É preciso afastar a Europa do abismo

Por Martin Schulz.

Os Estados Unidos contraíram uma “gripe econômica grave e altamente contagiosa” em 2007, e sua recuperação só começou a mostrar alguma consistência oito anos depois. E a retomada mostrou tanta força que, pela primeira vez em quase dez anos, o Federal Reserve (o Banco Central do país) iniciou o processo de ajuste da taxa de juros. Na Europa, por outro lado, o quadro ainda preocupa devido a uma série de crises vivenciadas no período pós-2008.

“A melhor defesa contra os agentes patogênicos é um forte sistema imunológico. E é isso que atualmente faz falta à Europa, sob a forma de líderes políticos que ofereçam uma visão inspiradora e progressista aos seus cidadãos”, diz o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, em artigo publicado no site Project Syndicate. “Com níveis de descontentamento em relação à política não observados desde os tempos mais negros do continente na década de 1930, o risco de a Europa vir a sucumbir às forças destrutivas do populismo se torna cada vez maior”.

Apesar as preocupações, a autoridade diz que “ainda é muito cedo para abandonar a esperança”, uma vez que a Europa encontra-se bem posicionada para obter êxito no longo prazo. “Para garantir esse futuro, ao invés de se debater para fazer frente às crises que vão surgindo, a classe política da Europa deve começar a considerar o panorama mais vasto, antecipar e enfrentar os desafios e voltar a inspirar as pessoas”.

O representante do parlamento europeu diz que, em termos históricos, isso não é exagerado. “Há sessenta anos, quando a economia da Europa se recuperava da destruição causada pela Segunda Guerra Mundial, os líderes europeus olharam para além das dificuldades diárias enquanto moldavam um futuro mais esperançoso, com base numa integração europeia. É exatamente dessa visão e antecipação que necessitamos hoje, e a União Europeia, com a sua capacidade inigualável para facilitar a cooperação regional, continua a ser essencial”.

Schultz ressalta que existem diferenças “fundamentais” entre as circunstâncias que levaram à criação da União Europeia e as que os líderes da Europa enfrentam atualmente. “Em especial, é graças à União Europeia (UE) que os europeus de hoje, em geral, não sofreram guerras e privação econômica absoluta. Não tendo os perigos da demagogia incorporados nas suas memórias de vida, (os europeus de hoje) ficam muito mais vulneráveis a quem semeia medos e falsas promessas, refletidas na influência crescente das narrativas nacionalistas e dos movimentos populistas. Pior ainda, confrontados com a erosão da sua base eleitoral, muitos partidos tradicionais tentam acompanhar o passo destas forças destrutivas, fustigando-se a si mesmos na UE”.

O articulista afirma que a União Europeia precisa de um impulso capaz de refletir os desafios e oportunidades do século XXI, mas que isso será “praticamente impossível de se estabelecer (e de ser usado para inspirar os cidadãos até que a UE e seus Estados-Membros tenham controle sobre as crises que ameaçam oprimi-los”, o que aumenta a necessidade da região arrumar sua economia, o que não será rápido ou fácil. “Em especial porque vai nos obrigar a fazer face aos muitos problemas que foram varridos para debaixo do tapete ao longo dos anos, como os projetos mal amadurecidos cuja execução foi impingida à UE. O principal exemplo disto é a união econômica e monetária parcial que existe há quase duas décadas, e que agora precisa se tornar uma união plena, se quisermos que seja bem-sucedida e assegure resultados concretos”.

Fonte: Jornal GGN

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