Por Marco Vasques, para Desacato.info.
No dia 18 de março a coluna Arte e Existência recebeu a Dionisos Teatro, de Joinville, para um bate papo sobre Das Coisas que Guardamos, novo trabalho da companhia, e sobre o impacto da pandemia na criação, na dinâmica e na relação do grupo. A Dionisos Teatro foi fundada em 1997, sua área é a de produção cultural e de arte-educação com atuação em Santa Catarina, Brasil e América Latina. O grupo é composto por Silvestre Ferreira, fundador e diretor artístico e pelas atrizes e atores Clarice Steil Siewert, Andrea Rocha, Eduardo Campos e Vinícius Ferreira.
Em 2020 o grupo se desfez de sua sede própria e reduziu sua dinâmica de trabalho por conta da pandemia. Ainda assim, conseguiu realizar a montagem, via edital provido pela FUNARTE, do novo trabalho Das Coisas que Guardamos. Para Silvestre Ferreira se trata “de um momento crucial para o grupo, pois tivemos que fazer escolhas do que teríamos que ficar e as coisas que realmente necessitaríamos guardar para o futuro. Mexer em objetos, figurinos, cenários, enfim, mergulhar na memória do grupo foi algo dolorido pelo momento, mas também muito importante para o grupo, pois sabemos que não teríamos espaço para guardar tudo. A vida nos veio aos olhos com aquela cruel afirmação: nem tudo cabe na vida!”
O material do grupo, hoje, se encontra numa garagem adaptada para receber o material na casa de Ferreira. Sobre a montagem e a nova exigência artística de se fazer um trabalho específico para ser veiculado pela internet a atriz Clarice Steil Siewert reflete: “Em verdade não sabemos direito como nomear. Talvez no momento o que menos se precise seja nomear. Na história da arte a ato sempre vem primeiro, depois a nomeação, a crítica, a teoria. Diferente do que se pensa é a prática artística que faz com que a teoria seja erguida e pensada. Sempre foi assim. Sem a tragédias Aristóteles não teria escrito A Poética, certo? Talvez o mais importante nesse momento seja estudar meios e técnicas que possibilitem que continuemos a trabalhar. Contudo, no novo ápice da pandemia, tudo vai ficando mais difícil.”
Silvestre Ferreira é uma referência no teatro feito em Santa Catarina. Em Joinville, cidade em que atua desde sempre, é responsável pela formação de grupos teatrais, pela formação de atores, atrizes, diretores e escritores. Diretor de teatro, professor, ator e arte-educador se costuma dizer que ele desenvolveu como método uma pedagogia do amor, capaz de abrigar dentro dos saberes pessoas dos mais diferentes contextos sociais e formações culturais. Ele se disse um pouco cansado com o bombardeio que a criação pela internet provocou, contudo, alerta que não fosse esse dispositivo, não nos conversaríamos, não nos veríamos e não teríamos condições de continuar, ainda que de modo instável e precário, a fazer arte.
Clarice ressalta o impacto da pandemia nas relações pessoais do grupo, pois a Dionisos Teatro é uma companhia profissional de teatro, isso implica dizer que vive exclusivamente das artes cênicas por meio de suas montagens, oficinas e palestras. O grupo possuía uma dinâmica de vivência, diz a atriz, pois estávamos sempre juntos, almoçávamos juntos praticamente todos os dias. A interrupção dos encontros tem impacto no físico, no psicológico e também no desempenho poético e estético.
Sobre o trabalho As Coisas que Guardamos, o grupo traz suas memórias e objetos, mas não apenas, pois a dramaturgia é construída a partir de pedaços, de cenas captadas de montagens anteriores. A memória da história do grupo se entrelaça e ressurge nesse trabalho híbrido destinado à fruição virtual.
A coluna eletrônica Arte e Existência vai ao ar, ao vivo, todas as quintas-feiras, às 10h e 25 min e está sob responsabilidade do poeta, crítico de teatro e editor do Caixa de Pont[o] – jornal brasileiro de teatro Marco Vasques dentro do JTT- A Manhã com Dignidade. O público pode acompanhar essa e outras colunas, de segunda a quinta, nas mídias sociais do Portal Desacato.
Assista à entrevista a partir do minuto 29:26
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