Assessoria de Comunicação do CIMI.-
Após o assassinato do jovem Alex Recarte Vasques Lopes, de 18 anos, ocorrido no último sábado (21), a Aty Guasu – Grande Assembleia Guarani Kaiowá publicou uma carta lamentando o episódio e também o vasto histórico de violência de fazendeiros contra indígenas do povo Guarani Kaiowá.
De acordo com lideranças da comunidade, Alex teria deixado a reserva Taquaperi, em Coronel Sapucaia (MS), para buscar lenha numa área do entorno da terra indígena (TI). No local, teria sido assassinado, e seu corpo teria sido abandonado no Paraguai – em uma área a menos de dez quilômetros dos limites da reserva indígena.
“Alex, menino de 18 anos, cheio de sonhos, como as demais crianças e jovens lutavam – porque, no MS [Mato Grosso do Sul], para um Kaiowá viver é lutar – para ter um futuro em meio à violência e genocídio que nos cerca. Ele é o quarto da família extensa Lopes que é assassinado em Coronel Sapucaia desde 2007, em uma sequência de ataques que nunca para e que nunca parou contra nossos territórios”, diz um trecho da carta da Aty Guasu.
Vasto histórico de violência
O município de Coronel Sapucaia, separado da cidade de Capitán Bado, no Paraguai, registra um longo histórico de violência contra lideranças do povo Guarani Kaiowá. Conforme mostra uma matéria publicada pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi) no dia 22 de maio, em apenas dois anos foram assassinadas três importantes lideranças do tekoha Kurusu Amba, também localizado no município: a rezadora Xurite Lopes, em 2007, e as lideranças Ortiz Lopes, também em 2007, e Oswaldo Lopes, em 2009 – todos até hoje impunes.
Assim como a matéria do Cimi, a carta da Aty Guasu recordou o caso do jovem Denilson Barbosa – situação similar ao de Alex Lopes. Em 2013, Denilson foi assassinado por um fazendeiro quando pescava com amigos numa propriedade vizinha ao tekoha Pindo Roky – incluído no perímetro da TI Dourados – Amambaupegua I. A terra indígena foi identificada e delimitada em 2016 pela Fundação Nacional do Índio (Funai) e está com seu processo demarcatório paralisado desde então.
“Em nossa busca incansável por esta senhora [Justiça], não menosprezamos a sua esfera Estadual, e a qualidade de seus promotores, mas precisamos dizer que se este caso [do Alex Lopes], como aconteceu com Denilson Barbosa – outro jovem assassinado em Caarapó – acabar novamente nas mãos do Estado, estaremos condenados a ver ser estendido o genocídio sofrido por nosso povo, uma mortalha ou um pano tal qual hoje cobre o corpo de Alex”, afirmam as lideranças das Aty Guasu em carta.
“Se mais este caso [de Alex Lopes] acabar novamente nas mãos do Estado, estaremos condenados a ver ser estendido o genocídio sofrido por nosso povo”
Todos os casos mencionados acima possuem elementos em comum: além da impunidade dos autores dos crimes, guardam relação com a situação de confinamento e morosidade na demarcação das terras Guarani e Kaiowá, que inviabiliza o acesso a condições mínimas de subsistência e transforma o ato de circular por áreas reivindicadas e até reconhecidas como parte de seu território tradicional em ações perigosas e potencialmente fatais.
Protesto
Em protesto contra o assassinato do jovem Alex Lopes, o povo Guarani Kaiowá retomou uma fazenda no município de Coronel Sapucaia (MS), na fronteira com o Paraguai, na madrugada do último domingo (22).
No início da tarde de domingo, o acesso à retomada, denominada pelos indígenas de Tekoha Jopara, foi impedido por um bloqueio realizado por viaturas do Departamento de Operações de Fronteira (DOF). A barreira foi posicionada na rodovia MS-286, que atravessa a TI Taquaperi e também dá acesso a outras comunidades indígenas da região – que ficaram, na prática, isoladas.
Os Guarani Kaiowá cobram apuração federal do assassinato e temem ser alvo da violência de policiais e fazendeiros. A tensão no local ainda seguia na tarde da última segunda-feira (23): drones sobrevoaram a retomada e fazendeiros se reuniram na estrada, próximo ao local onde os Guarani Kaiowá estão acampados.
Veja a carta completa aqui.
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