Documentário: a violenta realidade dos partos no Brasil

    parto-humanizado-brasil1Por Xandra Stefanel.

    “Até pouco tempo atrás, o amor era assunto para poetas, filósofos e romancistas. Mas hoje em dia, também é estudado por cientistas. Hoje podemos entender que a capacidade de amar é, em grande parte, organizada e construída durante o período em torno do nascimento.” A constatação é do cientista francês Michel Odent no documentário O Renascimento do Parto, que estreia nesta sexta-feira (9) nos cinemas de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e outras 17 cidades.

    O filme dirigido por Eduardo Chauvet, com pesquisa e roteiro de Érica Paula, é um retrato da realidade obstétrica no Brasil e no mundo por meio de entrevistas com médicos, obstetras, doulas e pais que viveram os mais diversos tipos de situação na hora do nascimento dos filhos.

    No Brasil, o panorama é alarmante: 50% dos partos são cesarianas, podendo chegar a 90% em alguns hospitais da rede privada. Número bem distante do máximo de 10% a 15% recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS)

    Um dos questionamentos que o filme propõe é: o que será do futuro da humanidade se as pessoas continuarem nascendo sem a ocitocina? Há estudos que afirmam que os chamados “hormônios do amor”, liberados apenas em condições específicas de trabalho de parto, são importantes não apenas para conduzir naturalmente a fisiologia do parto, mas também para consolidar o vínculo entre mãe e bebê, o que influi na capacidade deste de amar.

    O Renascimento do Parto não questiona, porém, a importância da cesariana que, quando indicada corretamente, é responsável por salvar vidas de mães e filhos. A crítica diz respeito ao número excessivo de cesarianas ou partos feitos com intervenções traumáticas e desnecessárias, especialmente em nome de interesses econômicos – o famoso “tempo é dinheiro” na “linha de produção” de médicos e hospitais.

    Assista abaixo à reportagem da TVT sobre o filme e o tema

    Outro tema abordado é o protagonismo cada vez menor das mulheres. “O médico, homem, tornou-se o ator principal do parto. O produto desse nascimento é o bebê e a mulher é o subproduto, secundário. Para o surgimento do modelo obstétrico contemporâneo, era fundamental que se criasse a ideia de que as mulheres são essencialmente incompetentes e incapazes de dar conta do processo de nascimento por si mesmas”, afirma o obstetra Ricardo Jones.

    O ator Marcio Garcia e sua mulher Andréa Santa Rosa contam as suas dolorosas experiências nos partos de cesariana dos dois primeiros filhos e a alegria de verem Felipe, o terceiro, vir ao mundo por meio do parto normal domiciliar. Também participam do filme a antropóloga norte-americana Robbie Davis-Floyd e a parteira mexicana Naoli Vivaner.

    Apesar (ou talvez em consequência) do número sem precedentes de intervenções cirúrgicas desnecessárias na hora do nascimento, o documentário mostra o “movimento de retorno”, ou seja, as casas de parto incentivadas pelo governo, a criação de suítes de parto normal pela iniciativa privada e o aumento dos partos domiciliares acompanhados por parteiras treinadas e com formação acadêmica.

    O casal Eduardo Chauvet e Érica Paula consegue equilíbrio entre a emoção e a informação médica pura e simples. É tão aflitivo assistir na tela grande a uma episiotomia (corte na região entre a vagina e o ânus) quanto emocionante ver nascer com os bebês os laços afetivos entre mães e filhos.

    O filme selecionado pelo Los Angeles Brazilian Film Festival e pelo DocBrasil Festival China deste ano foi feito com recursos dos próprios realizadores e com mais de R$ 142 mil, fruto do maior financiamento coletivo no Brasil feito até hoje.

    Fonte:http://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/08/documentario-a-violenta-realidade-dos-partos-no-brasil.html

    1 COMENTÁRIO

    1. Para auxiliar na formação do raciocinio lógico, gostaria dos seguintes números:

      – Qual a porcentagem de partos de cesárea que dão errado em relação ao total de partos por cesárea?
      – Qual a porcentagem de partos naturais/normais que dão errado em relaçao ao total de partos normais/naturais.

      Será que não estamos exagerando ao condenar este ou aquele tipo de parto?

    Deixe um comentário para Fernanda Cancelar resposta

    Please enter your comment!
    Please enter your name here

    Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.