Entre o silêncio, o apoio e a crítica a Bolsonaro: independente do lado, um povo infeliz!

 

Foto: Ernie A. StephensPixabay

Por Elissandro Santana, para Desacato.info.

Há algum tempo ando inquieto com o silêncio de muitos, com o apoio de alguns e também com os críticos no que se refere à gestão do Presidente Bolsonaro antes e durante a pandemia do coronavírus.

Nos últimos dois anos e quase dois meses, tenho me indagado acerca dos motivos para o silêncio de parte dos brasileiros (mesmo diante de tudo o que aconteceu e está acontecendo no país, aqueles que costumam ficar em cima do muro e que sempre fizeram isso ao longo da história), assim como me pergunto sobre o que leva uma parcela da população a apoiar qualquer ação, ingerência ou até confusão do Presidente não somente no que se refere à Covid-19, mas a tudo na condução da nação, principalmente, no que diz respeito à tomada de decisões no campo econômico. Ademais, também me questiono sobre o modus operandi (forma de ação e o que a controla) dos críticos à gestão e a todas as políticas adotadas por esse governo, desde as questões ambientais, à economia e crise sanitária pelo coronavírus especificamente.

Sei que todos têm seus motivos, ou, pelo menos, imagino que os tenham para o silêncio, o apoio e a crítica a este necrogoverno. Eu, por exemplo, tenho os meus e, como costumo ser muito honesto intelectualmente, desde já, sinalizo que faço parte dos críticos ao governo, e com diversas razões para isso. Estou ao lado dos que criticam Bolsonaro, pois jamais compactuarei com a política desastrosa de destruição do meio ambiente a partir do desmonte dos órgãos ambientais e descaso no combate a ações criminosas contra a biodiversidade brasileira, também porque, de jeito nenhum, comungarei com seres racistas, homofóbicos e machistas. Ademais, jamais apoiaria alguém que, historicamente, nada fez na política para a nação brasileira e, mesmo assim, virou mito, sem contar que ele sempre deu provas de que era/é um ser dominado pelo ódio às minorias e pelo projeto de revolução que elas representam. É importante destacar que, mesmo entre os críticos ao governo, tenho minhas dúvidas sobre a eficiência de nosso modus operandi no combate às políticas de Bolsonaro, pois me parece que Ele só se fortalece, ainda que em alguns momentos o número dos que o apoiam pareça oscilar. Concernente ao nosso modus operandi pouco eficiente, é oportuno mencionar que mesmo antes de sermos encurralados pelo coronavírus, nos concentrávamos muito nas redes sociais e, nesse quesito, sabemos que o gabinete do ódio (e seus robôs de disseminação da mentira) tem muito mais força e capilaridade do que nós. Acerca de nosso formato de ação, precisamos repensar nossa maneira de ataque e de combate, pois me parece que nossas tentativas não funcionaram completamente, mas, para uma nova direção, em conjunto, em unidade, devemos compreender, com urgência, o que faremos de agora em diante e como faremos. Como sinalizei anteriormente, temos agido de forma muito pouco eficiente, em especial, no que se refere à tentativa do retrato de um Bolsonaro idiota, pois disso ele não tem nada. No quesito semântico, não somente os reacionários estão perdidos, mas nós também da esquerda, e isso pode ser fruto desse academicismo bobo em latência no país do qual sofremos. Muitos estão tão confusos que entendem que a ausência de título sinaliza que uma pessoa seria menos inteligente, quando na verdade sabemos que a inteligência é uma capacidade inata ao ser humano e ser portador de diploma não coloca alguém como superior intelectualmente ao outro. Estão confundindo gente instruída academicamente como sendo a única parcela inteligente da população. O pior é que estão muito equivocados esses que pensam a partir dessa linha de raciocínio. Bolsonaro não é um intelectual, mas ele não tem nada de idiota. Longe disso, ele é dono de uma genialidade para o mal, tanto que é cônscio do perigo das ruas e, exatamente por isso, se vale da confusão na compra das vacinas, mesmo que isso represente algum perigo junto ao legislativo e ao judiciário, para que continuemos acorrentados em nossos cantos, amedrontados. Enfim, ao contrário do que muitos pensam, ele é muito inteligente e justamente por isso sabe o que faz. Não comprar a vacina agora, como destaquei, faz parte de um projeto para manter o povo fora das ruas.

