Por Tamajara Silva.*
Quando iniciei meu trabalho na Pastoral do Migrante de Florianópolis-SC imaginava previamente sobre o envolvimento profissional e pessoal que poderia ocorrer no atendimento aos imigrantes e refugiados na Grande Florianópolis. Contudo, talvez fosse difícil antecipar o nível de transformação individual e intelectual que provocaria.
As teorias que conhecia previamente ao desenvolver minha dissertação de mestrado sobre a problemática migratória na Argentina pareciam ruir frente à realidade que me confrontava. Esse envolvimento provocou uma mudança de visão de mundo e a compreensão do campo de estudo se aprofundou. Meu campo já não é aquele que vou pesquisar lá fora, distante, más é aonde devo atuar e decidir dia a dia aspectos que podem mudar substancialmente a vida dessas pessoas, que se encontram sob a condição de “migrantes”.
Nesse campo, aprendi que as ações marcadas pela: sutileza, espera, escuta, confiança, abalizaram e me permitiram estabelecer uma relação de empatia com os imigrantes e refugiados. Por isso, em cada crise de compreensão desse universo de ação tive que descobrir, na maioria das vezes de forma solitária, como deveria atuar, o que fazer, pois, nesse campo de trabalho não existe um instrutivo, um manual, assim como não há como prever quem irá bater na porta da Pastoral e que demanda irá trazer.
Neste universo, onde não existe um instrutivo, uma diretriz nacional, nem mesmo uma responsabilidade sobre quem, como, quando os atores institucionais devem atuar para ajudar a resolver a situação dessas pessoas; buscamos novas estratégias e procedimentos dia a dia para dar conta dos atendimentos.
Os desafios, cansaço, falta de estrutura e recursos financeiros se tornam obstáculos constantes, porém a certeza de que o trabalho humanitário é caminho para ajudar a tornar o mundo um pouco mais justo se torna o alicerce diário para seguir acreditando nesse sonho.
*Tamajara Silva é conselheira de Direitos Humanos da Caritas Regional Santa Catarina e integrante da Pastoral do Migrante de Florianópolis.
Publicado originalmente no LinkedIn.
Fonte: Migramundo.