Cinema na Linha: Projeto leva o cinema para comunidades rurais de Chapecó

Inicia nesta quinta-feira, 02/03, a segunda edição do “Cinema na Linha”. O projeto irá passar por comunidades rurais e indígenas de cinco municípios localizados em microrregiões distintas no oeste catarinense.

Contemplado pelo Prêmio Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura em 2021, na modalidade Patrimônio Imaterial (Fundação Catarinense de Cultura, Governo do Estado de SC) a iniciativa traz como um dos objetivos oportunizar o acesso ao cinema para as comunidades do interior.

Longe das salas de cinema convencionais, o projeto da Margot Filmes amplia as possibilidades de criação e experiência cultural das comunidades. Ao ar livre, com um telão inflável gigante e um projetor, a equipe circula por diferentes localidades e monta o equipamento em espaços com vínculo comunitário, como pátios de escolas, em frente a igrejas, salões da comunidade, estradas ou ginásios. Onde antes era impossível imaginar um cinema, temos uma sessão gratuita, descentralizada e com cinema local.

“O Cinema na Linha tem como público, especificamente, as comunidades interioranas de Santa Catarina, de diferentes etnias. Famílias que moram nestas comunidades localizadas no interior e cuja distância entre o centro da cidade e as cidades de médio e grande porte, acaba sendo um fator determinante no pouco acesso às atividades artístico-culturais”, explica Ilka Goldschmidt, diretora na Margot Filmes e uma das idealizadoras do projeto.

O primeiro município a receber as ações é Ipuaçu, no dia 02/03. A sessão acontece na Terra Indígena Xapecó (TI), maior reserva indígena de Santa Catarina. Na sexta-feira, 03/03, o projeto segue para Itapiranga, no Centro Histórico Germânico. Em 07/03 as ações chegam em Seara, na Linha Caraíba, e prosseguem para a Linha Santa Inês em São Lourenço no dia 10/03. Esta edição finaliza no município de Água Doce na comunidade de Três Pinheiros no dia 15/03.

Em cartaz, em todas as comunidades, filmes que trazem vínculo cultural com o público e documentam tradições que podem ser compreendidos como patrimônios imateriais. Duas produções integram a programação: “O Salame vai à feira” e “Kiki, o ritual da resistência Kaingang”, ambos filmes documentais, produzidos pela Margot Filmes, no oeste catarinense.

“Acreditamos que é muito importante que as comunidades se vejam na tela, no relato, nas cenas. Essa proximidade gera vínculo, pois as pessoas estão vendo as suas histórias em um filme. Estamos falando do salame produzido artesanalmente pelo agricultores e passado de geração para geração, também estamos mostrando o Kiki, um ritual tão importante na cultura kaingang, são registros que dificilmente serão veiculados em um cinema tradicional. A partir do momento em que as pessoas se identificam com o que estão assistindo, isso gera a sensação de pertencimento, o que torna a experiência ainda mais singular, tanto para quem está assistindo, quanto para nós, que estamos levando essas temáticas para ser vista”, pontua Cassemiro Vitorino, diretor na Margot Filmes e também idealizador do projeto.

Para Elaine Benetti, superintendente da Casa de Cultura de Seara, é uma grande expectativa receber o projeto. “Termos a oportunidade do acesso a magia do cinema por meio de uma tela gigante, com a notória igreja da comunidade aos fundos e exibindo filmes produzidos aqui pertinho da gente, retratando realidades e culturas da região, certamente é algo bastante significativo”, enfatiza.

Continuidade

Além da exibição, os jovens das comunidades rurais e indígenas que receberão a mostra irão participar de uma oficina de produção de vídeo com a equipe, como contrapartida do projeto. O objetivo é possibilitar às próprias comunidades o registro dos modos de fazer relacionados a sua cultura.

“O acesso às tecnologias está na rotina dos jovens. Nós aproveitamos essa facilidade para desenvolver uma oficina de produção audiovisual com o smartphone, em parceria com as escolas das comunidades, e criar possibilidades e ferramentas para que sejam estimulados a assumir as suas narrativas e a registrar as suas histórias”, explica Ilka.

Sobre os filmes

O curta “O Salame vai à feira” documenta a produção do salame artesanal, a partir de uma família de descendentes de italianos que se reúne para fazer o salame da forma que seus antepassados os ensinaram. Esse mesmo salame, sem conservantes químicos, chega às mãos de um chefe de cozinha que valoriza o alimento que não é industrializado mas que não pode ser comercializado nem mesmo na feira livre. O filme foi gravado na Linha Alto da Serra, em Chapecó.

O documentário “Kiki – o ritual da resistência kaingang” mostra todas as etapas de preparação do ritual que é uma despedida aos mortos. Durante 40 dias, os pajés preparam o local e a bebida que é fermentada em um cocho de araucária e servida à comunidade após uma ida ao cemitério. Neste mesmo dia as marcas kairu e kamé são identificadas nos rostos dos kaingangs. O ritual documentado foi realizado na Aldeia Kondá, em Chapecó.

A proposta é exibir os dois filmes, que tem curta e média duração, nas cinco comunidades rurais, indígenas e não indígenas, para que as diferentes etnias tenham conhecimento sobre aspectos culturais umas das outras, a partir das experiências narradas nos filmes e posteriormente discutidas com a equipe do projeto.

Cinema por todo o lugar

O Cinema na Linha teve sua primeira edição em 2020. Interrompida pela pandemia as ações prosseguiram em 2021 passando por oito comunidades rurais de Chapecó, por meio do Edital de Fomento e Circulação das Linguagens Artísticas de Chapecó.

Desde sua criação a ideia é difundir filmes que valorizem o saber fazer do interior do Estado, promovendo através do cinema a auto-estima e o auto-reconhecimento, estimulando as narrativas audiovisuais da própria comunidade, promovendo o intercâmbio de conhecimentos entre diferentes etnias, mostrando o potencial do cinema catarinense.

Acompanhe a rota do “Cinema na Linha” pelas redes sociais do projeto.

Créditos:

Texto: Camila Almeida

Fotos: Arquivo/Margot Filmes

Trailers: Margot Filmes

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