Como meus textos são bastante dialógicos, pois acho que no diálogo está a base para crescermos, gostaria de entender, profundamente, o que leva aqueles que ficam em silêncio diante de tudo o que está acontecendo a se comportarem assim, como se tudo estive as mil maravilhas. Também adoraria entender com mais detalhes o que leva os apoiadores do Presidente a segui-lo mesmo frente a tudo o que estamos vivendo. Para estes, tenho algumas perguntas. A primeira delas é: sabiam exatamente no que ou em quem estavam votando? A segunda pergunta: estão felizes com a gestão? A terceira pergunta diz respeito ao seguinte: para vocês, o Brasil melhorou a partir deste governo? A quarta: em caso positivo, poderiam escrever para [email protected] explicando sobre as melhorias pelas quais o país passou (e não venham com achismos, mas com provas concretas e dados referenciados). A quinta indagação diz respeito ao conhecimento que se tem sobre política: o que é governar para todos e não somente para um grupo que pensa em tolher a liberdade e o prazer do outro em todos os sentidos? A sexta pergunta tem relação com a gestão da crise do coronavírus: para vocês apoiadores, o Presidente conduziu bem esta crise sanitária? A sétima pergunta ainda se relaciona com a gestão da crise sanitária: a condução da crise sanitária seria ou não de responsabilidade do governo? A oitava indagação também é tangente à gestão da crise da Covid-19: as atitudes do governo, aglomerando, negando o vírus e depois gerando confusão não prejudicou vocês? Perguntei, porque a mim e a muitos a minha volta, isso foi terrível. A nona e décima perguntas são: vocês perderam alguém para a Covid-19? Em caso positivo, qual a sensação? Um décimo primeiro e décimo segundo questionamentos são: caso o Presidente que vocês apoiam não sofra o impeachment, vocês votariam nele de novo? Agora, uma última pergunta: em caso afirmativo, ou seja, que sim, votariam nele novamente, o fariam pelos mesmos motivos anteriores?

Espero, com base nas respostas, para as perguntas que fiz, em especial, aos apoiadores, compreender, detalhadamente, como é possível seguir idolatrando um governo que tem se mostrado ineficiente e nocivo não somente ao Brasil, mas a todo o Planeta, dado que ele, na incapacidade de uma gestão da crise sanitária, contribui para que nosso país se transforme em um dos principais e quem, sabe, mais à frente, no pior epicentro de disseminação do vírus. Quero entender em detalhes, pois, desde criança, ainda que sem muita leitura na época, sempre fui consciente de que todo e qualquer governante eleito deveria lutar em favor do país e de sua gente, mas, infelizmente, Bolsonaro se comporta como alguém incompetente, debochado e malicioso. Ele não somente negou o vírus ou o minimizou, mas também atrapalhou a condução no combate à doença. Pelo histórico de confusão durante a condução da crise sanitária no país, ele se aproveitou para piorar nossa situação no que se refere à diplomacia e atualmente nos encontramos praticamente isolados geopoliticamente.

Algo muito importante e que, por isso mesmo, deve ser colocado em pauta, é: independente do lado que assumimos, concordem ou não os silenciosos, engulam ou não os apoiadores de Bolsonaro, os críticos a este governo estão ancorados em números, em dados e em fatos e eles não são animadores. No que se refere ao meio ambiente, tivemos o aumento do desmatamento na Amazônia e queimadas no Pantanal, além de problemas em outros biomas. Ademais, ainda nesse aspecto ambiental, órgãos como o ICMBIO e o IBAMA estão sendo desmontados ou aparelhados ideologicamente a serviço do ideal bolsonarista. Estão passando a boiada, como ficou evidente naquela reunião na qual o Ministro do Meio Ambiente se revelou um verdadeiro inimigo da vida e da diversidade. No campo econômico, o valor dos combustíveis está fora de controle e o gás de cozinha está impagável. No que concerne aos aspectos socioculturais, os feminicidas cada vez se mostram mais escrotos, a violência policial nas localidades abandonadas pelo Estado só aumenta e a fome está dando as caras de uma forma assustadora com o país mais uma vez no Mapa da Fome Mundial.

O país estagnou no campo econômico e, mesmo assim, a elite brasileira segue sorrindo, pois ela sabe que, até certo ponto, a crise gera oportunidades (para ela). Em seu egoísmo, os capitalistas colonizados nos querem colonizar ainda mais. Para isso, essa elite, historicamente tacanha, se vale da confusão que a mídia tradicional operou em relação ao PT, da ignorância dos fanáticos religiosos que pensam que são “os novos inquisidores da moral e dos bons costumes” e que, por isso, elegem pensando em alguém que supostamente seria capaz de controlar a vivacidade da diversidade e do imaginário de poder dos milicos no amedrontamento dos pobres para se perpetuar no controle das riquezas da nação.

Diante do quadro horrendo, do qual alguns de nós não somos os autores, mas meros espectadores, infelizmente, todos nós fomos atingidos pela tinta da ignorância e da maldade dos artistas mesquinhos das decisões políticas que nos trouxeram a este pesadelo. Afundados na tinta do horror que cheira a sangue, muitos não entenderam e ainda demorarão a compreender, ainda que minimamente, que, independente da posição racional ou partidária romântica que tomamos no passado e estamos tomando, da forma como o país caminha, estamos condenados à infelicidade, miséria, dor e morte!

Elissandro Santana é professor, membro do Grupo de Estudos da Teoria da Dependência – GETD, coordenado pela Professora Doutora Luisa Maria Nunes de Moura e Silva, revisor da Revista Latinoamérica, membro do Conselho Editorial da Revista Letrando, colunista da área socioambiental, latino-americanicista e tradutor do Portal Desacato.

A opinião do/a autor/a não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.

Leia mais: E aí, seguiremos em nossos cantos pensando que os monstros são invencíveis?

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