“A forma como o governo quer formar maioria (na Câmara) não vai dar certo, porque essas promessas não serão cumpridas em hipótese alguma. Não há espaço fiscal”, disse o atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM). O deputado menciona promessa do governo de Jair Bolsonaro de repassar pelo menos uns R$ 20 bilhões de emendas extra-orçamentárias. Este, além de uma possível reforma ministerial para abrir cargos no governo para o “Centrão”, seria um dos movimentos de Bolsonaro para controlar a Câmara. Para isso, precisa eleger o deputado Arthur Lira (PP-AL) para presidir Câmara a partir da próxima semana, no lugar de Maia, que subiu o tom.
“Eu quero saber em que Orçamento, para o ano de 2021 e com todo o problema do teto de gastos, eles poderão cumprir, se vitoriosos, essa promessa”, disse. O Orçamento da União para o ano nem sequer foi votado ainda. A quatro dias da eleição para a presidência da Câmara, na segunda-feira (1°), o “favoritismo” de Arthur Lira cresceu nos últimos dias. Rodrigo Maia, e o bloco de partidos que conseguiu formar em torno do nome de Baleia Rossi (MDB-São Paulo), tem perdido apoios em seu reduto.
Isso porque seu partido, o DEM, está rachado e a maioria de seus parlamentares parece se bandear para o nome de Jair Bolsonaro. Por exemplo, considerado em dos importantes aliados de Rossi, Fernando Coelho Filho (DEM-PE) anunciou ontem (27) que vai votar em Lira. O quadro leva Maia a abandonar sua conhecida postura fleumática e partir para o ataque. De acordo com levantamento de O Estado de S. Paulo, apenas oito dos 29 deputados do DEM manifestam voto em Rossi. Daí Maia denunciar a interferência de Bolsonaro na disputa com promessas de emendas orçamentárias “impossíveis de serem cumpridas sem furar o teto de gastos”.
“Se Deus quiser”
Bolsonaro, por sua vez, afirmou nesta quarta-feira (27) que vai, sim, interferir na eleição “se Deus quiser”. Segundo Rodrigo Maia, “a intenção do presidente é transformar o Parlamento num anexo do Palácio do Planalto, o que enfraquece o mandato de cada deputado e deputada”. O esforço político e financeiro feito pelo governo se deve ao fato de que a eventual eleição de Lira dificultaria muito a abertura de um processo de impeachment de Bolsonaro, já que a Câmara seria presidida por um deputado tutelado pelo Planalto. Além disso, o “Centrão” não apenas controlaria a Casa e sua pauta, como o bloco seria premiado com cargos no alto escalão do governo.
Para o deputado Paulo Pimenta (PT-RS), “a eleição de Arthur Lira é uma tentativa de Bolsonaro de impedir que, mesmo que se crie o ambiente do impeachment, ele tenha alguém de sua confiança na presidência”.
Na avaliação do diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Antônio Augusto de Queiroz, o Toninho, o candidato de Maia manteria a Câmara independente e, ao contrário de Lira, Baleia Rossi “não vai perseguir as oposições, os movimentos sociais, não vai deixar de abrir CPI e nem impeachment, se as condições estiverem dadas” (leia aqui).