Crise grega e a possível alternativa à austeridade

zyrisa

Por Thiago Rafael Burckhart, para Desacato.info.

No final do ano passado a Grécia adentrou em mais uma crise, desta vez política. A votação parlamentar para a escolha do presidente ocorrida no dia 29 de dezembro de 2014 não contou com a maioria de dois terços dos parlamentares para a então esperada eleição de Stavros Dimas, o candidato apoiado pela ala governista grega – Partido Nova Democracia –, e que representa a permanência da política econômica neoliberal no país, que prega a submissão do mesmo aos ditames da troika que “governam” mesmo que ilegitimamente o país desde a explosão da crise financeira em 2008.

Dessa forma, como não foi possível eleger o único candidato governista ao cargo de presidente, em virtude da falta de apoio político, a constituição grega estabelece que devem ser antecipadas as eleições legislativas, que já foram marcadas para o dia 25 de janeiro. Ocorre que as sondagem há praticamente duas semanas das eleições indicam a vitória do Syriza, sigla em grego para a Coligação de Esquerda Radical, uma coligação que já marcou a presença política grega desde as eleições de 2012, ficando em segundo lugar com 26.8% dos votos.

A alternativa

O crescimento do Syriza representa na arena política grega um profundo descontentamento com as políticas de austeridade impetradas pela troika em virtude da crise financeira, que acabou por endividar o país, aumentando a pobreza e o desemprego no país que atinge mais de 25% da população grega. Esses fatores fazem com que o Syriza se coloque hoje, à beira das eleições, em possibilidade real de vencê-las.

O partido guarda profunda semelhanças com o Podemos da Espanha, já que rechaça a política de austeridade europeia, que põe o pagamento da dívida em cima da vida dos cidadãos, e propõe a renegociação dessa mesma dívida, de modo que alivie o peso do endividamento público e possa se fazer maiores investimentos sociais e estruturais para que a população trabalhadora do país volte a ter uma vida justa.

 A possível vitória do Syriza na Grécia pode fazer balançar a política de ajustes que hoje é aplicada em toda a Europa. Representaria a decadência dos partidos tradicionais gregos que não souberam administrar soberanamente o país em meio ao cataclismo da crise econômica iniciada em 2008 e também se colocaria como uma oposição firme aos interesses puramente financeiros/econômicos do Troika e ao imperialismo alemão.

O Syriza rejeita a lógica do superávit primário, que se coloca como o principal instrumento da austeridade e do aumento da pobreza e em seu programa de governo afirmam que irão trazer a dívida pública grega à patameres realistas, aceitáveis e sustentáveis, sem entretanto prejudicar os outros povos europeus. Afrimam também que estabelecerão um período de carência – moratória – no serviço da dívida, para que se reserve recursos imediatos para reestabelecer a economia grega. O plano de governo assenta-se em quatro pilares: I. programa para enfrentar a crise humanitária; II. medidas imediatas para relançar a economia; III. plano nacional para o crescimento do emprego; e, IV. reformas do sistema institucional e a democratização da administração pública.

 Desse modo, o Syriza se coloca hoje no cenário político grego como uma real alternativa à austeridade, fruto de um descontentamento que cresce diariamente em todo o velho continente.

 Foto: www.valenciaplaza.com

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