Bolsonaro escreve a própria carta “em favor da democracia” no Twitter

Em atitude patética, presidente mostrou seu desespero com os movimentos da sociedade civil contra incitação golpista: "'Por meio desta, manifesto que sou a favor da democracia'. Assinado: Jair Messias Bolsonaro"

Foto: Alan Santos/PR

Por Plínio Teodoro.

As manifestações em defesa da democracia, que ganham a adesão de uma parcela significativa da sociedade, estão apavorando Jair Bolsonaro (PL), que foi às redes entre o fim da noite desta quinta-feira (28) e a madrugada desta sexta-feira (29) divulgar a própria carta, em um misto de desespero e ironia.

Após atacar os dois grandes manifestos – um organizado pela Faculdade de Direito da USP e outro pela Fiesp – em sua live semanal, o presidente foi ao Twitter às 23h37 e divulgou sua carta, em uma atitude patética.

“CARTA DE MANIFESTO EM FAVOR DA DEMOCRACIA. ‘Por meio desta, manifesto que sou a favor da democracia’. Assinado: Jair Messias Bolsonaro, Presidente da República Federativa do Brasil”, escreveu.

Cerca de meia hora depois, já no início da madrugada, Bolsonaro voltou à rede e mostrou sua desolação com o movimento de repúdio da sociedade as incitações ao golpe que tem feito.

“Se eu defender menos transparência nas eleições, financiar ditaduras comunistas na América Latina, manter diálogos cabulosos com o narcotráfico e tentar controlar a mídia, serei chamado de democrata? Ou na verdade isso não depende do que se diz, mas de que lado você está?”, escreveu o presidente.

As publicações receberam adesões de aduladores que ganharam cargos no governo, como o assessor especial da Presidência Filipe Martins e o ex-presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo. Ao mesmo tempo, grande parte dos internautas rechaçaram o ato dramático do presidente.

Ataques na live

Horas antes, em sua live semanal, Bolsonaro mostrou que está abalado com os dois grandes manifestos, em especial com a carta elaborada pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que ainda será lançado e já ganhou o apoio, inclusive, da Federação Brasileira de Bancos (Febraban).

“Não entendi. É uma nota política em ano eleitoral (…) Não consigo entender. Estão com medo do quê, se eu estou há três anos e meio no poder. Nunca teve uma palavra minha, uma ação, um gesto… Nunca falei em controlar a mídia, controlar as mídias sociais, democratizar a imprensa. Nunca. Por quê isso aqui?”, questionou o presidente – assista ao vídeo.

Além da manifestação da Fiesp, outra carta, organizada pela Faculdade de Direito da USP, que já reuniu, em poucos dias, mais de 300 mil assinaturas, incluindo artistas, intelectuais, políticos, empresários e ex-ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

Cartinha

Na quarta-feira (27), quando a Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em Defesa da Democracia e do Estado de Direito divulgada pela Faculdade de Direito da USP atingiu 100 mil assinaturas em apenas 24 horas, Bolsonaro, assim como fez nesta quinta-feira com o manifesto da Fiesp, já havia demonstrado incômodo.

Em uma convenção do PP, afirmou que não precisa de “cartinha nenhuma” para defender a democracia e mostrar seu apoio às instituições.  O mais curioso é que, na Carta, o nome do presidente não é citado. A Carta expressa a preocupação com desvios autoritários que ameaçam democracias, dando como exemplo a invasão do Capitólio, em Washington, nos EUA, e deixou claro o compromisso de todos os que defendem a liberdade democrática em se unir contra esse tipo de agressão.

 

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