Por Marcos Ferreira.
Em 2014 o governo democrata dos Estados Unidos apoiou a tentativa de tratar como inválidas as eleições brasileiras que deram vitória a Dilma Roussef. Acabada a votação, o PSDB já anunciava sua disposição de impedir Dilma de governar.
Agora, mesmo eleito pelas regras vigentes nos Estados Unidos, se Biden tomar posse, terá que começar seu governo sob a acusação de ter fraudado as eleições para chegar ao posto. As palavras são outras, mas o sentido é o mesmo: impedir o escolhido pelas urnas de levar adiante o programa de governo que foi escolhido pelos eleitores.
Essa é a estratégia de curto prazo. A de longo prazo é estabelecer um ambiente belicoso com tudo que seja diferente do que pensam os machos brancos e racistas, ancorados em posições de extrema direita.
E sob que argumentos Trump alega a fraude? Assim como foi com Aécio, nenhum. Vale a tese de que “ou o eleito sou eu, ou a eleição não vale”. Se a realidade não se ajusta à minha vontade, azar da realidade.
Trump orientou seus eleitores a não votarem por correspondência, muito antes do período eleitoral. Ele já sabia que os democratas estavam mais atentos à necessidade de manter distanciamento social. Que eles votariam em grande número por correio.
Começada a apuração com os votos de quem foi às seções eleitorais, ele sabia que começaria vitorioso. Então, logo na primeira noite tentou uma “carteiraço”. Quis para a apuração dizendo que era suficiente e já podiam parar de contar. Fez uma proclamação como presidente eleito. Seria uma palhaçada, se não houvesse risco de levar adianta insanidade.
Não foi atendido na suspensão da apuração, avisou que recorreria ao judiciário. Segue pretendendo anular as eleições e fazer com que o colégio eleitoral seja composto por delegados indicados pelos parlamentos regionais ou pelos governadores dos estados onde perdeu esta eleição, mas tem maioria republicana. Tudo dentro da lei e da constituição, mas a partir de uma falsificação, como no caso brasileiro.
Chama a atenção da imprensa brasileira de dar o nome adequado ao que Trump está fazendo. Trata-se de uma tentativa de golpe. Um golpe que, como no Brasil, foi cuidadosamente planejado.
O jornal The Guardian não tem dúvidas. Coloca na sua capa que Trump está jogando, fazendo apostas (talvez, blefando) com a democracia estadunidense. Em outros momentos os republicanos já conseguiram criar sinucas e ficar com o posto. Mas não com um colégio eleitoral tão amplamente democrata.
Parece que o risco é de a imprensa brasileira chamar de tentativa de golpe e ver as semelhanças com Dilma serem reconhecidas. Então, ter que assumir que apoiaram o golpe de 2016 no Brasil.