Arte de contestação: Teatro Oficina faz ensaio aberto de Roda Viva

O Teatro Oficina realizou ensaio aberto da peça Roda Viva e sua estréia está marcada para 16 de dezembro. A obra tem texto de Chico Buarque, foi brutalmente atacada pelo Comando de Caça aos Comunistas e censurada pela Ditadura Militar há 50 anos. Seu resgate em meio às eleições manipuladas é uma maravilhosa mostra de subversão e contestação artística, característica essencial do grupo dirigido por Zé Celso.

O Teatro Oficina nesta quarta, 24, realizou um ensaio aberto da peça Roda Viva em São Paulo. Centenas de pessoas formaram uma grande fila na rua Jaceguai, 520, antes mesmo da abertura das portas. O resgate da peça é simbólico e atual, a despeito dos 50 anos da sua primeira montagem pelo Oficina. Muitos dos que esperavam vieram de manifestações que aconteceram contra Bolsonaro em diversos lugares da cidade.

Em 1968, em São Paulo, a peça ficou marcada pela invasão do grupo paramilitar de extrema-direita Comando de Caça aos Comunistas (CCC), que agrediu os artistas e destruiu suas instalações. Também, como parte da repressão e perseguição aos ativistas e opositores ao regime, a peça foi censurada pela Ditadura Militar que a enquadrou na Lei de Segurança Nacional e proibiu sua apresentação. O moralismo típico da extrema-direita não suporta a livre manifestação artística e quer impor pela força sua visão opressora e exploradora.

Em tempos de censura à arte, como nos casos da mostra “Queermuseu” em Porto Alegre, no Museu de Arte Moderna em São Paulo ou outros, além da crescente perseguição e censura feita pelo TSE contra dezenas de universidades que se expressam contra as atuais manifestações da extrema-direita alentadas pela candidatura de Bolsonaro, retomar a peça Roda Viva é um ato estimulante à resistência e organização necessárias para enfrentar os desafios que se esboçam àqueles que não aceitam amarras e nem mordaças.

Com cenário e figurino ainda experimentais, o ensaio foi apenas do primeiro ato da peça. Sob a base do texto de Chico Buarque, a nova direção de Zé Celso incorporou elementos novos, como a música “Caravanas”, do novo álbum de Chico. A sátira com a tragédia política atual é marcante e provocativa. A fabricação do herói a partir do ridículo, a compra e venda da moral, bem como a manipulação massiva deram o tom, com muita genialidade e referências atuais.

Ao final do ensaio a típica mistura de atores, cenário e público culminou numa grande manifestação que gritou “ele não”, além do canto coletivo junto à percussão e coro da música Roda Viva de Chico. A estreia da peça está marcada para o dia 16 de dezembro deste ano, no SESC Pompéia.

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