Por Rosangela Bion de Assis, para Desacato.info.
Para subir aqueles degraus, pela primeira vez, precisei estar ao lado dela.
Certificou-se que ficaríamos bem e foi embora.
Aquelas paredes amarelas, portas antigas, o degrau antes do banheiro, foram nosso ponto de partida com CEP e goiabeira.
Bons vizinhos, muretas baixas, água trazida pelo Cueca rapidamente.
As primeiras cadeiras vieram logo,
a compreensão tardou um pouco mais.
Sonhava com um sossego que não é possível para os pobres, ainda mais se buscam dignidade com liberdade.
Nosso primeiro estúdio, o primeiro programa de rádio, os primeiros de TV, a primeira assembleia, o esperado CNPJ e muitas sacolas de chuchu saíram da João Motta Espezim, 1211.
Algumas vezes achei que, com a cachorrinha, tinham levado minha esperança.
Que nada.
No outro dia, um grupo de estudantes batia na porta.
No outro verão, a doação da geladeira.
E quando a umidade queria nos derrubar, lançávamos nossas metas mais alto que os degraus de pedra que subiam, nos fundos, o morro do Saco.
Nunca conseguimos fazer a horta nos fundos
mas, plantamos informação e juntamos gente que sonha o mesmo sonho.
Foram quatro anos.
Tivemos que apagar todos os vestígios de nossa passagem por aqui.
Paredes totalmente brancas, piso raspado, porta pintada.
Não adiantou, o senhorio achou pouco.
Vamos em frente
A casinha amarela entra para nossa história
Seguimos em busca de outro abrigo para nossos desacatos.
—
Rosangela Bion de Assis é jornalista, poetisa e presidenta da Cooperativa Comunicacional Sul.