Dobra o número de candidatos trans para o Legislativo

Treze transexuais confirmaram suas candidaturas à Aliança Nacional LGBTI+. Expectativa é que o número cresça nos próximos dias com o fim do prazo do TSE.

Foto: Paulo Pinto

Treze candidatos transexuais concorrerão a cargos de deputado federal, estadual e ao Senado nas próximas eleições, segundo dados coletados pela Aliança Nacional LGBTI+, uma ONG de defesa dos direitos humanos e cidadania da comunidade LGBTI+. É mais que o dobro de 2014, quando apenas seis pessoas trans se candidataram. O prazo para registro das candidaturas acabou na quarta-feira 15 e os dados ainda estão em consolidação, por isso podem mudar nos próximos dias.

Há quatro anos, nas últimas eleições para os legislativos federal e estadual, apenas quatro mulheres trans disputaram as vagas de deputada estadual. Dessa vez, nove delas se inscreveram – a maioria pelo Rio de Janeiro (4) e São Paulo (2). As outras duas concorrem pelo Distrito Federal e Paraná. Além delas, Cristian Lins, homem trans, também se inscreveu na disputa pelo PT-RJ.

Em relação às candidatas para a Câmara dos Deputados, o número cresceu menos. Três mulheres trans se candidataram ao cargo de deputada federal, uma a mais do que nas eleições anteriores – pelos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná.

Na disputa pelo Senado, Duda Salabert, do PSOL-MG, é a primeira mulher trans a disputar o cargo. Aos 36 anos, a professora luta pela igualdade de gênero e pela educação. E preside a ONG Tranvest, um espaço educativo com palestras sobre cultura LGBT, oficinas, supletivo, e cursos pré-vestibular, de libras e de idiomas.

Outros 25 candidatos e candidatas assumidamente gays e lésbicas ou bissexuais, todos cisgêneros, também confirmaram candidatura nas eleições de 2018, entre candidatos aos legislativos federal e estadual – mesmo número de inscrições de 2014. Desse total, 16 disputam o cargo de deputado estadual e outros 9 concorrem ao Legislativo Federal.

Luciana de Oliveira Dantas é a única candidata a se identificar como não-binária. Ela concorre à vaga de deputada estadual pelo PPS do Rio de Janeiro.

Representatividade

Todos esses candidatos, com exceção de Duda Salabert, preencheram seus dados na plataforma Eleições 2018 – Promoção da Cidadania LGBTI+, da ONG. Isso quer dizer que todos assinaram o Termo de Compromisso da Aliança Nacional LGBTI+.

“Candidatas e candidatos que não aderirem à Plataforma Mínima não entram na lista. É preciso estar de acordo com as propostas, no legislativo e executivo, pelos direitos LGBTI+”, explica Humberto Souza, coordenador de comunicação. “Fernando Holiday, por exemplo, mesmo sendo gay não entra nessa lista – a não ser que concorde com a plataforma mínima. É também um levantamento de candidaturas de compromisso com pautas LGBTI+”, conclui.

Entre as propostas, o grupo pede aos candidatos a deputado federal para propor e defender projetos de lei com cotas para pessoas transexuais e traveis em concursos públicos e criação de bolsas de estudos em escolas e universidades públicas.  Em todos os cargos, a ONG pede o fortalecimento de um estado laico e apoio ao Estatuto da Diversidade Sexual, proposto pela OAB.

Não foram só candidatos da comunidade LGBTI+ que concordaram e firmaram compromisso com a população LGBTI. Outros 26 candidatos, entre eles os presidenciáveis Guilherme Boulos, do PSOL, e Ciro Gomes, do PDT, também assinaram o termo.

A expectativa da ONG é que o número de adesões cresça nas próximas semanas. De acordo com Toni Reis, diretor presidente da Aliança Nacional LGBTI+, outros candidatos ainda devem assinar o termo. “Hoje é o primeiro dia de lançamento oficial da plataforma. Devemos ter cerca de 300 candidatos, entre aliados e LGBTIs, com compromisso firmado. Acreditamos que o Lula assine, já que a Manuela havia assinado antes. E a Marina Silva também, por ter propostas favoráveis em seu programa de governo”, explica.

A luta por assinaturas e as candidaturas de LGBTI dão um sinal claro da busca por representatividade. Estima-se que existam nove milhões de LGTBI+ no Brasil. E apenas Jean Wyllys, deputado federal, ocupa uma cadeira na Câmara de Brasília. Enquanto isso, pautas polêmicas assombram os direitos LGBTs, como o PL da Cura Gay, ou o Estatuto da Família, ou a Escola Sem Partido.

A população gay sofre cada vez mais com a violência e o preconceito. No ano passado, o Grupo Gay da Bahia, que levanta os dados de crimes motivados por homofobia há 38 anos, registrou recorde de assassinatos. No total, 445 lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais perderam a vida em crimes homofóbicos. Ou seja, registraram uma vítima a cada 19 horas em 2017.

Não à toa, a última edição da Parada do Orgulho LGBTI+ trouxe o tema “Poder pra LGBTI+, Nosso voto, nossa voz”. “Queremos que nessas, e nas próximas eleições, nossas vozes sejam ouvidas nas urnas e fora delas, e que nossos votos nos representem de fato. É hora de nos juntarmos a outros grupos minorizados e minoritários e elegermos a nós mesmos e às pessoas aliadas”, declarou, em nota, a APOLGBT, organização responsável pela organização do evento.

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here


This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.