Por Carmem Rodrigues Chaves1
Vagner Luciano Coelho de Lima Andrade.
Quando se entende a etimologia da palavra ecologia, estudo da casa, pressupõe-se um estudo, essencialmente histórico. Ecologia humana é a relação homem-natureza, com destaque para as respostas adaptativas, dentro de condições materiais-ecológicas. E dentro da ecologia humana, honra-nos, historicamente falar sobre a africanidade e as mulheres.
Quando se confabula sobre gênero e minorias, enfatiza-se que a mulher negra é capaz, no âmbito geral da sociedade hegemonicamente branca, de ir até aonde ela quiser. Esse status advém de inúmeros movimentos para se transformar a realidade excludente, durante as últimas décadas.
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A imposição da sociedade majoritariamente branca e machista é irreversível, basta lembrar que na virada do século XIX para o século XX, mulheres não votavam, o que é diferente de hoje. No caso, das mulheres negras, estas são mais vulneráveis pelos mais diferentes aspectos.
Pesquisas demonstram que o grupo social mais afetado pela carga tributária são as negras. Isso, porque a estrutura do sistema tributário funcionando na sua normalidade constituída, estabelece normas que condicionam desigualdades, colocando as mulheres negras, no final da pirâmide, pois elas recebem os menores salários e geralmente exercem as piores funções.
Esta questão socioeconômica, enuncia uma série de complexidades. As pessoas que ganham menos e consomem menos, formam uma cadeia. E se ganha pouco, morando num lugar de vulnerabilidade, o escasso cria tensões familiares, tornando as pessoas mais propícias a serem vitimadas pela violência.
Juntando esses fatores, consegue-se entender fatos assustadores. No ano de 2013, as violências contra mulheres brancas era de quase 9,8 %, porém, o índice de mulheres negras violadas/violentadas, aumentou 54%, sendo explicado como uma condição estrutural.
Então deve-se estabelecer uma relação estrutural entre baixo salário das mulheres negras e sua falta de representatividade. Elas ainda não conseguem se estabelecer, a ponto de tornarem-se pessoas ativas nas políticas públicas. E a busca por empoderamento, emancipação e protagonismo da mulher negra precisa mudar esta realidade.
O que chama de ideologia de gênero é bem peculiar, pois já existe esta temática. Estudar uma ideologia de gênero é buscar meios para se combater essa situação de exclusão e desigualdade. Os dados são alarmantes: que a cada 5 minutos, uma mulher é estuprada.
O problema é que, na maioria das vezes, essas violências são naturalizadas, prevalecendo no imaginário social que é natural, que é normal. Isso incomoda, quando se começa a desnaturalizar essas violências. Ainda hoje é uma barbárie, precisando emergencialmente, pensar novas formas de sensibilidade, com os/as militantes se colocando, no sentido de ampliar a visão, do que são de fato, as lutas políticas. Assim, as mulheres negras e a comunidade LGBTQIA+ lutam por uma sociedade mais justa e equânime.
As pessoas negras ainda não sabem procurar ajuda, sendo necessário criar estratégias para fortalecer o discurso de empoderamento, de emancipação e de protagonismo. Inibir o assédio e a violência, que a mulher negra sofre no ambiente público. Quando sai sozinha, tem que se preocupar e lidar com as agressões, criando uma couraça, lembrando que o lugar de proteção é em casa, com os familiares ao seu lado. Mas o lar, a casa, também tem o seu lado contraditório, sendo muitas vezes, o espaço da violação. Quando pensa-se que a maioria das violências domésticas, acontecem em casa, empreendidas por membros da própria família, algo está errado.
Não importa o que a mulher faça, qualquer situação, enquanto negra estará em perigo, numa tentativa de fazer com que a mesma se olhe e se perceba, enquanto um ser inferior. Ou seja, o panorama é: na rua estarás em perigo e em casa também estarás, mas quem poderás te ajudar?
