Cuba: O que está por trás dos protestos de “artistas por liberdade”?

Havana. Foto: Tali Feld Gleiser

Por Carmen Diniz.

Com certa assiduidade tem surgido na mídia oficial notícia de grupos de “artistas” cubanos e supostos movimentos de oposição ao governo de Cuba reivindicando “liberdade de expressão” e protagonizando atividades espetaculares, com a sempre presente mídia neoliberal a dar a devida cobertura. A que se deveria esse tão tardio pedido mais de seis décadas depois do triunfo da Revolução?

E por qual motivo não convocaram, por exemplo, as Damas de Branco, que agem livremente e se identificam como oposição a soldo de alguns dólares? Ou a blogueira Yoani Sánchez, que, da mesma forma – e também a soldo – acusa o governo de autoritário pelos quatro cantos do mundo sem ser presa ou criminalizada? Talvez não seja adequado.

O império estadunidense agride ferozmente Cuba desde o início da Revolução e com finalidades claramente explicitadas. Data de 1960, pouco mais de um ano após a revolução, um comunicado atualmente sem sigilo decretado do departamento de Estado norte-americano que determinava o uso de quaisquer medidas que debilitassem a economia cubana a fim de provocar no povo a fome, o desespero e a derrubada do governo cubano.

A partir do triunfo da Revolução, a animosidade contra Cuba por parte dos EUA só aumentou. As relações diplomáticas entre os dois países são rompidas e uma série de ataques partem do território norte-americano rumo à Ilha.

Os fatos e episódios são constantes: no início da década de 1960, especialmente, ocorrem assassinatos de jovens e adolescentes das Brigadas de Alfabetização, ameaças frequentes, inoculação de doenças (como a dengue hemorrágica, a febre porcina, pragas nas plantações, etc.), incêndios em canaviais, em lojas, a tentativa de invasão em Praia Girón em 1961, contratação de mercenários para colocar bombas em hotéis, além de 636 tentativas de assassinato ao presidente Fidel Castro.

Apesar do poderio militar e financeiro, os Estados Unidos nunca obtiveram nenhuma vitória contra o povo cubano, principalmente por se tratar de um povo culto e unido. Contra toda uma população consciente não há quem possa vencer.

De todas as agressões que o governo norte-americano pratica contra o povo cubano, a mais genocida é a que o asfixia diuturnamente: o bloqueio econômico, financeiro e comercial mantido há seis décadas. Este causa prejuízos constantes no dia a dia do cubano, uma vez que dificulta a aquisição de medicamentos, de materiais médicos, equipamentos, insumos e até mesmo de alimentos – embora não exista fome entre os cubanos. O bloqueio unilateral tem como finalidade causar ao povo desesperança e revolta contra o sistema de governo que os cidadãos elegeram.

Até hoje, os governos estadunidenses não conseguiram, mesmo com este mecanismo torpe, dobrar Cuba. Ultimamente aplicam nova modalidade de hostilidade: o chamado “golpe brando” ou “golpe suave” que trata de incentivar (e financiar) pessoas que vivem geralmente deste soldo e que se apresentam como vítimas de um governo.

Assim é que se vê cidadãos geralmente em conflito com a lei autointitulando-se “artistas”, em falsas greves de fome, detidos por infrações disciplinares, tudo devidamente registrado a fim de causar uma suposta opressão por parte de entidades do governo. Até hoje não conseguiram mostrar nenhum policial, por exemplo, reprimindo ou agredindo qualquer tipo de ‘manifestação’, o que no mínimo lhes causa descrédito.

O fato é que nas últimas duas décadas as agências estadunidenses gastaram US$ 250 milhões financiando estas e outras ações com a finalidade de criar insatisfação e boicotar o governo cubano. Em 1983 foi criado o IRI (Instituto Republicano Internacional) para uma “cruzada pela liberdade” com propósitos fundamentalistas da presidência daquela República. Possui mais de 500 funcionários com participações em diversos ‘golpes suaves’ além de ligações com George Soros, Gene Sharp e outros.

Na Venezuela o IRI participou do golpe de abril de 2002 contra o presidente Hugo Chávez. Dessa forma e com o uso da tecnologia, os “cruzados anticubanos” vão tentando se aproximar especialmente de jovens e estudantes de Cuba com a finalidade de lhes oferecer objetos de consumo, exibir outras formas de “arte” – a maioria de gosto extremamente duvidoso – na tentativa de cooptá-los contra o governo. Utilizam a tecnologia atual que se adequa perfeitamente ao capitalismo e de seus recursos que fariam inveja a Goebbels na manipulação dos seres humanos.

Nem assim têm sido bem sucedidos, como se percebe com o grupelho denominando “Movimento San Isidro”, que se comprovou não contar com artistas verdadeiros, ou com “rappers” que propõem mudanças de princípios, ou com o episódio de autodenominados “artistas” na porta do Ministério da Cultura onde mostraram não haver interesse concreto a não ser de agitação, ou com a recente visita de alguns cidadãos ao Ministério das Relações Exteriores com pretexto inexistente e com um cenário já armado na frustrada tentativa de atribuir repressão daquele ministério ; enfim, uma série de atividades que rapidamente se comprovam falsas e caem em descrédito.

Além disso, alguns dos personagens frustrados confessam publicamente os valores recebidos e a real finalidade de seus atos. Apesar de tudo isso estar bem claro para os cubanos, a mídia neoliberal mostra outro lado da moeda ao mundo. E divulga fortemente os tais grupos e atividades como reais opositores que são oprimidos pelo governo, detidos (sem esclarecer os reais motivos de eventuais detenções) tudo para desqualificar e criar falsas notícias a respeito do país. Nenhum meio relata que funcionário estadunidense da embaixada dos EUA usa seu próprio carro a serviço dos tais artistas.

É o que se chama de “Cuba virtual”. Ao contrário, a “Cuba real” vivida por seu povo é a que não é mostrada: em dezembro uma multidão de jovens e adultos se reuniu no Parque Trillo em Havana com artistas e intelectuais de verdade em apoio à revolução e em contestação aos “opositores”, contando com o importante e expresso apoio da União de Escritores e Artistas Cubanos (UNEAC) àquele ato. Nada é televisionado ou registrado pela mesma mídia.

Recentemente, em 24 e 25 de março uma Caravana pelo fim do bloqueio contra Cuba percorreu mais de cem cidades pelo mundo inteiro e fez com que centenas de pessoas em especial os jovens fizessem uma linda manifestação pelas ruas de Havana com bandeiras cubanas em carros, bicicletas, taxis, motocicletas tudo em apoio à revolução. Nada disso foi registrado ou divulgado por aqueles mesmos meios de comunicação que intrinsicamente deveriam demonstrar um mínimo de imparcialidade e de honestidade profissional: mostrar um pouco da “Cuba real”.

Assim são atualmente os “golpes suaves” financiados pelo governo estadunidense, também denominados de “primaveras’ em alguns países, em especial do Oriente Médio, e que depois se comprovou não se tratar exatamente de nenhuma estação do ano nem de possibilidade de mudanças. Nada muda para os povos, a não ser a interferência de um império em cada país em busca de seus respectivos recursos naturais.

Enquanto isso continua a obsessão dos Estados Unidos em tentar fazer novamente de Cuba seu quintal, fazer com que retorne ao pais um governo capitalista que se submeta aos desígnios deste império poderoso – mas que não consegue dominar uma ilha tão pequena. O fenômeno ocorre porque conta com uma população segura do que quer e que segue com o princípio de José Martí: “Somente um povo culto pode ser um povo livre”.

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