Liderado pela historiadora Virgínia Fontes, professora da Universidade Federal Fluminense (UFF), o abaixo-assinado “Em defesa de Breno Altman e dos Palestinos”, aberto em 2 de janeiro, já ultrapassou a marca de 3,5 mil adesões até o fechamento desta reportagem. O expressivo apoio marca o repúdio de intelectuais e entidades à perseguição judicial que vem sofrendo o jornalista, fundador do site Opera Mundi, por seu posicionamento crítico às ações do governo de Israel contra o povo palestino.
No último sábado (30), Altman foi notificado pela rede social X, antigo Twitter, sobre um inquérito da Polícia Federal (PF), a pedido do Ministério Público Federal (MPF), solicitando seus dados cadastrais à plataforma. A investigação atende a uma solicitação feita em novembro pela Confederação Israelita do Brasil (Conib), que pedia à Justiça a exclusão de publicações do jornalista por considerá-las “racistas”. Ainda na época, a confederação divulgou que a 16ª Vara Cível da Justiça de São Paulo havia acatado pedido de exclusão.
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“A Conib vem adotando medidas judiciais contra pessoas físicas e jurídicas que espalham conteúdo antissemita e discurso de ódio. A liberdade de expressão é um direito assegurado no Brasil. Mas difundir discurso de ódio é crime”, informou a entidade na nota. Altman, que é judeu, contesta as acusações da confederação. De acordo com ele, o teor de suas postagens são antissionistas, não antissemistas.
Sionismo
O jornalista considera que a Conib “obedece ao Estado racista e colonial de Israel, como uma agência estrangeira disfarçada de representação comunitária. Lidera lobby sionista em solo brasileiro”, rebate Altman. “A separação que eu faço é que o sionismo é apenas uma corrente político-ideológica do judaísmo entre tantas outras ao longo da história. Ser antissionista é ser contra essa corrente, que tem natureza racista e colonial. Enquanto o antissemitismo passou a ser, no século 19, o termo usado para o ódio contra os judeus”, explica.
Lançado nesta segunda (1º), o manifesto também chama de “inadmissível e vergonhosa” a iniciativa da Conib. O documento destaca que a confederação é “uma dentre as muitas entidades sem fins lucrativos patrocinadas pela extrema direita israelita no mundo”. E que “promove a falsificação histórica e tenta ainda ocultar o óbvio – o massacre indiscriminado e a “limpeza étnica” realizados por Israel – atribuindo a Breno Altman a pecha de antissemita! Logo a ele, judeu. A falsificação é grosseira e sionistas tentam disfarçar o seu próprio racismo anti-palestino sob cortinas de fumaça negacionistas da verdade histórica”, aponta em um trecho.
O abaixo-assinado contesta ainda a aceitação da PF ao que classifica como uma denúncia “oportunista, falsificadora e em defesa da continuação do massacre, que pretende silenciar uma das mais importantes vozes na defesa do povo palestino no Brasil”, acrescenta.
Conib faz censura
O texto teve adesão de milhares de nomes do mundo acadêmico, como o do professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC) Igor Fuser. Em entrevista ao Opera Mundi, o docente destacou a ação judicial como um “atentado à democracia”. “Com esse ataque obscurantista ao jornalista Breno Altman, a Conib busca silenciar todos os brasileiros que se opõem ao assassinato em massa que está sendo cometido pelo Estado de Israel, instaurando na sociedade brasileira um ambiente de censura e intimidação”, endossou.
Fuser também criticou o “sofisma”, raciocínio do qual o sionismo faz uso ao tentar equiparar quaisquer críticas às políticas expansionistas e racistas ao antissemitismo. “Racista é quem apoia a destruição do povo palestino e a usurpação de suas terras. A atual ofensiva militar de Israel em Gaza é uma campanha em que o sionismo expõe ao mundo toda a sua perversidade, ao utilizar a violência sem freios contra civis indefesos, especialmente mulheres, crianças e idosos, que estão sendo assassinados diariamente”, afirmou o professor.
Ainda no sábado, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) saiu em defesa de Breno Altman, contestando o inquérito e a reclamação “descabida” da Confederação Israelita. Segundo a entidade, a investigação “soa como evidente assédio a um jornalista crítico. Uma tentativa de calá-lo com ameaça de um processo criminal, o que é inconcebível no Estado democrático de direito, que todos nós jornalistas sempre nos empenhamos em defender, notadamente nos últimos anos”. “A ABI lembra que a Constituição de 1988 garante a todo e qualquer cidadão a liberdade de expressão”, garantiu a associação.
Leia aqui o manifesto na íntegra, aberto para assinaturas.
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Redação: Clara Assunção