São Paulo – A base aliada do governo na Câmara dos Deputados decidiu não acolher a denúncia da Procuradoria-Geral da República, que pede a investigação do presidente Michel Temer por corrupção passiva. A votação do relatório do deputado Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG) defendendo o arquivamento ainda não terminou mas a oposição já não tem como alcançar os 342 votos necessários para que a denúncia fosse encaminhada ao STF.
Antes da declaração de voto de cada deputado individualmente, 24 líderes de partidos e blocos apresentaram a orientação de suas agremiações.
Orientaram pelo voto contrário ao relatório, e a favor da investigação de Temer: PT, PDT, PCdoB, Psol, Rede, PSB, PMB, PHS, além, curiosamente, do PSDB – já que o autor do relatório é um tucano.
Favoravelmente ao relatório pró-Temer, indicaram: PMDB, DEM, SD, PSD, PR, PSC, PEN, PP, Pode e PTdoB.
O comprometimento do PSDB com a causa governista foi acentuado por diversos deputados dos menores partidos, o chamado baixo clero, que tiveram atuação destacada na votação. A frase “Parabéns ao deputado Abi-Ackel pelo brilhante relatório” foi pronunciada insistentemente.
A conduta foi inversa à da votação pela abertura do processo de impeachment de Dilma Rousseff – no show de horrores promovido pela Câmara em 17 de abril do ano passado. Na ocasião, defendia-se o “sim” pela impeachment sem se entrar no mérito do processo, a acusação de crime de responsável fiscal inexistente, segundo pessoas sérias do meio jurídico e especializado em contas públicas.
Do mesmo modo, os votos em favor da permanência de Temer tiveram como argumentos da defesa da “estabilidade política e econômica” à “não venezualização” do Brasil. A necessidade de investigação de crimes de corrupção carregados de evidências não foi mencionada.
Oposicionistas também perderam a oportunidade de enfatizar as acusações de corrupção que pairam sobre Temer – apresentadas pelo procurador-geral Rodrigo Janot tendo como base acordo de delação premiada do dono dos frigoríficos JBS, Joelson Batista, que gravou, com autorização da Justiça, conversas comprometedoras com o presidente no Palácio do Jaburu. Ante a derrota iminente, muitos parlamentares favoráveis à investigação dedicaram seus 15 segundos de fala a atacar as políticas de Temer, como as reformas trabalhista e da Previdência.
Leia algumas frases dos parlamentares:
Mauro Pereira (PMDB-RS): “Pela continuidade da economia. Para que o Brasil entre nos trilhos. E mais um motivo justo, não fico do lado de PT, PCdoB, Rede e Psol. Fora PT, Fora Lula”
João Rodrigues (PSD-SC): “Contra o discurso baixo e sujo do PT e da esquerda, voto pelo brasil. Voto sim pelo relatório do PSDB”
Delegado Éder Mauro (PSD-PA): “Principalmente para que essa esquerda comunista pense em ressuscitar bandidos destruídos politicamente que querem destruir o país, inclusive com a destruição da família, voto sim”
Wladimir Costa (SD-PA): “Quero dizer abaixo o Ibope ridículo e mentiroso, abaixo à pesquisa do Datafolha que mente. Temer é um homem decente, preparado, honesto e transparente. Nós da base do governo vamos botar a oposição para chorar com a vitória de Michel Temer”
Sabino Castelo Branco (PTB-AM): ”Para tristeza de muitos e alegria de poucos estão querendo o fim de um Brasil melhor. Voto sim”
Heuler Cruvinel (PSD-GO): “Contra a esquerda comunista que quebrou o Brasil, voto sim com o relatório”
Magda Mofato (PR-GO): “Pela coragem de nosso presidente Michel Temer, voto sim”
Roberto Balestra (PP-GO): “Voto por Inhumas, por outras e por Goiás, sim”
Alberto Fraga (DEM-DF): “Para que o Brasil não se torne uma Venezuela que eles querem. Voto sim”
Laerte Bessa (PMDB-DF): “Vamos votar sim porque não aceitamos mais o PT na nossa vida”
Professor Victório Galli (PSC-MT): “Pela nossa liberdade religiosa e não implantação da ideologia de gênero nas escolas. E pelo nosso Mato Grosso, maior produtor de grãos, voto sim”
Baleia Rossi (PSDB-SP): “O povo brasileiro não quer a volta do PT. Voto pelo relatório do PSDB”
Marco Feliciano (PSC-SP): “Quem tem visão política não enxerga um momento e sim o futuro. Todos sabem que a queda do Temer seria a volta do PT e a volta da esquerda. Que as viúvas do PT chorem para lá”
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Fonte: RBA.