Por Laís Vitória Cunha de Aguiar.*
Procurando por um documentário bom para assistir, encontrei “Cowspiracy”: o segredo da sustentabilidade” (cowspiracy.com), e, fiquei chocada com o que descobri ao ver o filme, além de acrescentar um grande peso a minha consciência.
No momento em que via o filme estava jantando e quase não comi o último pedaço de carne. Cowspiracy mudou a minha maneira de observar o aquecimento global, depois do que vou te contar espero que mude a sua também.
Em São Paulo, com a seca atual e todos os seus riscos, o consumo de água é uma grande preocupação, mas mesmo com as medidas previstas em programas ambientalistas, como fechar a torneira enquanto escova os dentes, somente metade do desperdício será evitado. Para evitar a outra metade é necessária uma atitude mais drástica.
Na Califórnia, por exemplo, dos 5,5 metros cúbicos de água gastos por pessoa/mês, metade disso está relacionado ao consumo de carne e laticínios, ‘Em parte porque os animais se alimentam de grãos que usam muita água. É o que eles comem. Assim, toda água contida no grão que o animal come é essencialmente considerada parte da pegada hídrica desse produto.’– Heather Cooley, do Pacific Institute, que também concedeu os dados a respeito da relação do gasto de água com consumo de carne e laticínios.
Já no começo do documentário estava estupefata com minha ignorância, mas fiquei mais ainda ao descobrir que as maiores organizações ambientais, como o Greenpeace, se recusam a falar a respeito do papel da carne no aquecimento global. O documentarista tentou falar com 350.org, Sierra Club, Climate Reality, RainforestAction Network, AmazonWatch,WWF, sem obter os resultados desejados dessas organizações que supostamente devem lutar por um mundo mais sustentável e livre das emissões dos gases efeito-estufa.
Assim como o documentarista, também fiquei triste e revoltada ao perceber que essas organizações não estão concedendo ênfase suficiente para a questão da agropecuária. Não peço para obter mais destaque do que a questão do transporte e da energia, mas tanto destaque quanto as outras duas questões.
Segundo pesquisa da UNESCO:um hambúrguer de 114 gramas precisa de 2.500 litros de água para ser produzido. É um gasto absurdo. Um hambúrguer equivale a dois meses de banhos.
Somente nos EUA o gado consome mais de 125 trilhões de litros de água, o faturamento hidráulico para produção da carne bovina utiliza 378 bilhões de litros de água.
Para minha constante surpresa, na produção de um ovo é preciso de 1500 litros de água e para queijo quase 3500 litros. Uma torneira pingando até ter desperdiçado 2500 litros inundaria uma rua inteira (dependendo do tamanho dela).
De acordo com especialistas do Banco Mundial, ao usar o padrão global para medição de gases efeito estufa, descobriram que a criação de animais é responsável por 51% da mudança climática. Isso se você contar com a perda de sequestro de carbono causada pelo homem (cortar árvores, por exemplo), com a respiração dos animais e com o metano, que a ONU aparentemente esqueceu-se de contar.
Aqui no Brasil o motivo para preocupação é até maior: a criação de animais é responsável por até 91% da destruição da Amazônia (somente contabilizando a parte da Amazônia localizada no Brasil). Também é uma das causas que lideram a destruição de habitats e extinção de espécies.
Se as vacas e bois fossem minimamente inteligentes, eles já teriam nos sobrepujado, nós seríamos os escravos deles, não o contrário, pois 45% das terras do planeta estão ocupadas pela criação de animais, ainda assim as maiores organizações ambientais não querem falar sobre isso.
Por que as organizações não querem falar sobre isso? É bem simples, quem é que tem a maior bancada no Senado? Ruralistas. Quem é que financiou as eleições? Quem é que tem medo deles? As organizações ambientais. Quem é que já morreu lutando contra eles? Dorothy Stang, Chico Mendes, entre tantos outros que continuam sendo assassinados pela sua coragem.
Eu sempre gostei muito de carne, mas se ainda não consigo ficar sem, pelo menos posso diminuir a quantidade, hoje como carne uma vez por semana, ou seja, três vezes por mês. Desejo continuar na luta para conseguir diminuir ainda mais essa quantidade. Espero que, se você também não consegue ficar sem carne, pelo menos consiga diminuir o consumo. Caso eu ainda não tenha te convencido, assista ao filme.
*Laís Vitória Cunha de Aguiar, 19, é ativista ambiental, estudante de Ecologia da UFPB e comunicadora popular pela Adopt a Negotiator, uma organização mundial que engloba jovens de diversos países com objetivo de divulgar o que ocorre nas negociações climáticas.
Fonte: EcoDebate