Comitiva do governo vai a Roraima após ataque de garimpeiros contra indígenas na TI Yanomami

Titular da Sesai diz que ação será para reforçar segurança e "levar mensagem de presença do Estado no território"

Terra Indígena Yanomami sofre com estragos do garimpo ilegal desde a década de 1970; problema se agravou nos últimos anos, sob gestão Bolsonaro – Fernando Frazão/Agência Brasil

Por Cristiane Sampaio, em Brasil de Fato.

O secretário de Saúde Indígena, Weibe Tapeba, disse, em entrevista ao Brasil de Fato, que na manhã desta segunda-feira (1º) o governo federal irá enviar uma comitiva a Boa Vista (RR) para reforçar os trabalhos que vêm sendo feitos na região para proteger os moradores da Terra Indígena Yanomami (TIY).

A ação de agora surge após o atentado ocorrido no local no sábado (29), quando três indígenas foram atacados por garimpeiros armados, e um deles morreu. Outros dois ficaram feridos e estão internados em um hospital da capital. O caso veio à tona neste domingo (30).

A decisão sobre o envio da comitiva foi tomada após um encontro semipresencial que reuniu, no final do dia, diferentes gestores da cúpula do governo e órgãos estratégicos para avaliar o episódio e traçar estratégias. Estiveram presentes as ministras Sônia Guajajara (Povos Indígenas) e Marina Silva (Meio Ambiente), o ministro José Múcio (Defesa), além de Weibe Tapeba e outros interlocutores.

“Decidimos pela comitiva e estaremos lá para levar uma mensagem de presença do Estado brasileiro no território, prestar solidariedade às vítimas e anunciar um reforço de tropas da segurança pública e das Forças Armadas na área para fazer uma espécie de pente fino, fazer a desintrusão do território. Tem gente se deslocando já hoje”, disse o titular da Secretaria de Saúde Indígena (Sesai), órgão ligado ao Ministério da Saúde (MS), que estará no grupo.

Além dele, a comitiva deverá contar com a presença de Sônia Guajajara, Marina Silva, um representante do Ministério da Justiça, a presidenta da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joênia Wapichana, e outros nomes do governo. Tapeba afirma que a gestão teme uma maior escalada da violência no território Yanomami, que enfrentou uma dura crise no início do ano e ainda está sob acompanhamento ostensivo de vários órgãos federais.

“O território Yanomami ainda está numa emergência sanitária e humanitária. Nós temos articulado com os outros ministérios para assegurar de algum modo a segurança das comunidades, dos indigenistas da Funai e também dos servidores que atuam na saúde indígena no território. A desintrusão é fundamental. A avaliação que os órgãos de segurança fazem é de que boa parte dos garimpeiros já saiu de lá, mas as lideranças indígenas ainda dão conta da presença de garimpeiros, tanto é que aconteceu esse episódio violento”, ressalta.

A área tradicional demarcada abarca quase 10 milhões de hectares, tem 31 mil indígenas e mais de 380 comunidades. As autoridades apontam que um dos principais desafios para a assistência à população local é a logística, uma vez que a estrutura do local é precária. “A presença das forças de segurança, das Forças Armadas como um todo e o planejamento de proteção do território são fundamentais porque nós estamos falando da maior terra indígena do Brasil. É um território inóspito, que precisa da presença das forças pras políticas públicas acontecerem nos territórios”, afirma Tapeba.

O titular da Sesai ressalta que, por conta das dificuldades, o governo ainda não conseguiu garantir 100% de cobertura do povo Yanomami em termos de assistência à saúde e retorno das escolas indígenas.

“Temos ampliado a nossa capacidade de assistência, contratando mais força de trabalho, mais profissionais para a Saúde Indígena, levando ações de saneamento e acesso à água no território, fazendo monitoramento dos casos de malária e dos rios que foram contaminados por mercúrio. Também implantamos o Centro de Referência de Saúde Indígena em Surucuru, que é uma unidade hospitalar de média complexidade e tem levado atenção especializada para o território Yanomami. A ideia é a gente ampliar a nossa ação, e isso depende muito da retirada dos garimpeiros”, diz o secretário.

Atentado

O ataque de sábado vitimou Ilson Xirixana, de 36 anos. Ele levou um tiro na cabeça, não resistiu e morreu às 5h33min deste domingo. Os outros dois indígenas atingidos, um de 24 anos e outro de 31, foram baleados no abdome e levados inicialmente para o Centro de Referência de Saúde Indígena em Surucuru. Na manhã deste domingo eles foram transferidos para um hospital em Boa Vista, capital do estado, onde seguem internados.

Ainda neste domingo, a Polícia Federal disse ter enviado duas equipes ao local do conflito, na comunidade Uxiu, para apurar o caso e “interromper eventuais agressões que ainda estivessem em andamento”. A ação se deu em parceria com a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e a Força Aérea Brasileira (FAB). As diligências estão em curso.

Edição: Geisa Marques

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.