Texto e foto: Maurício Santos.
Vários centros culturais do Brasil celebram este mês o aniversário de uma das maiores escritoras de todos os tempos: Clarice Lispector. Em SP, a atriz Beth Goulart deu vida à autora em “Simplesmente Clarice” – sensível adaptação de importantes obras. Mas Santa Catarina não ficou de fora. O diretor Teatral João Batista Mendes revela nesta entrevista, como surgiu a inspiração para trazer aos palcos de Balneário Camboriú, litoral do Estado, a poética sensibilidade de Clarice. No próximo dia 19, às 19h30, o Teatro Municipal Bruno Nitz apresenta “As Clarices de Clarice”.
1- Nome completo: João Batista Mendes
A Cia. Tablado das Artes nasceu no dia 19 de dezembro de 2015 com o propósito de ampliar seus conhecimentos no universo teatral e compartilhar estes conhecimentos com outras pessoas interessadas em estudar e se dedicar a arte de ator e a arte de representar. O professor e diretor João Mendes se une a seis jovens para colocar em prática uma sistematização de trabalho que ele vem desenvolvendo desde 1986. No segundo semestre deste ano montamos o espetáculo “Um Encontro com Clarice Lispector” – inspirado na obra “Um Sopro de Vida” da autora. O espetáculo foi muito bem recebido pelo público e a partir de então consagrou-se o nascimento da Cia Tablado das Artes visando legalizar e profissionalizar o nosso trabalho.
A Cia Tablado das Artes tem como missão produzir espetáculos com qualidade e promover a difusão do conhecimento artístico, em especial nas artes cênicas, por meio do ensino, da pesquisa e de aulas práticas, viabilizando assim, o exercício da cidadania no crescimento pleno do ser humano através da arte.
2- Como surgiu a ideia de produzir um espetáculo sobre Clarice Lispector?
Meu contato com Clarice Lispector se deu no ano de 1989 quando li sua obra “Um Sopro de Vida”. Ao ler esta obra nasceu um forte desejo de adaptá-la para o teatro. E assim realizei minha primeira montagem inspirada em “Um Sopro de Vida”. “As Clarices de Clarice” é minha terceira montagem inspirada nessa obra e também minha terceira versão cênica para expressar o universo de Clarice Lispector. E desta vez com sete mulheres em cena. Montar Clarice Lispector é sempre um grande desafio, pois cada vez que nos aprofundamos no universo que ela descreve percebemos que precisamos mergulhar na essência das palavras escritas, pois ela penetra no mais intimo dos personagens e nos leva a indagações e reflexões sobre nós mesmos e no mundo que nos cerca.
3- Como você observa o cenário teatral na região de Balneário Camboriú atualmente?
Eu vejo o cenário teatral na cidade de Balneário Camboriú com grandes possibilidades de crescimento no sentido de obras de qualidade e montagens mais ousadas e que leve para os palcos mais reflexões e provocações, pois temos artistas e produtores competentes para tal empreendimento. Da minha parte, através da Cia Tablado das Artes, estou proporcionando oportunidades de viabilizar este crescimento com montagens de obras sublimes e de grandes autores. Asim espero contribuir com o cenário teatral da cidade e do Brasil.
4- Quais os principais desafios para a arte em 2019, em tempos tão sombrios?
Os desafios da arte e, em especial o teatro que é onde eu desenvolvo minha arte, serão sempre os mesmos, ou seja, precisamos arregaçar as mangas e trabalhar para manter vivo a arte, o teatro, enfim… o artista precisa buscar inspirações em todos os sentidos e estar atento às mutações, pois tudo muda cada segundo e o artista com seu olhar para suas forças internas sempre terá alguma coisa pra dizer. No caso do teatro enquanto houver um ator e um espectador haverá teatro.
5- Fale um pouco (apresente) o espetáculo sobre Clarice, e a equipe:
A Montagem do espetáculo “As Clarices de Clarice” retrata as emoções e sensações que Clarice Lispector deixou fluir para o papel cada vez que escrevia, se transformando num sopro final, ou seja, num momento de libertação e desapego com o qual ela podia dizer o que sentia e da forma que sentia. Assim é a proposta de nosso espetáculo: viabilizar um exercício cênico que nos permita propor reflexões ao espectador sobre o nosso cotidiano e o mundo em que nos cerca. E com uma Estrutura Cênica que proporcione as atrizes buscar uma interpretatividade enriquecida pelas sensações do universo de Clarice Lispector com as quais possam se inspirar para criar suas performances objetivando um convite ao espectador para vivenciar esse maravilhoso encontro com a autora e seus ensinamentos. A obra de Clarice Lispector vem de encontro à necessidade de cada uma dizer o que sente e como pensa o mundo em que vivemos nesse universo de encontros e desencontros.
Ficha Técnica
Espetáculo Inspirado em Clarice Lispector
Produção: Cia Tablado das Artes
Adaptação e direção: João Mendes
Coreografias: Suzana Pavan
Participação: Núcleo de Alunos Sexta Noite
Elenco: Angélica Fernandes – Day Willain – Gracieli Lunkes – Mariana Trintini – Ninha Diehl – Suzana Pavan – Vitória Tremea