Entrevista Exclusiva com Deva Prem, Educadora Sexual, Mestra e Terapeuta Tântrica

Por Flávio Carvalho, para Desacato.info.

Na Rádio Pública Oficial da Catalunha, duas apresentadoras de um importante Podcast Feminista, mencionaram seu nome, durante a complexa visita que realizaram ao Salão Erótico de Barcelona: “um oásis de calma, no meio da tempestade, era o Stand de um empreendimento tântrico, de uma menina indiana, jovem e que parecia bastante empoderada”; “não era indiana, e sim, brasileira”, respondeu a outra apresentadora, chamando-me ainda mais a atenção. “Seja como for”, sentenciou uma delas, “no meio de um ambiente como aquele, fazia tempo que eu não me animava tanto com outras propostas tão feministas. É preciso ser ousada para ser uma jovem empreendedora tântrica no meio de todo aquele erotismo”.

Só há uma coisa importante, dizia Wilhelm Reich: “viver uma vida boa e feliz”. E, para isso, “a palavra Liberdade, nunca deveria ser um slogan político vazio”.

Brasileira, de São Paulo, concedeu-nos esta entrevista, Deva Prem.

Como resumir a expressão Tantra?

Um sistema holístico. Engloba diversos aspectos presentes nas nossas vidas. Filosofia, Psicologia, Medicina, Arte, Ciência e… Claro: sexualidade. Embora esteja muito mais associado ao sexo, principalmente numa visão ocidental, o Tantra é muito mais que somente uma questão de sexualidade – a aceitação de si mesmo e do próprio corpo, nosso templo sagrado, de todas as vias para a libertação da nossa energia vital.

Representa a Expansão da Consciência, por meio do prazer, da liberdade e do êxtase (viver a vida em êxtase). Por isso é, ao mesmo tempo, milenar e moderno.

E uma das coisas que mais me chamam a atenção no Tantra, como sistema, é a sua forte condição matriarcal. Isso me interessa muitíssimo.

Então não se trata apenas de sexo?

Não. Devo dizer-te logo isso. Embora igualmente devemos admitir que a questão sexual está absolutamente integrada no Tantra.

O Tantra é um conceito (há quem fale que são vários conceitos, no plural) tão amplo, que dialoga inclusive com a física quântica: por sermos energia, somos criadores da nossa realidade. No caso da sexualidade, as práticas do Tantra possuem um claro objetivo de ativar e canalizar essa energia sexual, criativa, para alguns propósitos determinados. Eu, por exemplo, tenho me dedicado ao campo da Consciência – um termo muito utilizado no campo da filosofia e até da política. Embora o meu trabalho esteja mais voltado à questão da Sexualidade Consciente.

Evidentemente, tocamos em muitos aspectos da repressão judaico-cristã e de toda a desconexão relacionada ao corpo. Culpabilidade e pecado, além de – ao mesmo tempo – desconhecimento e obsessão sexual.

O Tantra também é uma via mística. O rumo: a energia vital.

Leia mais: Roberto Freire, de AuraNuda, “Somando” no Salão Erótico de Barcelona. 

Então também não é algo eminentemente religioso?

Pelo contrário. Cada pessoa deve aceder às suas próprias vitalidades pelos caminhos que lhe sejam mais prazerosos.

Eu creio no prazer como algo divino e transcendental. E então, que cada um tenha suas próprias conclusões. Ou inconclusões, que também serão muito válidas.

O Tantra está na moda?

Sim e não. Pois sendo uma práxis (conjugação perfeita entre teoria e prática) milenar, é muito popular, principalmente no Oriente.

No Ocidente, podemos dizer que é um fenômeno mais recente.

O certo é que está crescendo muito rapidamente e ainda tem muito de promissor.

Tem sido usado em formações de profissionais de diversas áreas como sexólogas, profissionais de diversos tipos de cura, incluindo as medicinais mais tradicionais, processos terapêuticos e de desenvolvimento pessoal, entre muitas outras.

Não creio que será uma coisa de moda, passageira. Creio que já nasceu para ficar.