Assim, um lugar onde se sinta verdadeiramente segura, as vezes, é uma quimera. Mesmo com lei Maria da Penha, tendo diminuído o número de assassinatos de mulheres, por outro lado, aumentou das mulheres negras, demonstrando assim falta de pensar, para além da lei, criando redes de apoio, para ir mais adiante na questão.
O punitivíssimo deve ocorrer, isso porque mulheres que após sofrerem agressões físicas e verbais, geralmente, não vão até a polícia, registrar queixa e pedir medidas protetivas. Isso prova que pensar somente, no aparato legal não é a saída, precisa-se de fato, que as mulheres negras continuem lutando, discutindo temas correlacionados na mídia, incentivando negras a não perderem tempo, para punir seus opressores e agressores.
Como o empoderamento, a emancipação e o protagonismo estão faltando em determinados lugares, deve-se seguir a militância no sistema da educação, enquanto não se consegue ter estratégias de início. Aprender sobre africanidades é o passo inicial para aprender a lutar por direitos. E aprender sobre aceitação, celebração, identidade, legitimidade.
Não existe causas separadas, pois tende se trabalhar arduamente por uma mudança sociocultural. É necessário emergencialmente discutir temas e dizer que tudo é necessário ser repensado. Refletir sobre outra sociedade, ajuizar o feminismo discorrendo sobre a questão, não apenas da mulher, mais ponderar outras formas de sociabilidade. A sociedade precisa deixar de ser transfóbica, ampliando o entendimento do que se entende como feminismo.
O feminismo ainda é uma tentativa de controle que passa no cotidiano quando pessoas brancas são evidenciadas e valorizadas. Isto tem que acabar! A mídia tem um poder absurdo, criando novas imagens de mulheres, numa bolha feminista com os mesmos estereótipos, sendo preciso cobrar dos meios de comunicação social, uma democratização das mídias, para as mulheres negras.
Uma tentativa societária de controle e enlouquecimento que é quando cobram a reprodução de um determinado modelo/perspectiva de beleza feminina. O próprio corpo se torna um produto, com milhares de adequações/readequações: depilação, química capilar, dieta, dentre outras imposições. Cobrar das mulheres, a feminilidade, como ela é reproduzida comercialmente é fútil e não deve ser reproduzido como legitimidade e identidade.
Essa estrutura e toda ordem social que a viabiliza, produz formas de controle, e, portanto, consolida-se em mais uma forma de violência. Absurdamente até parece que ser negra é uma coisa errada, com tentativas de mostrar que tudo está normal, e não está! Aceitar o feminismo como engajamento social, um conhecimento que liberta da bolha, que transpõe o muro que separa a sociedade é necessariamente emergencial.
Isso socioculturalmente tem que acabar. A insistência fará com que esse debate, um dia não tenha mais de ser discutido, e que e africanidade seja enfim, um exemplo de empoderamento, de emancipação e de protagonismo. Onde o direito afro-brasileiro de existir, não precise mais ser conquistado, mas que normalmente advenha com o dia do nascimento. E buscar uma feminilidade negra cheia de adornos, adereços, ancestralidade e poder.
Essa mudança precisa ser efetiva e romper com o passado opressor e macabro. Tem-se então, uma forma de acreditar que essas mudanças precisam se consolidar, evitando-se conjunturas drásticas como na gestão do último presidente (2019-2022, nos quais parte da coletividade e dos movimentos sociais conviveram direta e indiretamente com o medo e os retrocessos.
1 Graduada em Arte-Educação pela Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG, Especialista em Educação Especial e Inclusiva. Licenciada em Letras, com habilitação em LIBRAS, Especialista em LIBRAS. Bacharel em Letras, com habilitação em LIBRAS, Especialista em Docência em LIBRAS e Tradução em LIBRAS. Especialista em Gestão Escolar e Mestranda em Ciência da Educação. E-mail: [email protected]
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