Por Carlos Eduardo de Souza.
A questão geopolítica mais importante desse século continua sendo a disputa pelas reservas de petróleo. Se dermos um rápido giro pela conjuntura internacional, acharemos os nós que envolvem a temática energética e suas contradições. Vamos observar o que está acontecendo na Síria, os movimentos da China e da Rússia, por exemplo.
As novas matrizes energéticas ainda não se sobressaíram, como no caso do gás do xisto e demais fontes alternativas, como solar e eólica.
O que leva ao convencimento de vários especialistas da permanência do ciclo do petróleo para o desenvolvimento do capitalismo é a sana consumidora.
Na América Latina, nos últimos 20 anos, percebemos a ascensão de governos democrático-populares e de postura soberana, diferente de outros momentos.
O protagonismo da esquerda no Brasil, por exemplo, se deu a partir do posicionamento contra a onda neoliberal das privatizações e do Estado mínimo e na defesa de um projeto de defesa do patrimônio público, do Estado e de um nacional-desenvolvimentismo popular.
Em pouco tempo, esse projeto alcançou números e patamares invejáveis enquanto país em desenvolvimento. No caso da Petrobras, depois de recuperarmos todo o seu dinamismo após anos de desmantelamento na desastrosa Era FHC, encontramos o pré-sal, um marco na história da empresa e, por sua dimensão, um marco também entre as descobertas de reservas de petróleo no mundo.
Mais do que achar as reservas, foi garantida, por lei, a obrigatoriedade da Petrobras na participação mínima de 30% em todas as áreas do pré-sal e a criação de um fundo, a partir da exploração do pré-sal, que tem como prioridade a Educação e a Saúde. Alia-se a isso a nova diplomacia brasileira, que priorizou a preservação da soberania com bastante protagonismo, a exemplo dos Brics, bloco econômico formado pelo Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul.
Esse posicionamento brasileiro foi um golpe na lógica do mercado, da visão neoliberal e das multinacionais do petróleo.
A partir daí começa uma guerra sem tamanho pela mudança do destino do pré-sal.
A orquestração de todo ataque da já tradicional elite brasileira entreguista, desde partidos, grande mídia, partes do judiciário partidarizado, quando não em alguns momentos os militares, está marcado na história brasileira. Getúlio, Juscelino, Jango e agora Lula e Dilma têm semelhanças nesse contexto.
A sutil e sórdida campanha contra os governos do PT se acentuaram neste último período. Tal empreitada ganhou uma mãozinha com a forma dissimulada que a operação Lava-Jato tem sido construída: seletividade ao PT e suas figuras públicas, criação de imagem negativa de uma das maiores empresas de petróleo do mundo, com intuito de garantir a perda de legitimidade de um governo que recentemente tinha construído esse projeto.
A maior empresa brasileira, que corresponde a quase 10% do nosso PIB, que vinha promissoramente abocanhando fatias do mercado internacional do petróleo, não podia passar incólume aos interesses internacionais.
José Serra, um entreguista de primeira ordem, protagonista da privataria tucanaque quase destruiu o país na década de 1990, em 2010 foi denunciado pelo WikiLeaks, que evidenciou as relações do senador com a petroleira Chevron. A denúncia não abre espaço para dúvidas:
“Deixa esses caras [do PT] fazerem o que eles quiserem. As rodadas de licitações não vão acontecer, e aí nós vamos mostrar a todos que o modelo antigo funcionava… E nós mudaremos de volta”, disse Serra a Patricia Pradal, diretora de Desenvolvimento de Negócios e Relações com o Governo da petroleira norte-americana Chevron, segundo relato do telegrama.
O caso é que a Petrobras, que incrivelmente hoje possui reservas já garantidas de 14,5 bilhões de barris, não tem porque ter pressa para fazer novos leilões do pré-sal. Nesse caso, o regime de urgência para votar o projeto de Serra foi descabido e o governo jamais poderia capitular a chantagem de um entreguista como ele e ter feito acordo em cima de um substitutivo que manteve a essência do seu projeto.
Setores da oposição partidária, parte da sociedade civil reacionária e preconceituosa, pelos grandes veículos de comunicação, por uma parte de um judiciário e da Polícia Federal partidarizados começam a ter seus objetivos alcançados em uma crise política induzida e ampliada por esse conjunto de forças.
Vale lembrar que no ano passado, as ruas, num primeiro momento, foram tomadas pela turba reacionária e terminaram o ano com as ruas tomadas pelos setores mais progressistas. Não levar isso em conta é um grave erro. Ceder num momento como este é ter uma derrota em prestações.
Aos partidos e movimentos de esquerda cabe a sina da resistência cotidiana, o que exige não deixar as ruas e continuar pressionando o governo na defesa da nossa soberania e por um futuro menos entreguista. A vida é Dura.
Carlos Eduardo de Souza é formado em História pela UDESC e Especialista em Gestão Estratégica de Políticas Públicas pela UNICAMP.
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Fonte: Blog do Cadu.