Após ser espancado por PMs, carroceiro foi preso por extorsão e desacato

Segundo delegada que prendeu o homem em situação de rua, ele não quis se manifestar no DP e os documentos têm apenas a versão dos PMs que o agrediram e de uma suposta vítima de extorsão

Espancado por dois policiais em vídeo que viralizou nas redes sociais na segunda-feira (18/6), um carroceiro além de ser agredido pelos representantes do Estado ainda foi preso em flagrante por extorsão e desacato. A SSP (Secretaria da Segurança Pública) de SP afastou os dois policiais militares que chutaram o homem já caído.

As informações obtidas pela Ponte constam em documentos da Polícia Civil assinados pela delegada Bruna Fanny Oliveira Lemos. Nos arquivos, ela explicou que o carroceiro não quis se manifestar para explicar o ocorrido na tarde de sexta-feira (15/6), registrando assim somente os depoimentos de uma suposta vítima de extorsão e dos dois policiais que o agrediram.

Segundo a versão contada pelo soldado Vitor Almeida Vieira e pelo cabo Emerson José Martins, o homem teria cobrado dinheiro de uma mulher para retirar sua carroça de coletar recicláveis que estava em frente ao estacionamento de um mercado. Ele estaria “exaltado”, conforme os policiais, e “jogou o braço” e acertou Vieira no rosto. Os PMs disseram à delegada que ele os xingava de “filho da puta, vermes, vagabundos” enquanto se debatia e se jogava no chão.

Em nenhum momento os policiais citam os chutes que deram nas costas e na cabeça quando o homem estava no chão. Contam que foi o catador quem agrediu ao “morder a perna” de Martins. Também omitem o empurrão na companheira do homem. O caso aconteceu em frente a unidade do mercado Dia da Rua Trípoli, no bairro da Vila Leopoldina, zona oeste de São Paulo.

No vídeo, gravado por uma testemunha, os dois PMs chutam o homem já caído, tanto nas costas como na cabeça. A companheira do homem em situação de rua tenta evitar as agressões, mas é empurrada. Em determinado momento, a câmera filma a viatura de placa FMS 2935, quando é possível ouvir um tapa dado pelos policiais.

A dupla usou algemas para levar o homem ao 91º DP (Distrito Policial), no Ceasa, onde Bruna Fanny Oliveira Lemos considerou que houve grave ameaça por parte dele em direção à suposta vítima de extorsão, a constrangeu, agrediu e ofendeu os policiais. Assim, o autuou o carroceiro em flagrante por extorsão, desacato e resistência. No dia seguinte, ele passou por audiência de custódia e foi liberado.

Questionada pela Ponte, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) de São Paulo, liderada pelo general João Camilo Pires de Campos neste governo de João Doria (PSDB), informou que afastou os dois policiais até o fim da investigação desse caso. A dupla seguirá fora das ruas, em trabalhos administrativos.

No entanto, a pasta explicou que eles agiram em ocorrência que envolvia “um indivíduo desequilibrado” causando desordem na região. “Durante a tentativa de abordagem, houve resistência e uso de força, contudo a ação sugere flagrante descumprimento dos protocolos operacionais padrão de abordagem, o que motivou o imediato afastamento e instauração dos procedimentos legais de apuração”, aponta a SSP.

O governador de São Paulo, João Doria, postou um vídeo em seu perfil no Twitter para lamentar o ocorrido. “Quero deixar claro que este tipo de conduta não segue os protocolos operacionais da PM”, garantiu o tucano, que premiou PMs envolvidos na ação com 11 mortos em Guararema, na Grande São Paulo, a terceira mais letal na história da corporação.

“Ações dessa natureza não condizem com o trabalho e legado da Polícia Militar de São Paulo, a melhor Polícia Militar do Brasil. Nada justifica o excesso de violência. Todos sabem como respeito e admiro a Polícia Militar do Estado de São Paulo, que tem todo o meu apoio. Esta ação fugiu ao protocolo”, completou Doria.

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