Cuba: um amigo histórico do povo palestino

Cuba mantém uma posição consistente com sua política histórica de apoio ao povo palestino e a uma solução pacífica

Presidente cubano Miguel Díaz-Canel ouve depoimento de estudantes palestinos que estudam em Cuba – Miguel Díaz-Canel Bermúdez/X

Por José Ernesto Novaez GuerreroPeoples Dispatch

A luta palestina contra a ocupação israelense ganhou nova relevância no cenário internacional após a escalada que começou em 7 de outubro. A brutalidade do ataque israelense, praticamente sem comparação com outras agressões anteriores, expôs o cinismo de muitas das grandes potências ocidentais, defensoras proclamadas dos “direitos humanos”, mas indolentes diante do genocídio que está sendo cometido diante de seus olhos por interesses geopolíticos calculados friamente.

Os esforços da mídia mainstream hoje visam apresentar os perpetradores como vítimas, demonizando a resistência palestina e tornando invisíveis ou diminuindo as ações de Israel. Neste longo conflito, é justo apontar a bela história de solidariedade entre os povos, que uma pequena ilha caribenha vem escrevendo há décadas. Cuba, a “terrível e desumana ditadura” que os principais cartéis de mídia corporativa insistem em retratar, tem sido e é um dos defensores mais fortes do povo palestino.

Fidel e a causa palestina 

Embora a Revolução Cubana tenha mostrado desde cedo sua solidariedade com o povo palestino, a figura de Fidel, sua compreensão do mundo árabe e os relacionamentos que ele elaborou com os principais líderes e movimentos de resistência nessa área geográfica foram fundamentais. De particular relevância é sua relação com Yasser Arafat, líder histórico da resistência palestina.

Em 12 de outubro de 1979, na qualidade de presidente do Movimento Não Alinhado (MNA), Fidel falou enfaticamente sobre o conflito israelense-palestino, com palavras que ainda são relevantes hoje:

“Do fundo de nossas almas, repudiamos com toda a nossa força a perseguição implacável e o genocídio que o nazismo desencadeou contra o povo judeu em seu tempo. Mas não consigo me lembrar de nada mais semelhante na nossa história contemporânea do que o despejo, a perseguição e o genocídio realizado hoje pelo imperialismo e pelo sionismo contra o povo palestino”.

Fidel Castro com o líder palestino Yasser Arafat em Cuba em dezembro de 1974 – Fundação Arafat

Em 1982, em diálogo com o líder palestino Yasser Arafat, Fidel comunicou a decisão de Cuba de receber 500 crianças palestinas para realizar seus estudos na nação antilhana. Isso marca o início de uma colaboração que ao longo dos anos formou milhares de palestinos em medicina, engenharia e outras profissões fundamentais para o desenvolvimento de suas comunidades. Até hoje, centenas de jovens palestinos estudam em várias universidades cubanas com bolsas de estudo fornecidas pelo governo cubano.

Fidel também expôs a situação palestina em numerosos fóruns internacionais ao longo de seu extenso trabalho político. E uma vez aposentado, ele continuou acompanhando de perto a realidade na área. A prova da indignação causada pela impunidade do genocídio israelense é um texto publicado em 6 de agosto de 2014 em sua coluna de opinião habitual no jornal Granma, sob o título: “Holocausto palestino em Gaza”.

O conflito atual 

A violência desencadeada em 7 de outubro teve um impacto arrepiante na vida dos palestinos. Mais de 25 mil palestinos foram mortos por Israel, dos quais mais de 10 mil são crianças, e os números continuam a aumentar. Inúmeras organizações internacionais condenaram os ataques a hospitais, escolas, edifícios residenciais, mesquitas e o uso ilegal de fósforo branco contra civis. Em uma carta recente, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, denunciou que mais de 80% da população de Gaza foi deslocada.

Desde o início desta nova escalada, Cuba mantém uma posição consistente com sua política histórica de apoio ao povo palestino e uma solução pacífica para o conflito. Apenas para mencionar algumas ações, a ilha promoveu e votou a favor da resolução “O direito do povo palestino à autodeterminação”. Cuba tem apoiado, como membro do MNA, a posição do bloco perante o Conselho Executivo da Organização para a Proibição de Armas Químicas, denunciando o possível uso por Israel de armas proibidas. Cuba também participou de numerosos fóruns internacionais convocados, incluindo várias sessões extraordinárias da Assembleia Geral da ONU, exigindo um cessar-fogo e reivindicando os direitos do povo palestino.

Em 17 de novembro, o Presidente da República e Primeiro Secretário do Partido Comunista de Cuba, Miguel Díaz-Canel, realizou uma reunião com 144 jovens palestinos estudando em Cuba. No diálogo com eles, ele ratificou a posição firme do país ao lado da causa palestina. Em 23 de novembro, uma grande marcha de solidariedade foi convocada ao longo do malecón de Havana, onde dezenas de milhares de cubanos expressaram sua solidariedade e rejeição não apenas à política israelense, mas também à política imperialista de Washington na região.

Dada a nova resolução aprovada em 13 de dezembro pela maioria absoluta na Assembleia Geral da ONU, o presidente cubano se manifestou nas redes sociais com total firmeza: “O genocídio perpetrado por Israel contra o povo palestino, com a cumplicidade dos EUA, deve parar agora. É urgente atender à demanda desta nova resolução da AGNU para interromper imediatamente a barbárie em Gaza. Exigimos paz para a Palestina”.

* José Ernesto Novaez Guerrero é escritor, jornalista e pesquisador de Santa Clara, Cuba. Coordena o capítulo cubano da Rede de Intelectuais e Artistas em Defesa da Humanidade e trabalha com diversas publicações dentro e fora da ilha. 

** Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

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