Eles estão matando as criancinhas!

Foto: Centro de Documentação indígena.

Por Roberto Liebgott/CIMI Sul.

As mães choram desesperadas,
Mais um surto de morte,
Não haviam sequer esquecido o anterior,
Mas este parece derradeiro,
As forças estão se esvaindo.

De um lado os garimpeiros,
De outros exploradores vorazes,
Que consomem a terra e as florestas.
E há aqueles que deveriam estar lá e não irão,
Os médicos, enfermeiros, os fiscais e a justiça.

Os que chegaram abusam, violentam, torturam,
Contaminam os corpos e as águas,
Dragam a areia e as pessoas,
Atiram com balas de fogo,
E matam sem piedade.

Os que deveriam ir
assistem de longe,
Não há nem compaixão,
Uma omissão programática,
Não querem ver a dor do outro,
E perceber as lágrimas das mães sobre os pequenos corpos desvalidos.

Lágrimas de desespero,
Não há ninguém lá a não ser o tirano,
Os outros, que poderiam fazer o bem, ficarão de fora,
Faltam-lhes combustível para voar,
E coragem de lutar.

Matam-se os Yanomami hoje como matavam-se há três décadas,
Os mesmos algozes comandam o genocídio,
Anunciado, planejado
E executado diante de todos,
Dos meus olhos, dos seus, da sociedade e dos juízes.

Não havia segredo, tudo premeditado,
E agora estão lá promovendo a tirania, dizimando vidas,
Atendendo ao propósito de liberalizar o território de um povo
E dele explorar riquezas.

A morte do outro,
Das crianças Yanomami,
Daquelas que se denunciam,
Já não mais sensibilizam,
Naturalizou-se a violência contra os povos indígenas.

Não afeta, não comove,
Nem mobiliza os outros,
Não desperta revolta,
Há uma sensação de conformismo,
É nesse vazio que a desumanidade se potencializa.

Os Yanomami permanecem segurando o Céu,
Sob a neblina da destruição,
Onde as mães acolhem os filhos adormecidos pela febre,
Choram sobre eles
E também morrem com eles.

Até quando?

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