Por Marina Saran.
”O Núcleo da Mulher não acredita que prender o sujeito é a solução para a violência doméstica. Nós acreditamos muito no direito penal como uma última instância, quando todas as outras falharam, como uma instância de proteção a essa mulher para coibir novos atos de violência. E nesse sentido, eu acredito nisso, não só para o preso que cometeu o crime de violência doméstica, mas para todos os presos que cometeram qualquer delito”, diz Yasmin Oliveira Mercadante Pestana, defensora pública do Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher do Estado de São Paulo (Nudem) e uma das coordenadoras que criaram a cartilha Vamos falar sobre masculinidade?, lançada pelo núcleo, que busca educar mais aos homens, mas também as mulheres.
A cartilha está disponível on-line (clique aqui), mas também foram impressos 10 mil exemplares, encaminhados para todas as unidades de Defensoria Pública paulista.
Quando questionado do porquê de não fazerem um trabalho que abrangesse as escolas desde o nível de ensino fundamental, a defensora pública explica que o Nudem ainda encontra muita dificuldade em discutir gênero nas escolas. “No núcleo, corremos atrás desse tema na educação. A lei Maria da Penha prevê o tratamento de gênero nos currículos escolares e nós temos um trabalho voltado nesse sentido. Sabemos que tem muita resistência das escolas, mas temos atuado em defesa dessa necessidade de se falar em gênero nas salas de aula”.
Segundo Yasmin, a ideia é que o material da cartilha sirva principalmente para os homens. Muitas mulheres em situação de violência doméstica procuram o Nudem em busca de uma proposta de recuperação para o parceiro visando alteração do seu comportamento machista. ”A cartilha destina-se, principalmente, ao grupo masculino, não só aos homens que têm conflito com a lei Maria da Penha, mas todos os homens. A proposta é provocá-los, para que repensem as suas condutas e abram mão de privilégios, porque a masculinidade hegemônica e a forma de ser homem trazem muitos privilégios. Muitas mulheres que nós atendemos e que estão em situação de violência doméstica, trazem essa demanda de querer recuperar o seu companheiro, nos casos de uma violência menos grave. Não dá para quantificar violência, mas existe essa vontade de que os homens alterem seu comportamento violento”, afirma a defensora.
Conscientização Contra Feminicídio
No Brasil, a taxa de feminicídios é de 4,8 para 100 mil mulheres – a quinta maior no mundo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Yasmin acredita que campanhas como essa são essenciais para conscientizar mulheres que ainda não discerniram sobre o que é o machismo na sociedade e, assim, gradualmente, diminuir a taxa do feminicídio no País.
“Da mesma forma que a gente fala para os homens ficarem atento às suas condutas, a gente discute com as mulheres para elas reconhecerem os atos de violência e atitudes machistas, porque essa cultura é tão enraizada que, muitas vezes, passa despercebida. O machismo que as mulheres sofrem, desde usar preservativo numa relação sexual, até violências físicas ainda ficam na indiferença. Então, as campanhas de conscientização das mulheres são essenciais para perceber o que elas estão passando”.
Homem e Violência
O conteúdo da cartilha faz uma desmitificação entre a relação de masculinidade e machismo que muitas vezes é relacionada e imposta através da masculinidade padrão. Masculinidade essa que é violenta e afeta não só o relacionamento entre homens e mulheres, mas a violência no geral. A cartilha conclui que, como a masculinidade ainda é muito violenta e anda junto ao machismo, suas vítimas mais prováveis serão as mulheres.
Gente, comecei a ler a cartilha e é profundamente machista!!!!!
As concepções de feminilidade e masculinidade é de trinta a quarenta anos defasados!!!!!
Eu sei que no mínimo 70% dessas ideias ainda estão enraizadas em 90% das pessoas, mas devemos mudar isso.
Ainda não entendi como um homem usar preservativos em uma relação sexual é machista. Não deveria ser o contrário? Ser machista o homem obrigar a mulher a fazer sexo sem preservativos contra sua vontade de evitar uma gravidez não planejada.
Usar definições tão afirmativas de que masculinidade é ter o ímpeto violento é um desserviço.
Um menino não pode ser amoroso? Uma menina não pode gostar de ser aventureira, crescer e se tornar uma mulher que gosta de acampar e fazer esportes radicais? E essa menina não pode também nascer gostando de rosa e gostar de bonecas?
E não adianta dizer que a sociedade que constrói assim porque em muitos lugares que visito não tem nada disso. As crianças de casa não são podadas com essas coisas. Minha sobrinha, por exemplo, sempre gostou de rosa e sempre gostou de boneca. Criança tem que ser livre para ser ela mesma. Educar uma criança não é fácil. Seria tão bom se fosse tão fácil educar uma criança como a ideologia de gênero faz parecer. Sim, na sociedade as pessoas ainda querem educar as crianças baseados nesses esteriótipos de gênero. Não nego. É evidente, entretanto, quão errado está essa teoria de que o gênero é uma construção social. Não tenho culpa se as pessoas não entendem que uma coisas não é antônimo da outra. E o pior, é que as próprias lésbicas e os gays que defendem na, são a prova viva de que a teoria está equivocada. Algumas pessoas, por mais que a família tente educar baseado no seu fenótipo não deixam de ser o que são. Mulheres que saem de casa e levam suas vidas com suas companheiras. E nem precisa ser necessariamente lésbicas. Uma mulher pode ter atitudes agressivas e não deixar de ser mulher. No próprio livro, já diz que muitas mulheres tem TPM e são tidas como descontroladas. Uma mulher não deixa de ter atitudes agressivas.
Mas ao contrário de querer ensinar essa masculinidade tóxica, deveria ensinar os meninos que tem agressividade acima do normal a controlá-la.
Parabéns pela iniciativa e que toda essa cultura possa no futuro ser mudado.