Argentina: identificam os restos mortais de um operário assassinado pela ditadura em 1976

Nova identificação no Pozo de Vargas: são encontrados restos mortais de um trabalhador desaparecido em 1976.

Imagem: Catamarca es Noticia

Por Aire vision – 23 de fevereiro de 2025

Como parte das investigações sobre os crimes da última ditadura civil-militar, a Equipe Argentina de Antropologia Forense (EAAF) confirmou uma nova identificação no Pozo de Vargas, a maior fossa clandestina do país, localizada em Tafí Viejo, Tucumán. Este é René Salustiano Ruiz, um trabalhador da indústria açucareira de 40 anos, sequestrado em 2 de junho de 1976 na cidade de Caspinchango. Seus restos mortais foram encontrados entre os de outras vítimas do terrorismo de Estado.

“Meu avô passou anos viajando por aldeias a cavalo, procurando alguma pista sobre seu irmão. “Ele morreu sem ter sido encontrado”, disse um parente de Ruiz. A identificação foi realizada no âmbito da Iniciativa Latino-Americana para a Identificação de Pessoas Desaparecidas, e sua família já foi notificada.

O Poço Vargas foi fundamental para solucionar crimes contra a humanidade. Desde que as escavações começaram em 2002, 120 indivíduos foram identificados, embora os restos recuperados pertençam a pelo menos 145 indivíduos. No interior, além de restos de ossos, foram encontrados objetos pessoais como carteiras, sapatos e crucifixos, evidências conclusivas das atrocidades cometidas durante a repressão.

O contexto do sequestro de Ruiz

Ruiz estava trabalhando em uma pequena usina de açúcar em Caspinchango quando foi sequestrado por uma força-tarefa do Exército nas primeiras horas de 2 de junho de 1976. Testemunhas do incidente disseram que pelo menos 20 soldados entraram violentamente em sua casa, transportando-o em caminhões junto com outros detidos. Seu desaparecimento fazia parte da perseguição sistemática aos trabalhadores do açúcar e das ferrovias, considerados opositores do regime.

O terror da Operação Independência

O sequestro de Ruiz ocorreu no contexto da Operação Independência, iniciada em Tucumán em fevereiro de 1975, sob o comando do general Adel Vilas e posteriormente continuada por Antonio Domingo Bussi. Esta operação, que antecedeu o golpe de Estado de 1976, tinha o objetivo oficial de “aniquilar” a guerrilha, mas na prática resultou na repressão de trabalhadores, estudantes e ativistas sociais. Em cidades como Caspinchango e Santa Lucía, o Exército impôs um regime de terror, com incursões ilegais, sequestros e prisões arbitrárias.

Os testemunhos que ajudaram a reconstruir a sua história

Em julgamentos por crimes contra a humanidade, testemunhas forneceram informações importantes sobre o destino de Ruiz. Juan Manuel Quinteros, ex-detento de Caspinchango, testemunhou no julgamento do “Arsenal Miguel de Azcuénaga” que viu Ruiz no centro de detenção clandestino de mesmo nome. Outros testemunhos o colocam na prisão de Villa Urquiza antes de seu assassinato e posterior esconderijo em Pozo de Vargas.

Memória e resistência

Em 7 de fevereiro, em um evento comemorativo dos 50 anos da Operação Independência, a prefeita de Tafí Viejo, Alejandra Rodríguez, disse: “Recebemos essa identificação com esperança. Não permitiremos que o discurso negacionista torne invisível o horror que estamos vivenciando.” O Secretário de Direitos Humanos de Tucumán, Mario Racedo, reafirmou o compromisso de continuar a busca pela verdade e justiça.

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