Atletas olímpicos apoiam a Palestina e mostram que o esporte é também plataforma de luta

Fethi Nourine se recusou a competir com judoca israelense por considerar o ato normalização com um estado criminoso | Foto: Reprodução Redes Sociais

Com exemplar posicionamento político, dois atletas mostraram a importância do engajamento no esporte nesta edição de 2020 das Olímpiadas em Tóquio.

Os judocas Fethi Nourine e Mohamed Abdalrasool se recusaram a lutar com o israelense Tohar Butbul na categoria de 73kg da modalidade.

Fethi Nourine, jovem de origem argelina, foi o primeiro a anunciar a decisão de não competir com o israelense e foi punido pela Federação Internacional de Judô. Apesar das ofensivas em relação à sua postura, Fethi não se arrependeu e afirmou que seu apoio à causa palestina era mais importante do que as Olímpiadas. O atleta defendeu: “Não vamos fazer com que a bandeira de Israel seja erguida e não vamos sujar as mãos lutando com um israelense”.

Mohamed Abdalrasool, do Sudão, também não compareceu no horário marcado para a luta contra o israelense. Apesar de até o momento não ter sido divulgada oficialmente uma justificativa para o abandono de Mohamed, acredita-se que a motivação do sudanês seja a mesma de Fethi.

As recusas são um ato de protesto aos processos de normalização com o estado ocupante de Israel, que viola direitos humanos básicos e vai contra as leis internacionais em seu projeto de limpeza étnica e de imposição do apartheid na Palestina histórica.

Se os Jogos Olímpicos celebram a diversidade e a paz, não deveriam abrir espaço e aceitar nas competições estados sabidamente criminosos como é Israel contra os palestinos.

Tohar Butbul já esteve em mesma situação com Fethi, quando em 2019 também optou por desistir do Campeonato Mundial ao saber que teria que lutar contra Butbul. À época, o motivo não foi publicado de imediato.

Nas Olímpiadas de Tóquio, o judoca Butbul terminou em sétimo lugar no quadro de classificação para a categoria de 73kg.

Outros exemplos – Muito apoio e reverência, mas também muitas críticas aos atletas foram expressas nas redes sociais. Para alguns, não é correto falar de política nos espaços de esporte. Mas, historicamente, são nestes eventos que atletas engajados levantam sérios debates para chamar atenção da opinião pública.

Para os Jogos de Tóquio, a estimativa de público que acompanha por televisão e plataformas de streaming gira em torno de 5 mil milhões de espectadores – ou mais de 65 por cento da população mundial, o que faz do evento o momento perfeito para levantar temas políticos e sociais importantes.

Este não foi o primeiro nem o último exemplo de manifestação política nos esportes, em especial nas Olímpiadas. Em 2016, durante as Olimpíadas de 2016, o judoca egípcio Islam El Shehaby deixou a competição após se recusar a apertar a mão do rival israelense Or Sasson.

Harry Blutstein, autor de “Jogos de Descontentamento: Protestos, Boicotes e Política nos Jogos Olímpicos do México 1968”, lista em sua pesquisa, como primeiro protesto ocorrido em jogos olímpicos, o caso de um irlandês, em 1906, em Atenas, Grécia.

Tommie Smith e John Carlos levaram o protesto contra o racismo nos Estados Unidos para o pódio

Durante a cerimônia de entrega da medalha, o segundo classificado no salto em distância, o irlandês Peter O’Connor, abriu uma grande bandeira verde, bordada com um trevo e as palavras “Erin Go Bragh” (Irlanda para sempre), palavra de ordem popular do movimento de independência irlandês. O ato foi uma oportunidade para abordar a luta irlandesa contra o colonialismo, e resultou em uma intensa cobertura mediática na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos.

Outro caso clássico é o de Tommie Smith e John Carlos, nas Olímpiadas de 1968, no México.

Os competidores campeões nos 200 metros de sprint realizaram o memorável protesto com punhos erguidos no pódio.

O medalhista de prata, o australiano Peter Norman, apoiou o protesto utilizando um broche verde e branco com as consignas “Projeto Olímpiadas pelos Direitos Humanos”.

Tommie e John ergueram o punho durante o hino, os dois usavam uma luva preta. O momento denunciava o racismo nos Estados Unidos e expressava dessa maneira a importância de uma longa luta do movimento negro por direitos civis.

O protesto acabou com as vaias e ofensas racistas de norte-americanos que acompanhavam a entrega das medalhas no estádio.

Mais de 50 anos depois, embora o Comitê Olímpico tenha flexibilizado regras e permitido protestos antes das competições, ainda há restrições para manifestações durante a entrega de medalhas, por exemplo.

Um grupo de mais de 150 atletas e ativistas assinou uma carta exigindo que o Comitê revogasse qualquer tipo de proibição. No manifesto, os signatários afirmam que é preciso avançar, respeitando a “liberdade de expressão como um direito humano fundamental” assim como “a justiça racial e social no esporte em nível global”.

Estes ativistas defendem que nenhum atleta deveria permanecer neutro, porque “permanecer neutro significa permanecer em silêncio, e permanecer em silêncio significa apoiar uma injustiça contínua”.

Viva a dedicação ao esporte e à luta por justiça social, que podem e devem caminhar juntas. Viva a Palestina Livre! Viva a luta contra o apartheid israelense, o racismo, o colonialismo, o machismo e a violência contra o povo oprimido!

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