Independentemente de quaisquer outros dados estatísticos mais macabros que possam ser apresentados, o fato é que, pelo menos nos últimos 80 anos, a humanidade não pôde sentir de modo tão realístico o horror da monstruosidade sendo praticada com uma sensação tão brutal e gritante como o que está sendo visto agora nas atrocidades dos sionistas israelenses contra a população civil palestina na Faixa de Gaza.
Não obstante o que acaba de ser mencionado, boa parte das autoridades políticas da Europa Ocidental parece carregar nas costas um enorme peso pelo complexo de culpa com relação a todos os crimes cometidos no século passado em seus países contra as comunidades judaicas que ali habitavam. Este fardo se mostra ainda mais pesado em razão dos horrores do nazismo nos anos que antecederam à II Guerra Mundial.
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A forma preferencial escolhida por essas autoridades europeias para aliviar seu sentimento de remorso pela maldade que seus antecessores inflingiram às comunidades judaicas foi a de conceder aos sionistas israelenses, a corrente política que pretende se arvorar em herdeira exclusiva de todo esse sofrimento causado pelo nazismo, total autonomia e total apoio para que eles possam lidar com o povo palestino com igual ou mais feroz perversidade do que aquela da qual muitos de seus antepassados tinham sido vítimas, na Alemanha e em outras partes da Europa.
Uma vez mais na história, estamos constatando como um pseudo-humanismo de dupla moral mostra sua habilidade em expiar a culpa pela gigantesca maldade por eles cometidas com o sangue de quem nada teve a ver com suas próprias desumanidades. Assim, os atuais representantes das classes dominantes alemãs podem dormir com a consciência mais tranquila ao saber que os descendentes dos judeus que eles massacraram no século passado na Europa podem agora ir à forra e agir de maneira semelhante contra a população nativa da Palestina.
Porém, é importante ressaltar que o tal sentimento de remorso e de culpa dos responsáveis pelo establishment alemão quanto aos crimes do nazismo parece ser bastante interesseiro e muito seletivo quanto a sua aplicabilidade. Primeiramente, faz-se necessário esclarecer que o nazismo não foi tão somente uma estrutura criada para exterminar judeus. Vários outros grupos humanos sofreram na carne a mesma sanha nazista. A numerosa população cigana presente na Europa daquele tempo, por exemplo, também foi drasticamente dizimada nos campos de extermínio e nos outros espaços de horror mantidos pelas bestas pardas alemãs. Os comunistas, os sindicalistas e os demais lutadores pelos direitos das classes trabalhadoras, desde sempre, eram alvos constantes e preferenciais das gangues hitleristas.
Além disso, quando levamos em consideração que o projeto elaborado pelos teóricos raciais do nazismo previa a exterminação da maior parte da população eslava da Europa e a escravização daquela que restasse, fica evidente que a perversidade do nazismo não se limitava exclusivamente a um grupo específico de seres humanos. A bem da verdade, o número de civis soviéticos assassinados pelas hordas hitleristas ultrapassou em mais de quatro vezes a totalidade dos judeus eliminados por essas mesmas forças do mal.
O que vai nos ficando cada vez mais evidente é que o tal sentimento de remorso e complexo de culpa da elite socioeconômica alemã tem servido muito mais como um pretexto para aplacar possíveis objeções de parte de sua própria população diante da revelação de tantas atrocidades que os sionistas israelenses vêm praticando contra a população civil palestina, principalmente contra crianças e mulheres, que representam mais de 70% das quase 35.000 vítimas fatais das agressões das forças militares sionistas do Estado de Israel.
É que, desde seu surgimento, o movimento sionista de colonização da Palestina se alinhou integralmente com os propósitos do imperialismo em seus esforços por garantir a hegemonia do capitalismo ocidental em todo o planeta. E, quanto a isto, o Estado de Israel desempenha um papel de suma relevância para garantir que os objetivos de dominação ocidental consigam se impor.
Por isso, embora seja uma ideologia supremacista e racista com muita semelhança com o nazismo, o sionismo goza de total tolerância no seio das classes dominantes dos países centrais do capitalismo. Entretanto, nunca deveríamos nos esquecer de que ser sionista e ser judeu são coisas inteiramente diferentes. Tanto assim que, na atualidade, na linha de frente do combate ao sionismo, em todas as partes, inclusive aqui no Brasil, vamos encontrar figuras destacadas de ascendência judaica. E, convém deixar evidente, são essas figuras de origem judaica as mais odiadas pelos próceres do sionismo israelense, uma vez que, com sua existência, elas fazem ruir toda a descarada tentativa de parte dos sionistas de equiparar toda e qualquer objeção ao sionismo como um ato de antissemitismo.
Os judeus e judias antissionistas revelam para o mundo toda a podridão inerente à ideologia política ultrarreacionária e racista do sionismo. Em vista disto, jamais devemos admitir que aqueles que cultuam a ideologia mais racista de nosso tempo possam dar-nos lições de moral e tachar-nos de antissemitas por nos opormos à maldade que eles exercem contra seres mais debilitados. Portanto, podemos dizer que, sem sombra de dúvidas, o sionismo é uma das mais nefastas ideologias políticas existentes na atualidade. Mas isto de maneira nenhuma implica em que todo e qualquer judeu deva ser necessariamente associado a esta nefasta ideologia.
Em relação com a duplicidade moral com que as classes dominantes alemãs encaram esta questão, queremos recomendar que assistam ao vídeo do enlace dado a continuação.
Acreditamos que ele seja muito elucidativo quanto ao tema que procuramos abordar nesta oportunidade.
Jair de Souza é economista formado pela UFRJ; mestre em linguística também pela UFRJ.
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