Segundo o dicionário Michaelis, um dos significados de mudança é “modificação ou alteração de sentimentos, ideias ou atitudes”. Pode-se dizer que essa é uma das propostas da exposição e ação performativa Mudanças, da artista visual Monique Cavalcanti, a Gugie, que ocorre entre os dias 11 e 17 de março, em Florianópolis. As obras serão expostas no interior do baú de um caminhão de mudança, que ficará estacionado por cinco horas diárias, das 15h às 20h, a partir do dia 12, na rua Victor Meirelles, no Centro de Florianópolis. No dia 11, às 18h, a exposição será oficialmente aberta com uma conversa com a artista no Ponto. Bar & Piadina. O acesso é gratuito e por ordem de chegada.
Mudanças, composta por quatro pinturas, propõe uma vivência relacional com as obras instaladas dentro do caminhão, sem descaracterizar a aparência exterior do veículo. A ideia de expor as obras neste formato surgiu quando Gugie, em suas andanças e observações pela cidade, percebeu que há vários locais onde esse tipo de automóvel fica estacionado, às vezes durante dias, em uma espécie de autopropaganda – já que todos eles possuem grandes números de telefones e informações úteis pintados no baú.
“Chega a ser poético esse lugar de transportar mudanças. Comecei a pensar no caminhão como um espaço expositivo que pudesse provocar diferentes relações com as imagens, e que também fizesse parte da composição das obras. Arte relacional é sobre essa possibilidade de a gente se relacionar com as obras por meio de nossas próprias bagagens. As obras estarão ali, exatamente onde essas bagagens são transportadas. E eu vou estar trazendo as minhas bagagens pessoais por meio das pinturas”, explica Gugie.
O ponto de partida para a idealização da exposição foi a inquietação da artista, como mulher, negra e mãe, sobre quão problemático é o gostar de uma mulher. Gugie provoca as pessoas a repensarem a forma como elas veem esse ser humano que também é mulher. Nas quatro obras – Nascemos de alguém; Somos alguém; Somos história de alguém e Cuidamos de alguém – estão propostas de diálogo e reflexões para rever o papel social estabelecido para as mulheres.
As pinturas trazem representações de pessoas próximas à artista, como a filha Cássia e a avó Renilde, além de Alicia Kenobi, uma mestranda em biologia que também é uma mulher trans, e de uma imagem criada a partir de uma fotografia de um parto, feita pela fotógrafa Cris Odara, amiga de Gugie. Todas elas pretendem despertar no público um senso de reconhecimento – a partir de sua poética de “publicidade afetiva”, a artista convida a pensar sobre as múltiplas possibilidades de mulheres existirem e participarem na vida das pessoas.
“Há um tempo, comecei a trazer mulheres que eu admiro nas minhas obras, e eu chamei de publicidade como uma provocação sobre o fato da rua e dos muros serem mídias também. É a divulgação dos meus afetos”, complementa.
As obras de arte se completam a partir da interpretação e do sentimento despertado em cada pessoa que a observa. Com isso, a artista desafia o público a repensar suas próprias relações com mulheres:
“Esse ‘gostar’ de uma mulher é objetificando, controlando, matando, estereotipando e isso demonstra uma falta de entendimento sobre as mulheres nas nossas vidas, nas nossas histórias e nossa sociabilidade. A humanização das mulheres pede urgência”, finaliza.
Arte na rua faz parte da trajetória de Gugie
Não é a primeira vez que a artista expõe seus trabalhos nas ruas. Ela assina alguns dos murais presentes no Centro da Cidade, como aquele que homenageia Antonieta de Barros. Em setembro de 2020, também realizou a exposição Gestos, quando oito telas foram espalhadas por sete bairros da Capital. Com esse trabalho, ela abriu outro campo para além do mural em grande formato, e apresentou seu trabalho como uma exposição que é também uma ação performática.
Assim como em Mudanças, todas as obras de Gestos retratavam pessoas negras – temática presente com força no trabalho da artista. Por meio da publicidade afetiva, retratando pessoas comuns que fazem parte de sua vida, ela desperta sensibilidade, registra a presença e promove representatividade destes corpos nos espaços.
“Utilizo a rua como um acesso a esse lugar de se relacionar com as imagens. Quando eu coloco as obras nas ruas da cidade, a cidade complementa as minhas pinturas. Minhas obras são também o que as cercam em volta”, finaliza.
Mudanças tem curadoria de Juliana Crispe e produção de Sebastião Gaudêncio Branco. A proposta foi contemplada no Edital Aldir Blanc 2021 do Governo do Estado de SC por meio da Fundação Catarinense de Cultura.
Mudanças
De 11 a 17 de março, das 15h às 20h. No dia 11, a exposição abre às 18h com conversa com a artista no Ponto. Bar & Piadina, na rua Victor Meirelles, 138, Centro de Florianópolis. O caminhão ficará estacionado em frente ao bar.
Classificação indicativa: 18 anos. Menores de 18 anos devem ter autorização prévia, pois contém conteúdo sensível
Exposição acessível a pessoas com mobilidade reduzida.
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