Treze candidatos transexuais concorrerão a cargos de deputado federal, estadual e ao Senado nas próximas eleições, segundo dados coletados pela Aliança Nacional LGBTI+, uma ONG de defesa dos direitos humanos e cidadania da comunidade LGBTI+. É mais que o dobro de 2014, quando apenas seis pessoas trans se candidataram. O prazo para registro das candidaturas acabou na quarta-feira 15 e os dados ainda estão em consolidação, por isso podem mudar nos próximos dias.
Há quatro anos, nas últimas eleições para os legislativos federal e estadual, apenas quatro mulheres trans disputaram as vagas de deputada estadual. Dessa vez, nove delas se inscreveram – a maioria pelo Rio de Janeiro (4) e São Paulo (2). As outras duas concorrem pelo Distrito Federal e Paraná. Além delas, Cristian Lins, homem trans, também se inscreveu na disputa pelo PT-RJ.
Em relação às candidatas para a Câmara dos Deputados, o número cresceu menos. Três mulheres trans se candidataram ao cargo de deputada federal, uma a mais do que nas eleições anteriores – pelos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná.
Na disputa pelo Senado, Duda Salabert, do PSOL-MG, é a primeira mulher trans a disputar o cargo. Aos 36 anos, a professora luta pela igualdade de gênero e pela educação. E preside a ONG Tranvest, um espaço educativo com palestras sobre cultura LGBT, oficinas, supletivo, e cursos pré-vestibular, de libras e de idiomas.
Outros 25 candidatos e candidatas assumidamente gays e lésbicas ou bissexuais, todos cisgêneros, também confirmaram candidatura nas eleições de 2018, entre candidatos aos legislativos federal e estadual – mesmo número de inscrições de 2014. Desse total, 16 disputam o cargo de deputado estadual e outros 9 concorrem ao Legislativo Federal.
Luciana de Oliveira Dantas é a única candidata a se identificar como não-binária. Ela concorre à vaga de deputada estadual pelo PPS do Rio de Janeiro.
Representatividade
Todos esses candidatos, com exceção de Duda Salabert, preencheram seus dados na plataforma Eleições 2018 – Promoção da Cidadania LGBTI+, da ONG. Isso quer dizer que todos assinaram o Termo de Compromisso da Aliança Nacional LGBTI+.
“Candidatas e candidatos que não aderirem à Plataforma Mínima não entram na lista. É preciso estar de acordo com as propostas, no legislativo e executivo, pelos direitos LGBTI+”, explica Humberto Souza, coordenador de comunicação. “Fernando Holiday, por exemplo, mesmo sendo gay não entra nessa lista – a não ser que concorde com a plataforma mínima. É também um levantamento de candidaturas de compromisso com pautas LGBTI+”, conclui.
Entre as propostas, o grupo pede aos candidatos a deputado federal para propor e defender projetos de lei com cotas para pessoas transexuais e traveis em concursos públicos e criação de bolsas de estudos em escolas e universidades públicas. Em todos os cargos, a ONG pede o fortalecimento de um estado laico e apoio ao Estatuto da Diversidade Sexual, proposto pela OAB.
Não foram só candidatos da comunidade LGBTI+ que concordaram e firmaram compromisso com a população LGBTI. Outros 26 candidatos, entre eles os presidenciáveis Guilherme Boulos, do PSOL, e Ciro Gomes, do PDT, também assinaram o termo.
A expectativa da ONG é que o número de adesões cresça nas próximas semanas. De acordo com Toni Reis, diretor presidente da Aliança Nacional LGBTI+, outros candidatos ainda devem assinar o termo. “Hoje é o primeiro dia de lançamento oficial da plataforma. Devemos ter cerca de 300 candidatos, entre aliados e LGBTIs, com compromisso firmado. Acreditamos que o Lula assine, já que a Manuela havia assinado antes. E a Marina Silva também, por ter propostas favoráveis em seu programa de governo”, explica.
A luta por assinaturas e as candidaturas de LGBTI dão um sinal claro da busca por representatividade. Estima-se que existam nove milhões de LGTBI+ no Brasil. E apenas Jean Wyllys, deputado federal, ocupa uma cadeira na Câmara de Brasília. Enquanto isso, pautas polêmicas assombram os direitos LGBTs, como o PL da Cura Gay, ou o Estatuto da Família, ou a Escola Sem Partido.
A população gay sofre cada vez mais com a violência e o preconceito. No ano passado, o Grupo Gay da Bahia, que levanta os dados de crimes motivados por homofobia há 38 anos, registrou recorde de assassinatos. No total, 445 lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais perderam a vida em crimes homofóbicos. Ou seja, registraram uma vítima a cada 19 horas em 2017.
Não à toa, a última edição da Parada do Orgulho LGBTI+ trouxe o tema “Poder pra LGBTI+, Nosso voto, nossa voz”. “Queremos que nessas, e nas próximas eleições, nossas vozes sejam ouvidas nas urnas e fora delas, e que nossos votos nos representem de fato. É hora de nos juntarmos a outros grupos minorizados e minoritários e elegermos a nós mesmos e às pessoas aliadas”, declarou, em nota, a APOLGBT, organização responsável pela organização do evento.