Apoio aos caminhoneiros

Foto Fernando Frazão/Agência Brasil

Por Elenira Vilela, para Desacato. info.  

Aos trabalhadores rodoviários, sim! Aos caminhoneiros autônomos, os realmente autônomos, sim! Aos patrões do transporte e aos que defendem intervenção militar, NÃO!! 

“Todo apoio pra quem luta!!”

Assim eu já comecei várias vezes meus discursos em atos de luta por direitos, por democracia, contra o golpe, contra a ditadura, em defesa da educação e saúde públicas. E jamais mudarei de opinião a respeito disso, sei que só a luta muda a vida e só poderemos ter conquistas se estivermos organizados e lutando por cada uma delas.

Podemos lutar fazendo mobilizações como simples panfletagens de denúncia, pequenas reuniões no bairro ou no local de trabalho, atividades de impacto visual ou nas redes sociais, atividades culturais que comunicam pautas de luta, organização para conquista de estruturas que podem contribuir na luta como grêmios, sindicatos e associações, luta por eleger mandatos e governos, greves, ocupações, fechamento de estradas, até a luta pela deposição de governos autoritários ou excludentes para a tomada do poder pela classe produtora e pelo fim a exploração.

Os elementos da luta são:

– o momento histórico (o significado dessa luta no contexto em que ela é travada),

– os atores (quem está lutando, quem apoia, contra quem lutam),

– a pauta (pelo que está lutando), os meios (como está lutando),

– a comunicação (como conquistamos – ou não – a opinião pública),

– a análise da capacidade de vencer (não é justo levar a classe a aventuras em que a derrota pode destruir forças sem resultados práticos e adiar novas lutas mais justas e com maior capacidade de vitórias) e

– a tática e a estratégia adotadas (como articulamos todos os elementos anteriores e como eles se articulam com a luta maior pela libertação definitiva dxs produtorxs pelo fim do capitalismo e a construção de uma sociedade socialista – este último para quem é socialista ou comunista, claro).

Não é possível analisar nenhum movimento por um aspecto desses isoladamente. Vamos a exemplos: a pauta justa – a luta pela Reforma Agrária é uma luta justíssima devido às condições históricas atuais no Brasil, apesar de contradizer a estratégia geral de fim da propriedade privada dos meios de produção, já que é exatamente uma luta por propriedade. A greve por reposição salarial de determinada categoria pode ser justíssima, como é o caso de várias das greves anuais em setores do serviço público, mas pode estar errada do ponto de vista da incapacidade de conquista e de dialogar com a população, que está desempregada ou passa fome e já está convencida de que o Estado é seu inimigo (o que é verdade), mas então – conclui – devemos lutar pela demissão dos servidores públicos considerados vagabundos sustentados pelo trabalho alheio (a tática está errada e esvazia a capacidade de luta deste mesmo segmento em momentos cruciais, como é a luta atual contra o congelamento de investimento público por 20 anos).

A burguesia sabe muito bem fazer essas análises e quando tem oportunidade transforma pautas justas de clamor de categorias ou mesmo de clamor social e instrumentalizar essas lutas a seu favor. Temos sempre que estar atentos a isso e evitar que aconteça, muitas vezes a população apoiou massivamente o oposto do seu interesse como no caso dos governos fascistas e nazistas a partir da instrumentalização de anseios justos (a fome ou o desemprego). Claro que esses são os casos mais extremos, mas eles aconteceram em muitos níveis e em diferentes momentos históricos. A burguesia está sempre pronta pra isso.

O movimento operário também conseguiu em vários momentos fazer essa análise completa e aproveitar em benefício da maioria movimentos que começaram espontaneamente e por pautas específicas, transformando-as em pautas gerais e garantindo avanços muito significativos para a classe como um todos. No Brasil as greves dos metalúrgicos do ABCD paulista em 1979 e o movimento contra a carestia foi importantíssimo para o fortalecimento da luta pelas Diretas e da seguinte redemocratização do país, ainda que com as limitações que conhecemos.

E o movimento dos caminhoneiros com isso?

É inegável a revolta popular com a política de preços dos combustíveis. Também é inegável o impacto que isso tem na vida de trabalhadores do transporte, especialmente os caminhoneiros autônomos, cuja forma de exploração, tal qual facções têxteis e as MEIs na construção civil e em tantos outros setores da economia dão a impressão a eles de pertencerem a pequena burguesia e se enxergarem como empresários ou empreendedores, quando na verdade são apenas trabalhadores sem emprego que precisam inclusive lutar todos os dias pelo direito de serem explorados. Portanto o início dessa luta era por pauta absolutamente justa e em sua maioria por setor de produtores absurdamente explorados tal qual tantas outras categorias de trabalhadorxs.

