Carta aberta ao Ministro da Educação Abraham Weintraub

    Foto: Geraldo Magela/Agência Senado
    Por Viegas Fernandes da Costa.
    Senhor Ministro da Educação Abraham Weintraub:
    Sou professor no Instituto Federal de Santa Catarina. Tenho 23 anos de atuação no Magistério e meu sonho nunca foi ficar rico. Como tantos e tantos professores neste país, não apostei no Magistério como quem aposta no mercado financeiro. Apostei no Magistério como quem aposta no futuro.
    Também como tantos e tantos professores neste país, já tive salários atrasados, já fui desrespeitado pela sociedade e vi minha autoridade acadêmica contestada por demagogos de ocasião. Demagogos como estes que hoje ditam regras de repressão à Educação que construíamos libertadora. Liberdade, senhor Weintraub, é sempre uma palavra perigosa para aqueles que a pretendem como exclusividade de uma casta.
    Ontem, ministro, li suas palavras que pareciam arrancadas de algum manual de auto-ajuda. Li, por exemplo, sua profecia, “de que teremos professores ricos neste país”. A panaceia que os senhores apresentam para parir professores ricos foi batizada de “Future-se”. Ao ler esta sua afirmação, ocorreu-me Millôr Fernandes, que escreveu: “no momento em que aumentam as nossas descobertas arqueológicas fica evidente que o Brasil tem um enorme passado pela frente, ou um enorme futuro por detrás, se preferem”. Sim senhor Weintraub, em nossa arqueologia do tempo recente, encontraremos o futuro precedendo este passado que o senhor hoje propõe. Um futuro que produziu escolas e renda, que distribuiu livros e que hoje sucumbe a “fundos”. Fundos que prometem tornar ricos alguns professores às custas da destruição da pesquisa, da ciência e da educação pública soberanas.
    Senhor ministro, como professor de uma instituição pública federal, da qual me orgulho muito, não quero ficar rico em meio à pobreza. Educação não se trata de acumular bens materiais ou dinheiros em contas bancárias. Como professor, quero viver com dignidade. A dignidade material, sim, que é negada à maioria dos professores brasileiros que destroem seus corpos em regimes e jornadas de trabalho aviltantes, mas também a dignidade conferida àqueles que colaboram com a construção de uma sociedade mais justa, fraterna, economicamente equilibrada e na qual educação não confira status, mas cidadania.
    Educação, senhor ministro, é um bem. Sim, um bem de valor incomensurável. Nem móvel ou semovente, tampouco imóvel. Um bem de natureza humana e de tamanho valor cujo preço torna-se impossível de mensurar. Por isso, ministro, não se compra professores com a promessa de vinte moedas de prata. Professores são conquistados com a liberdade. A liberdade de pensar, falar, pesquisar e ensinar. A liberdade de uma vida digna cujas carreiras sejam respeitadas pela sociedade e não pelo mercado financeiro. Uma liberdade, senhor Weintraub, que o senhor jamais poderá nos propor porque serve a um governo autoritário que desrespeita professores e a cultura de uma maneira geral.
    Ao nos prometer a riqueza como ideal de vida e de realização profissional, ministro, o senhor nos ofende. Ofende a avilta, porque nos reduz à condição de mercadores do conhecimento.
    Ministro, como professor, não sou um mercador do conhecimento.
    Imagem tomada de: Metrópoles

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