Por Lucas Vasques.
Ao aprovar a concessão do título de cidadão amazonense a Jair Bolsonaro, a Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam) provocou revolta e indignação, especialmente em pessoas homenageadas pelo mesmo reconhecimento. Alguns devolveram a honraria, de acordo com reportagem de Ana Luiza Basilio, em Carta Capital. O título deve ser entregue na próxima sexta-feira (23).
A informação sobre a homenagem ao presidente foi divulgada, com exclusividade, pela Fórum, nesta terça (20), um dia depois de o Amazonas atingir 2.903 mortes por milhão e aparecer em 1º no ranking como estado com mais vítimas de Covid-19 a cada milhão de habitantes.
Um dos agraciados que abriram mão do reconhecimento é o professor aposentado Menabarreto França. Em 2003, ele recebeu medalha de honra ao mérito pelas contribuições ao estado. França atuou por 35 anos como professor de saúde coletiva na Universidade Federal do Amazonas.
“Isso é uma barbárie, uma perversidade. Seria a maior decepção da minha vida constar em uma mesma galeria junto desse indivíduo”, disse, indignado.
“Como imaginar que Bolsonaro seja condenado pelas questões da pandemia aqui no estado se o próprio Amazonas concede um título dessa natureza a ele?”, questionou.
O Movimento Social do Amazonas, em nota, repudiou a ação da Assembleia: “O Brasil todo acompanhou a tragédia vivenciada pelos amazonenses, sem oxigênio, sem UTI, sendo tratados com remédios sem eficácia cientifica, sofrendo com o descaso do governo federal e provocando uma tragédia que poderia ter sido evitada”, diz um dos trechos.
“Conceder esse título é uma afronta à sociedade amazonense, é desconsiderar o sofrimento de mais de doze mil famílias do Amazonas e de trezentas e setenta e duas mil famílias no Brasil todo”, acrescenta.
O projeto de lei aprovado na Aleam é de autoria do deputado Delegado Péricles (PSL).
Questionamentos
O deputado Dermilson Chagas (Podemos), por sua vez, questionou a homenagem. “O que o Bolsonaro fez para ter direito ao título de cidadão amazonense? Na minha opinião, nada”, disse.
“O mote dele aqui são os cargos para o Senado, deputado federal e possivelmente ao governo. Se ele não vier fazer política, já fará um favor ao Amazonas. Se ele não quiser empurrar hidroxicloroquina e ivermectina, já faz um favor para a gente. Se ele der paz para o Brasil, já estará fazendo um grande favor a todo o povo brasileiro que já teve um ente querido ceifado pelo coronavírus”, criticou.
Nesta sexta (23), quando Bolsonaro estiver em Manaus para receber a honraria, está marcado um ato de repúdio às 8h30, em frente à sede da Aleam.