Como é bom ser gay quando se é rico, lindo e masculino!

stevePor Stefan Ricardo Fritsch.

Acabei de assistir o novo clipe do cantor country Steve Grand, “Stay”. Fiquei maravilhado com o vídeo, pelo seu talento, beleza e principalmente sua coragem de se assumir gay desde o começo de sua carreira. Verifiquei os comentários do vídeo, todos mega positivos, mostrando apoio e suporte a nova estrela em ascensão.

Porém, além de me sentir bem ao final do vídeo, também me questionei: porque não se mostra o mesmo apoio aos vídeos do “Bonde das Bonecas”? Cuja característica também é de ser um grupo que se revelou a pouco tempo e com integrantes gays? Bom, a diferença entre os vídeos do cantor americano e do grupo brasileiro são gritantes: ele é lindo, possui dinheiro pra fazer uma boa produção, possui talento musical apurado, canta em inglês, canta música country com uma pegada pop, possui pose e um jeito masculino, resumindo: está na moda e de acordo com vários aspectos que são chaves do sucesso.

Enquanto o bonde das maravilhas é aquele grupo de dançarinos cuja aparência física não é o esperado, vídeos de baixa qualidade de produção, poses e danças bem femininas, são brasileiros e principalmente: dançam funk, o som da periferia, sem nenhuma técnica musical apurada e com suas letras irreverentes e indecentes.

O cantor recebe uma chuva de elogios enquanto o grupo de dançarinos recebe uma chuva de críticas em seus vídeos, e não só (ou nenhuma) crítica construtiva, mas sim criticas duras e xingamentos que desmoralizam as poses e a afronta que a dança do Bonde das Bonecas ousam em executar, e os comentários quase sempre com tonalidade homofóbica. Por que o cantor não recebe comentários homofóbicos se ele também é gay? O meu palpite: porque ele é gay, mas é lindo, tem dinheiro, instrução, é estrangeiro, tem pose masculina, ou seja, um gay “limpinho”. O Bonde das Bonecas mostram o que são e de onde vieram, um grupo de “bichas” da periferia que só querem dançar os sucessos atuais dos grupos de funk ou até mesmo lançam suas próprias produções, não ousam tentar a fórmula de sucesso que o cantorexecuta, são elas mesmas e pagam por isso.

Nossa homofobia então é seletiva? Toleramos o gay rico, bonito e masculino e gongamos a bicha pobre, feia e feminina? Muitos podem me dizer que isso tem a ver apenas com a questão dos estilos musicas diferentes, mas eu aposto que muitos que fizeram os comentários negativos nos vídeos do grupo do Bonde das Bonecas já se depararam com outros vídeos de estilos musicas que não eram o seu preferido, e mesmo assim, não precisaram descer sua chuva de comentários maldosos. Porque então o vídeo deles necessita ser tão negativado? É realmente a respeito do estilo musical que estamos falando? Eu duvido muito.

Eu ouso chutar que é negado ao Bonde das Maravilhas o direito de fazer sua arte não só pelo fato de serem gays e dançarem funk, mas por não terem uma beleza esperada pela maioria, por terem vídeos de produção pobre e por serem pintosas. Todos deviam poder executar sua arte, ninguém é obrigado a gostar, mas ninguém deveria ter o direito de humilhar ninguém por ousar dançar, cantar ou atuar, por mais “ruim” que aparente ser. Nem todos possuem a mesma oportunidade (ou intenção) de preparar uma mega produção que aparente num vídeo clean e arrumadinho, mas todos possuem o mesmo sonho de poder executar sua arte em paz, nós não podemos arrancar esse sonho com os requintes de crueldade de nenhum artista, por mais que o tipo de arte executada não seja do nosso gosto. Ah, como é bom ser gay quando se é rico, bonito e masculino, não é mesmo?

Fonte: Aliança Jovem LGBT

 

1 COMENTÁRIO

  1. O seu artigo é super pertinente,eu amei.Muito mais fácil tolerar o gay rico e estrangeiro do que a bixa feia,pobre e prostituida da favela.

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