Familiares de Bárbara Querino, Marcelo Dias e Igor Barcelos realizaram uma marcha, nesta quinta-feira (13), no centro de São Paulo, pela liberdade dos jovens negros presos com acusações frágeis. Apesar do sentimento de injustiça, as mães afirmam que, em meio à luta, o apoio traz conforto e um ‘sopro de esperança’.
Fernanda Querino, mãe de Bárbara, conta que se sentia sozinha antes se reunir com as outras famílias. “Agora, que estou ao lado das outras mães, me sinto mais forte”, diz ela, e acrescenta que a energia chegou à filha. “Ela achava que estava esquecida lá dentro, mas viu que não. Agora está confiante de que a justiça vai acontecer”, relata.
Gritando por justiça, cerca de 200 pessoas participaram da passeata que saiu do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) e seguiu até o Ministério Público (MP-SP) da capital. Entre os manifestantes, diversos coletivos negros e movimentos sociais estiveram presentes. Não houve repressão por parte da Polícia Militar.
Mayara Vieira, administradora da página Todos Por Babiy e amiga da jovem, explica que a ideia é unir todos os apoiadores e mostrar que as famílias querem ser ouvidas. “Juntar os coletivos e as famílias dá um conforto e mostra união, além de provar que não estamos sozinhos na luta”, diz ela.
Apesar de apresentar seu álibi provando que estava fora da cidade no dia do crime de que é acusada, Bárbara foi condenada a cinco anos e quatro meses de prisão. A principal prova contra ela é um testemunho, na qual a vítima diz que o “cabelo era parecido” com a da assaltante. “Se essa é a prova, aqui no ato, quase todas as mulheres poderiam ser reconhecidas”, critica Beatriz Lourenço, advogada e militante da Uneafro.
O caso é semelhante ao de Igor Barcelos, condenado, em 2016, a 15 anos e seis meses de prisão, acusado de roubar um carro. Porém, no mesmo dia, o jovem foi hospitalizado após ser baleado enquanto estava parado no semáforo. Câmaras de vigilância filmaram o momento e comprovam que Igor estava a 14 quilômetros de distância do crime.
Sua mãe, Elisebete Barcelos, diz não entender o motivo de a Justiça desconsiderar as provas e lamenta a “falta de vontade” por parte de quem o incriminou. “Eles desconsideraram as provas porque não fazem o serviço corretamente. Os policiais não enviaram um perito para o local em que meu filho foi baleado para comprovar que ele estava lá”, lamenta ela, que não vê o filho há quatro meses por falta de dinheiro.
Já Marcelo Dias ainda aguarda julgamento. Ele é acusado de formação de quadrilha e tráfico de drogas por estar próximo à cena de um crime, depois de sair de uma ONG que dirige. Sem provas, a única acusação é a palavra dos policiais que realizaram a prisão.
Segundo sua mãe, Rosângela Donizete Dias, desde a prisão, em julho deste ano, o jovem apresenta problemas de saúde por conta do cárcere insalubre. “O Marcelo ficou debilitado no começo. A imunidade dele caiu lá e pegou algumas doenças. Nesta semana, nasceu um furúnculo no corpo dele. São coisas que estão acontecendo lá. Por outro lado, ele está ensinando alguns presos a escrever”, conta.
Antes de sair em marcha, as mães entregaram um abaixo-assinado ao TJ-SP e ao MP-SP solicitando uma audiência pública. Segundo Beatriz, o documento reforça o caráter coletivo do ato. “Nós pedimos uma audiência pública para discutir com membros do Judiciário a seletividade penal. Há dados que apontam um encarceramento da população negra, então queremos aprofundar essa discussão. As pessoas que questionam o racismo do Bolsonaro precisam também olhar para o racismo do Judiciário”, afirma a advogada.