Cidade francesa comemora resultado de projeto de transporte público gratuito para população

Por Suzana Camargo.

Dunkerque não é o primeiro centro urbano da Europa a oferecer transporte público gratuito para seus moradores, mas é o segundo maior do continente a ter se comprometido com a iniciativa.

Desde o mês passado, os 200 mil habitantes da cidade da costa noroeste da França – e turistas – podem pegar qualquer um dos ônibus que circulam por suas ruas sem pagar nada.

A medida faz parte das propostas de governo do prefeito Patrice Vergriete, que colocou na balança o peso sobre o orçamento municipal de bancar o custo do transporte público contra os benefícios sociais gerados pela ação. Um mês após o começo do projeto piloto, garante que tomou a decisão certa.

Desde 2015, como teste, os ônibus já funcionavam sem cobrança nos finais de semana e feriados. Mas foi só a partir de setembro de 2018, que se tornaram “gratuit” todos os dias. Todavia, não foi só isso. A prefeitura também aumentou a frota, de 100 para 140 veículos, com modelos mais modernos e coloridos, alguns inclusive, com Wi-Fi público, e expandiu as vias exclusivas para ônibus.

Muitos moradores afirmaram que a medida os estimulou a deixar o carro em casa. Pesquisa revela que houve 50% de aumento de passageiros em algumas rotas e 85% em outras.

Jovem francês embarcando em ônibus gratuito

Por trás do projeto do prefeito Vergriete, não está apenas a meta de melhorar a mobilidade e diminuir a poluição de Dunkerque, mas também, aumentar o poder aquisitivo de seus cidadãos, ao deixar de gastar parte do orçamento com transporte público, e ainda, atrair novos moradores para a cidade portuária francesa, que ficou famosa no ano passado, depois de virar título do filme Dunkirk sobre a Segunda Guerra Mundial e conquistar vários Oscars.

Uma análise sobre o projeto implementado na cidade francesa foi feita por Henri Briche e Maxime Huré, pesquisadores que estudam a questão da política de transporte público na Europa e no mundo.

Mas como Dunkerque está conseguindo absorver o custo adicional dos ônibus gratuitos? Não é a prefeitura que ficou com a conta mais alta, mas empresas e repartições públicas com mais de 11 funcionários, que já pagavam uma taxa para ajudar nesse custeio. Repartindo a sobrecarga com a iniciativa privada, foi possível não aumentar os impostos sobre a população.

Em 2013, Tallinn, na Estônia, com 440 mil habitantes, foi a primeira cidade europeia a oferecer transporte público grátis, depois da medida ser aprovada em um referendo. Lá, os usuários precisam se registrar com a prefeitura e pagar uma taxa de apenas 2 euros por ano, que dá direito a utilizar ônibus, trolleys e trams (bondes) sem nenhum custo extra. A medida fez com que 25 mil novos residentes fossem registrados pela prefeitura e com isso, conseguisse aumentar a arrecadação de impostos e cobrir o dinheiro adicional gasto (leia mais sobre o caso da Estônia aqui).

Certamente, não é toda cidade do mundo que conseguiria viabilizar uma inovação como esta, mas os exemplos de Tallinn e Dunkerque mostram que há uma noção pré-concebida que tais medidas são dadas ao fracasso, entretanto, em alguns casos, elas se mostram mais do que viáveis.

*Com informação do Metro Politics Europe 

Fotos: divulgação prefeitura de Dunkerque – Facebook 

Suzana Camargo: Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante seis anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para várias publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, acaba de mudar para os Estados Unidos

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