Argentina. Financial Times de olho na vice-presidenta Victoria Villarruel: “Ela precisa ser observada de perto”.

Villarruel em Bariloche

O Financial Times, uma das mídias mais influentes na esfera econômica e política global, publicou um artigo em sua página inicial sobre o perfil da vice-presidenta da Argentina. O título do artigo publicado é o que muitos poderiam interpretar como uma premonição do futuro destino do governo de Javier Milei: “Victoria Villarruel: a vice-presidenta linha-dura da Argentina busca reescrever sua história”.

A verdade é que Villarruel, talvez sem nem mesmo imaginar, conseguiu atrair a atenção do Financial Times, que voltou seu texto influente e seu olhar para ela, a ponto de dedicar-lhe um artigo especial. O artigo tem a particularidade de citar um diplomata residente em Buenos Aires, que expressou seu desejo de que a atual vice-presidenta tome a iniciativa de formar seu próprio projeto político e, eventualmente, concorrer como candidata à presidência nas próximas eleições. Villarruel “está pronta para tudo”, de acordo com o diplomata.

“Acho que você tem que observá-la cuidadosamente; ela está pronta para qualquer coisa”, diz a citação, que foi destacada pela mídia britânica, e que a própria Villarruel escolheu para publicar o artigo em sua conta pessoal na rede social X.

Personalidades opostas

Em um artigo extenso e detalhado no FT, traçando uma linha divisória clara, a mídia britânica a diferenciou de Javier Milei, enfatizando suas personalidades opostas. O artigo observa o forte contraste: de um lado, Milei, “um economista libertário que promete reformas drásticas”, do outro Villarruel, que é definida como uma “ativista que construiu sua carreira com base em um conservadorismo cultural rígido”.

Um mandato incompleto?

O artigo, duro e contundente, aponta que um ponto que os analistas consideram “crucial”, dado o status de Milei como um outsider político, deve ser levado em conta. Embora Villarruel seja a primeira pessoa na fila para a sucessão presidencial, o libertário tem pouca representação legislativa, o que representa “uma possibilidade real de que ele não termine seu mandato de quatro anos”.

Mais “polido” e “refinado”, mas sem experiência econômica

Também em seu extenso perfil da vice-presidenta, o FT destaca sua inexperiência em questões econômicas que dominam o debate atual. De acordo com o jornal, ela tem se concentrado em “compreender a história argentina do século XX”. O jornal analisou sua atividade nos últimos 20 anos como fundadora de uma ONG, palestrante de TV e sua constante denúncia dos crimes das guerrilhas de esquerda no início da década de 1970.

Apesar de sua falta de conhecimento sobre assuntos econômicos, o artigo aponta que Villarruel tem um “polimento” político e cultural que a eleva acima de Milei, definido como “excêntrico, com explosões irascíveis e um penteado selvagem”. O artigo observa que Villarruel e Milei se conheceram em um estúdio de TV em 2017. Citando Juan Luis González, jornalista do Perfil e biógrafo do atual presidente, ele teria decidido se reunir na época da fundação do A Liberdade Avança. De acordo com o autor, ele havia sido aconselhado, para completar sua fórmula com sucesso, a se aproximar de uma “figura polida” longe do círculo libertário.

Uma agenda “extremamente clara”

Continuando com a descrição e o delineamento feitos pelo FT, o artigo cita Villarruel como “uma figura com sua própria agenda e extremamente clara”, nas palavras do consultor político Juan Germano. A mídia também se refere às palavras de um “colaborador próximo” da vice-presidenta: “ela não chegou aqui por ser um rosto bonito, ela foi trazida aqui por suas ideias. Ela vem se preparando para isso há anos, porque sente que uma grande parte da sociedade não foi ouvida por um longo tempo”.

A coincidência

O artigo do FT lembra que Villarruel começou sua atividade política no início dos anos 2000, paralelamente à gestação do kirchnerismo. Ela enfatizou que a coincidência que a une a Milei é a oposição à legalização do aborto. Outras causas da vice-presidenta incluem a crítica à “doutrinação dos direitos LGBTQ” nas escolas e a condenação do que ela considera ser a “impunidade” dos criminosos na Argentina.

Contra a narrativa dos direitos humanos

Entretanto, o jornal britânico aponta que a causa central que move a Vice gira em torno da narrativa ou do relato do que aconteceu na Argentina no final do século XX. O FT cita Villarruel: “Tudo o que vocês ouviram sobre o passado da Argentina nos últimos 40 anos é falso e foi construído pela esquerda” (Conferência em Madri, 2002).

O artigo do FT ressalta que, ao se desvincular da narrativa, Villarruel fala de uma Argentina que sofreu uma “guerra” iniciada por grupos armados de ultraesquerda que “atacaram o Estado e aterrorizaram a população; houve abusos durante a luta contra esses grupos armados”. De fato, em seu título, o artigo britânico diz: “A vice-presidenta ativista de Javier Milei desafia a narrativa dos últimos 40 anos”.

Seriedade diante da loucura: debate “crucial”

O jornal também cita Adriana Amado, colunista de longa data e analista política, que destacou corretamente as habilidades de Villarruel como comunicadora. Isso ficou particularmente evidente no debate entre os candidatos a vice-presidente, no qual ela enfrentou Agustín Rossi. O debate foi “crucial” na campanha presidencial. “Sua presença como uma pessoa mais séria foi um bom contrapeso à personalidade mais louca de Milei”, disse Amado.

O colaborador da vice-presidenta teria dito ao FT que “ela começará a construir um consenso sobre ideias mais amplas que ela defende e que fazem parte do A Liberdade Avança”. No entanto, um empresário afirmou que há “uma desconexão, quando você pergunta a Villarruel sobre Milei, ela não quer responder. Acho que têm valores fundamentalmente diferentes”, disse ele.

O artigo do FT, uma espécie de perfil político, termina com a frase contundente do diplomata: “Ela está pronta para tudo”, e parece ser uma descrição que caiu muito bem para a própria Villarruel.

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