Por Marcelo Auler.
No buraco que o governo ilegítimo de Michel Temer nos colocou, do qual ele próprio não sabe como sair, já que suas propostas de mudanças ao estilo neoliberal não conseguem prosperar, está levando diversos setores da sociedade, em especial da oposição, debaterem um projeto e um caminho a ser seguido pelo país. Hoje em dia já não basta mais o Fora Temer. É preciso unir quem se opõem ao governo através de bandeiras únicas: a volta da legalidade; o respeito ao Estado de Direito; o combate à reforma da previdência tal como foi proposta; a luta contra as mudanças na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) as quais, se adotadas, precarizarão os empregos e contribuirão, em muito com o desemprego, aumentando ainda mais os problemas da previdência social; a defesa de programas sociais que estão sendo esvaziados.
Nos últimos dias se multiplicaram os grupos que discutem a situação do país. Alguns são seminários abertos, como o promovido pelo Sindicato dos Engenheiros e a Federação Interestadual dos Sindicatos dos Engenheiros, como mostramos na postagem Para onde vamos? O que queremos?. Há também grupos menores, mobilizados em torno de projetos específicos.
No sábado (08/04) o sindicato dos Petroleiros, na Avenida Passos, lotou com professores participando de um debate sobre a Educação Infantil no município do Rio de Janeiro, promovido pelo Sindicato Estadual dos Profissionais de Ensino – SEPE-RJ. No mesmo dia, a Frente Brasil de Juristas pela Democracia do Rio também se reuniu para discutir os próximos passos na luta pelo restabelecimento do Estado Democrático de Direito e na defesa da Legalidade Democrática.
Os debates não giram somem em torno de saídas, mas também – e, principalmente – de resistência. Como, por exemplo, a resistência às propostas de reforma trabalhistas. Nesta segunda-feira (10/04), o Ministério Público do Trabalho volta a reunir o Fórum Interinstitucional de Defesa do Direito do Trabalho e da Previdência Social. Como noticiamos em Temer: em dez meses, retrocesso de 100 anos!, ele foi criado objetivando promover a articulação para combater as propostas legislativas que resultarão em perdas de direitos dos trabalhadores. Nesta segunda-feira vai girar em torno do relatório do deputado Rogério Marinho (PSDB-RN), a ser apresentado na comissão especial da Câmara. Nele, pelas previsões, haverá mais corte de direitos trabalhistas.
A mobilização se espalha e chega a setores jamais esperados pelo governo, como o caso da Conferência dos Religiosos do Brasil – CRB que emitiu carta, em 08/03, convocando as lideranças, religiosos/as, colaboradores, e pessoas atendidas nas unidades sociais, escolas e universidades, hospitais, centros de atendimentos mantidos por entidades religiosas para mobilizarem-se contra a Reforma da Previdência (PEC 287/2016), que também visa acabar com a filantropia no país.
“Como ação prática, sugiro que enviem centenas, milhares, milhões de e-mails, aos deputados e senadores. Usemos as redes sociais para denunciar mais esse abuso de poder econômico e político de poucos que marginaliza quem trabalhou com seriedade durante séculos em favor dos necessitados. Participemos de manifestações públicas com esse objetivo”, sugeriu na carta a presidente da CRB, a freira Maria Inês Vieira Ribeiro.
Nessa mobilização está a esperança do teólogo Leonardo Boff, para quem, a saída da crise terá que vir “da Base”. Na mão dos movimentos sociais e do povo que mais sofre é que ele deposita as suas esperanças do Novo, como afirma no depoimento abaixo:
“Para mim a utopia não pode vir do sistema. Já Einstein dizia que o pensamento que criou a crise não pode ser o mesmo que nos tira da crise. Nós temos que ter outro pensamento, outro sonho, outra prática. Para mim só pode vir da base. Eu quero lembrar aqui a frase do papa, porque ele se reuniu quatro vezes – três em Roma e uma vez na Bolívia, em Santa Cruz de La Sierra, com os movimentos sociais mundiais, Disse, “vocês têm que lutar pelos três T – Trabalho, Terra e Teto; segundo, não esperem nada de cima, porque o sistema reinante é um sistema de morte, sistema antivida. Vocês têm que ser os protagonistas de ter um sonho novo. Organizem cooperativas, outra forma de produzir, de consumir. Unam-se e articulem todos os movimentos para apresentarem uma alternativa. Tenham um sonho grande, não só para vocês, para a humanidade”.
(…) ele repete sempre isso, “vocês são aqueles condenados a ter sonho, porque vocês são violados, desprezados, humilhados. A defesa de vocês é sonhar outro mundo, não só diferente, necessário. Vocês têm que começar a construir“. (Ouças a íntegra do depoimento, abaixo)
Fonte: Marcelo Auler.