Mas para quem já tentou sabe que organizar essa categoria é barbaramente difícil, os autônomos pior ainda. Eles não tem local pra se reunir, estão sempre espalhados. Os sindicatos costumam marcar assembleias na véspera no Natal, única data no ano em que eles estão em sua maioria nas cidades de origem onde são sindicalizados. Já pensou nisso? Claro que há meios de comunicação, mas todo mundo sabe a falta que conhecer pessoalmente faz na organização e na solidariedade. Será que toda essa organização que apareceu brotou do chão? Não minimizando o trabalho de quem está tentando organizá-los há tempos, bem pelo contrário. Exatamente por conhecer quem está fazendo isso por anos sabemos a complexidade em conseguir tal resultado. É impossível nessa conjuntura sem a ordem dos patrões. Sabemos que houve locaute, isso não é uma conjectura.

As grandes transportadoras brasileiras rapidamente perceberam a oportunidade e instrumentalizaram essa luta, reduzindo uma pauta com mais de 120 pontos a uma única questão de interesse próprio: a redução dos impostos dos combustíveis. De interesse não somente das transportadoras, mas também das petroleiras internacionais que só se beneficiam com a política de preços flutuantes e ainda mais com a redução da taxação. Essas últimas ganham ainda na nova onda de desmoralização da Petrobrás como empresa pública, na medida em que encaminham para a privatização dela e aproveitam sua desvalorização no mercado.


Uma outra fração da burguesia, que está em disputa pelo poder político brasileiro e vem promovendo o desgaste do governo golpista, representado pelo PSDB e pela Rede Globo, vê nesse momento uma oportunidade de derrubar esse governo e de ocupá-lo. Toda a burguesia que encaminha o golpe aqui percebe que as eleições não poderão acontecer de maneira limpa e justa, já que eles não conseguiram construir candidatura viável para derrotar o PT, mesmo com o Presidente Lula preso. Nesse processo suas frações competem por quem vai herdar o governo golpista e o PIG aposta na desestabilização, o que ficou muito claramente na promoção do desabastecimento (que aconteceria na manutenção da mobilização por tantos dias, mas foi acelerada pela criação de pânico coletivo e fez os donos de postos e de supermercados se aproveitarem para aumentar de maneira ainda mais exorbitante os preços, criando uma pressão inflacionária que não víamos há muitos anos no Brasil).

Sem contar que o setor imperialista que realmente dirige o golpe está insatisfeito pela demora de Temer em encaminhar a Reforma da Previdência e a privatização da Eletrobrás.
Não existe maktub, não está escrito.

Unificar a classe em torno de suas bandeiras e denunciar a apropriação (o locaute) que ocorreu mas da qual parece que os patrões perderam o controle. Contra essas reduções de impostos que retiram ainda mais recursos da Seguridade Social e serão totalmente apropriadas na margem de lucro das distribuidoras e das transportadoras e não terá nenhum impacto no preço final dos combustíveis.

Apoiar a principal reivindicação dos rodoviários de todo o pa[is que é a aposentadoria especial aos 25 anos de trabalho via a aprovação do PLS 271/2008 do Senador Paulo Paim, por ser essa uma forma de trabalho penosa e desagastante física e emocionalmente. Apoiar uma política de controle e regulação do preço dos fretes e das condições de trabalho para que essa categoria não seja mais obrigada a morrer em nossas estradas por ter que cumprir prazos inaceitáveis e que obrigam trabalho extenuante.

Ser totalmente contrários à intervenção militar para resolução do conflito, primeiro porque não é essa a função das forças armadas e sempre a classe deverá entender que essas forças não devem intervir em questões internas. Em segundo porque elas simplesmente não tem nenhuma capacidade de por fim ao conflito, visto que o desabastecimento precipitado permanecerá pela não circulação dos caminhões e não pela obstrução de rodovias ou refinarias.

Defender a Petrobrás e a Eletrobrás como empresas públicas e que hajam no interesse da classe trabalhadora brasileira e não segundos ditames de mercado e acionistas.

Demonstrar que tudo que está acontecendo é resultado do golpe em curso e que é preciso definitivamente defender a democracia e a realização de eleições, cada dia mais ameaçadas.

É preciso defender ainda uma mudança no modelo de transporte de carga no brasil, o modelo rodoviário é o mais ineficiente, mais caro, mais poluente e tem sido responsável pela perda de inúmeras vidas humanas. Sua grande vantagem é a capilaridade, mas é preciso um modelo combinado com várias matrizes (ferroviária, hidroviária, além da rodoviária), pensado de maneira estratégica e que passa inclusive pelo fomento econômico de produção local minimizando a necessidade de transporte de mercadorias de consumo que poderiam ser produzidas em pequena escala em todas as localidades.

#SóALutaMudaAVida #OPetróleoÉNosso #EletrobrásPública #LulaLivre #EleiçõesDiretasJá

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Elenira Vilela é professora e sindicalista.

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