Damiana do Apikai. Por Roberto Liebgott.

Por Roberto Liebgott, Cimi Sul – Equipe Porto Alegre.

Mulher única, uma pequena gigante, que Ñhanderu manteve na Terra Mãe, nas margens da rodovia, para ensinar a resistência, mesmo quando solitária.

Ela enfrentou usineiros, seus pistoleiros, seguranças privados – pessoas sem alma, sem compaixão – apesar deles mostrou que lutar não era opção, mas obrigação.

Gente ruim, invasores, predadores, incendiários, envenenadores dos mananciais hídricos e assassinos contumazes.

Eles permanecerão matando – mataram seu marido, filhos, nora, netos – levaram todos, se não pelas próprias mãos, o fizeram com ajuda de motoristas de caminhões, carros e camionetes.

Atropelaram e deixaram os corpos sobre o asfalto quente, de onde Damiana os recolheu, chorou sobre eles, depois os plantou no fundo de uma mata ciliar, pertinho do corrego, dentro de seu território originário – Apikai.

Damiana, dos barracos de lonas pretas, de restos de tábuas, no chão vermelho batido, de onde apenas olhava a área a ser demarcada, pois nela sequer podia pisar.

Tentou chamar a atenção das autoridades através das retomadas, no entanto a agrediram, agiram com violência física, ameaças, provocações e desprezos político-jurídico.

Damiana, pequena mulher gigante, aquela que não desistiu, enfrentou estruturas cruéis do poder econômico – alinhado aos governantes – por isso não demarcaram sua Terra Mãe.

Damiana do Apikai, tantos a visitaram em seus barracos, realizaram filmes, entrevistas, documentários, captaram suas palavras, sonhos, angústias, gritos de justiça e os transmititram ao mundo.

A Anistia Internacional, Survaivel, Caravanas de Cidadanias, Missões Religiosas, Ecumênicas, de Parlamentares, Entidades e Organismos Internacionais – todas e todos – a fotografaram, a ouviram, gravaram suas palavras, mas nada, absutamete nada, sensibilizou os governantes.

Damiana do Apikai, o Poder Público a deixou morrer na beira da estrada, onde sempre esteve depois de ser expulsa pelos brancos invasores, comedores de terra. Agora seu corpo será semeado naquele lugar onde os seus estão, os quais fez memória, venerou e cuidou durante anos.

Damiana, pequena mulher gigante, sua história é triste, mas bela, sua vida é ensinamento, seus desejos a certezas de que essa existência – passageira – é única, deve nos estimular a seguir lutando pela defesa da Mãe Terra – nosso dever de cada dia.

Vai em paz Damiana, pequena mulher gigante, da Tekoa Apikai, Povo Guarani Kaiowá, Mato Grosso do Sul.

Porto Alegre, 08 de novembro de 2023.

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