Assembleia Legislativa de SC se definirá: Nazismo ou democracia?

Por Raul Longo.

Observadores internacionais apontam o período histórico das ditaduras militares da América Latina como o de reinstauração da orientação nazista no nosso continente.

O golpe militar de 1º de Abril de 1964 é apontado como o início desse processo e um dos métodos utilizados para o controle do território nacional pelos moldes nazistas foi a supressão dos direitos políticos de toda a população brasileira.

Durante mais de duas décadas os brasileiros foram impedidos de escolher quem presidiria o país e governaria os estados. Para ampliar e aprofundar seus poderes totalitários, os militares determinaram como área de segurança nacional a todas capitais de estado, cidades de fronteira e estâncias hidrominerais e turísticas; proibindo também aí a escolha de prefeitos.

Para administrar estes municípios eram indicados interventores, evidentemente de mesma orientação ideológica dos detentores do poder federal. No município catarinense Balneário Piçarras, o primeiro interventor indicado pela ditadura militar foi Francisco Leopoldo Fleith.

Além da cassação do direito de escolha de governantes e administradores municipais, outra medida francamente nazifascista da ditadura militar foi a cassação dos direitos de políticos já escolhidos através do voto como representantes da população com legitimidade democrática.

Em Santa Catarina o deputado cassado através desse processo foi Paulo Stuart Wright, filho de cidadãos norte-americanos radicados no estado, formado em engenharia e democraticamente eleito deputado estadual em 1963. Em 1973 Stuart Wright foi apreendido pelos órgãos da repressão da ditadura militar que, a exemplo da Gestapo na ditadura de Adolfo Hitler, executava os considerados inimigos do regime totalitário.

Em homenagem àquele combatente pela reinstauração democrática no país, se denominou uma rodovia da região litorânea do estado de São Catarina, mas o deputado Gilmar Knaesel (PSDB) sugeriu e foi aprovada pela mesma casa à qual Stuart foi eleito em 73, a substituição da homenagem à democracia pela exaltação a Leopoldo Fleith.

Os motivos apresentados pelo deputado do PSDB para a substituição da homenagem: 1 – Fleith foi o primeiro interventor do município de Piçarras. 2 – Fleith foi importante latifundiário da região.

Depois de forte pressão popular o governador de Santa Catarina vetou o projeto apresentado pelo parlamentar do PSDB. Agora caberá à Assembleia Legislativa de Santa Catarina manter ou derrubar o veto governamental.

Conforme a nota abaixo copiada, a Comissão Nacional da Verdade insta os deputados estaduais a se definirem: ou assumem orientações ideológicas herdadas do nazismo ou encaram os cargos que ocupam, e seus eleitores, como consequências e responsabilidades democráticas.

A conferir!

 

COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE
SUBCOMISSÃO DE COMUNICAÇÃO EXTERNA

ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO


22/11/2012 – Comissão Nacional da Verdade pede que estrada em SC permaneça com o nome de Paulo Stuart Wright

Para a CNV, retirar a homenagem a Wright é “despropositada”

A Comissão Nacional da Verdade comunicou hoje o presidente da Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc), Gelson Merísio, que o veto do governador Raimundo Colombo ao projeto de lei 199/2011 deve ser mantido pela casa legislativa.

Pelo projeto de lei 199/2011, aprovado em julho pela Alesc, a rodovia SC-414, conhecida popularmente como Variante, teria seu nome alterado de Paulo Stuart Wright para Francisco Leopoldo Fleith.

Após forte pressão popular, o governador rejeitou em agosto a mudança do nome da rodovia aprovado pela assembleia, vetando o projeto.

Entretanto, a Alesc pode, a qualquer momento, pautar o veto do governador e derrubá-lo.

Informada da situação por representantes da sociedade civil catarinense, a CNV deliberou por unanimidade que o veto governamental à mudança do nome da cidade deve ser mantido.

Segundo ofício remetido pelo coordenador da Comissão Nacional da Verdade, Claudio Fonteles, para Merisio, “a alteração do nome da Rodovia Paulo Stuart Wright é cabalmente despropositada”.

“O olvido (esquecimento) de pessoa que se empenhou, com a própria vida, em defesa de valores da Democracia gravemente compromete a formação da sociedade brasileira, que se quer sempre livre, jamais abafada pela truculência das soluções ditatoriais”, afirma o documento da CNV (leia a íntegra).

QUEM É WRIGHT – Natural de Joaçaba, Santa Catarina, Paulo Stuart Wright era filho de missionários presbiterianos. Após viver cinco anos nos Estados Unidos, ele retornou ao Brasil para não lutar na Guerra da Coreia. Aqui, após um período em São Paulo, retornou ao estado natal onde fundou cooperativas de pescadores e se elegeu deputado estadual.

Em 1964, a Assembleia Legislativa de Santa Catarina o cassou supostamente pelo fato de não usar gravata nas sessões. Após a cassação, ele foi viver no México e, anos depois, retornou ao país, onde foi um dos organizadores da Ação Popular no sul do país, militando na clandestinidade até ser preso, em 1973, por agentes do Doi-Codi de São Paulo. Está desaparecido até hoje.

Paulo é irmão do pastor Jaime Wright, que, junto com o cardeal Paulo Evaristo Arns, organizou a capitalização de recursos que resultou no relatório “Brasil: Nunca Mais”, primeiro documento a denunciar ao grande público as torturas e assassinatos praticados pelo regime.

Assessoria de Comunicação
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Foto:Floripanews Homenagem ao ex-deputado Paulo Stuart Wright, promovida pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República.

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