponto que deve ser abordado durante a Reunião de Trabalho, é sobre a possibilidade de transferir as instalações da Epagri para outra área. Para Alberto, essa ideia não encontra respaldo na realidade.

    O gerente explica que existem diversos requisitos para instalar um centro de pesquisa, como: tamanho da área, sanidade do solo, região plana, espaço para estação meteorológica, além do custo, que, segundo ele, é inviável. 

    Ainda para Alberto Höfs, em uma suposta transferência das instalações da Epagri, diversos dados registrados no decorrer dos anos seriam completamente perdidos.

    Entidades manifestam apoio

    Foto: Divulgação/Fetraf-SC

    Em consonância com o gerente, entidades de classe, da educação e sociedade civil se reuniram durante a semana e elaboraram um manifesto a favor da permanência da Epagri na mesma área de Chapecó. 

    Segundo o documento, “o Cepaf é referência estadual e nacional em diversos campos do conhecimento da pesquisa agronômica e das ciências sociais e humanas, com importantes avanços científicos, tecnológicos e metodológicos voltados para a agricultura familiar e o desenvolvimento sustentável.”.

    A Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar de Santa Catarina (Fetraf-SC) também assina o manifesto. De acordo com o coordenador geral, Jandir Selzler, a Empresa é fundamental para levar tecnologias ao campo, ajudar a promover renda aos agricultores e melhorar a qualidade na alimentação, “sem a Epagri, nossa agricultura sofreria um forte impacto na produção, e isso certamente seria sentido na mesa dos catarinenses”, avalia.

    Do mesmo modo, a Unicafes, União Nacional das Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária, pondera que a permanência da Epagri no espaço é imprescindível para a continuidade da pesquisa, assistência técnica e extensão rural, “a gente que produz alimentos para chegar na mesa do consumidor, sabe o quanto é importante ter a Epagri dando esse suporte para sempre melhorar a produção”, diz o presidente da entidade, Genes da Fonseca Rosa.

    Além de entidades, parlamentares de Chapecó também se reuniram com a Epagri e manifestaram apoio à permanência da unidade, entre eles, os vereadores Valdir Carvalho (PT), Deise Schilke (PT) e Cesar Valduga (PCdoB).

    O Manifesto em defesa e fortalecimento do Centro de Pesquisa para a Agricultura Familiar (Cepaf) será divulgado nos próximos dias e encaminhado a autoridades competentes. 

    DEIXE UMA RESPOSTA

    Please enter your comment!
    Please enter your name here

    Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.