Por Raul Fitipaldi, para Desacato.info
Ontem se completaram 11 anos da partida física do Comandante Hugo Rafael Chávez Frías. Para recuperar o significado que tem para mim essa figura imprescindível vou rejeitar a conversa sobre se era populista ou reformista. Em todo caso, Chávez era um pregador do povo e um homem disposto a mudar e, quando não for possível, aliviar as mazelas dos mais humildes. Mas, gostem ou não, tanto as direitas como as esquerdas, era um revolucionário. Tantos nas formas como nos fatos. Assim o senti e assim o estimo ainda hoje.
Aquele homem mestiço era e é um de nós. Filho parido pela nossa Pátria Grande sabia das nossas contas a cobrar do imperialismo norte-americano e os piratas da Europa. Ironia, poesia e paixão nunca faltaram nas palavras de um líder inesperado. Ganhou um milico berramos quando ganhou a primeira eleição. Foi-se embora um irmão choramos quando partiu.
De vez em quando humilhava um que outro monarca decadente. Outras vezes sentia o cheiro de enxofre no púlpito da ONU onde antes tinha falado o presidente estadunidense de turno. Falava bonito para o povo e falava duro para o inimigo de classe. Desafogava das moídas costas do homem e da mulher que laboram a terra o peso da exploração de centúrias de dominação, e os levava até seu verdadeiro lugar de cidadãos capazes de decidir o futuro da Venezuela bolivariana. Recolhia da história a força luminosa da Pacha Mama nos olhos iluminados dos povos originários. As mulheres com Chávez foram assumindo sua liderança preterida nas comunidades e na rua. O Comandante dançava com seu povo preto e com sua grave voz negra falava para cada um quando falava para todos.
Talvez nenhuma liderança latino-americana tenha resumido de forma tão eloquente no seu proceder Artigas, Zumbi, Eloy Alfaro, Zumbi, Morazán, San Martín e Zapata. E nenhum foi capaz de aglutinar os líderes do seu tempo, Néstor e Cristina Kirchner, Evo Morales, Fernando Lugo, Lula, Pepe Mujica, Mel Zelaya, como o fez Hugo Chávez. O Comandante os somava e os sintetizava.
El Hugo, carinhosamente o chamávamos nas conversas políticas de casa. Sem ter estado com ele presencialmente, sabíamos que era nosso e morava conosco e com milhões de homens e mulheres esperançados. Chávez era a palavra dominical esperada do Alô Presidente, era o discurso potente que falava de nós e para nós, e nos fazia sonhar com Outro Mundo Possível e Urgente.
Quando foi embora, choramos ao telefone ao receber a notícia e começamos a pensar como, humildemente, homenageá-lo. Um dia adoptando um cachorrinho de rua com 10 dias de vida, chegou a hora de fazê-lo. De alguma forma El Hugo está materializado em casa, tem voz grave, late forte e quando chega o momento defende seu território como ninguém. Também saber ser amoroso e companheiro.
Uma menção aqui a uma colega chavista que agora, a cada março, duplicará suas amorosas saudades. Digo da Elaine Tavares que perdeu seu papai dias atrás. Mas calma Elaine, com tu és cristã e nutres a esperança que vem da tua mestiça e generosa luta, sabes que teu pai, como bom narrador que era, está de papo eterno com o Comandante, semeando o futuro da Abya Yala.