Lembro que a Yoga era visto como uma coisa de Hippies e até chamavam de seita, 30 anos atrás.

Por isso eu não tenho dúvida que ainda escutaremos falar muito sobre o Tantra, como nessa entrevista que estou concedendo a você. E que eu sei que muitas pessoas se interessam e vão querer nos ler.

Quem não quer falar de Sexualidade e de Consciência, hoje em dia?

Vou te pedir para comentar sua participação no Salão Erótico de Barcelona, onde nos encontramos.

Desde a minha primeira participação neste Salão, que é um dos mais importantes do mundo, meus objetivos são sempre os mesmos: promover o meu trabalho – inaugurando o meu novo empreendimento – em matéria de vida sexual ativa, sexualidade tântrica para casais (para isso, oferecerei diversas oficinas gratuitas, para dezenas de pessoas) e sobre massagem tântrico, um dos serviços mais procurados. Além disso, fazemos retiros e sessões individuais ou de casal.

Sempre de forma muito prática, pois há de ser muito vivencial e comportamental. Não dá para falar muito sem experimentar. Já vês que eu não creio na autossuficiência da teoria, por melhor que essa teoria possa ser.

Eu acredito sim é num processo integral, escutar as pessoas, ajudar a relacionar-se com o seu próprio corpo e lhes proporciono toda essa experiência: terapia sexual, cursos específicos, formações individuais, retiros onde coletivizamos nossas próprias vivências e, principalmente, uma aposta – como eu sempre faço questão de mencionar – sobre alterar o nosso estado de consciência, para que esteja plena em todas as nossas relações, sociais, culturais, de casal (considerando todas as formas de relacionar-se, muito além do sistema binário, patriarcal e heteronormativo).

É interessante o nome da sua empresa: Auranuda.

Eu tento me libertar de falsos moralismos e combato preconceitos. Por isso eu considero a erotização e a liberdade de obter múltiplos prazeres como um perfeito complemento para o que eu chamo de uma nova consciência.

Auranuda tem a ver com desnudar-se de tudo, desprender-se, sem egos, sem restrições. Sendo absolutamente nós mesmas. Completamente nós mesmas.

Por isso eu me dedico, a cada dia, a não alimentar os falsos estigmas nem as crenças históricas do sistema patriarcal.

A sexualidade pode ser algo muito bonito e está cheia de possibilidades que ainda não foram suficientemente exploradas.

Porém, não devemos esquecer que as pessoas que eu atendo, muitas delas, vem de um ciclo de problemas tão diversos quanto as disfunções sexuais, as relações insatisfatórias e até mesmo tóxicas ou traumáticas. Por isso é importante saber até onde podemos chegar, aonde queremos ir, e repetimos um verdadeiro mantra: o teu prazer é teu. Tua sexualidade não depende de ninguém. Invista teu precioso tempo e teus recursos em tu mesma. Tu mereces (repita isto quantas vezes for necessário). Nunca duvides disso.

Que dirias, Deva Prem, a uma pessoa que se interesse nos assuntos que abordamos, a alguém que quiser iniciar um processo como este?

No Tantra, tudo passa pela respiração, a ferramenta mais essencial, a mais básica, a que nos acompanha desde que nascemos.

Logo, desnudar-se (não somente no sentido literal, mas também subjetivamente) é algo difícil, eu sei, devido à tantas opressões. São muitos padrões impostos socialmente, implacavelmente metidos nas nossas mentes. O corpo é uma importantíssima ferramenta sociocultural, e inclusive política.

Por fim, eu acho que o “viver tantricamente” passa por encontrar a paz, na aceitação. E, enfim, encontrar o gozo e o êxtase pela vida. A isto eu lhes convido. Vamos?

Barcelona, 18 de junho de 2022.

@1flaviocarvalho @quixotemacunaima. Sociólogo e Escritor. Ex-dirigente sindical da CUT e ex Formador da Escola de Formação da CUT no Nordeste.

A opinião do/a/ autor/a/s não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.

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