Apagão na prevenção pode trazer nova onda da epidemia de aids ao Brasil

Além de cortar recursos para prevenção, governo Bolsonaro exclui grupos vulneráveis e prioritários das ações preventivas. Imagem: Arquivo/EBC

Por Cida de Oliveira

A julgar pela falta de investimentos em campanhas preventivas, o Brasil tem tudo para passar por uma nova epidemia de aids. Em 2021, o governo Bolsonaro aplicou apenas R$ 100.098 em campanhas de prevenção. Este valor equivale a 0,6% dos cerca de R$ 16,5 milhões anualmente investidos até a eleição do atual presidente, conforme o professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) Mário Scheffer.

Já no primeiro ano de Bolsonaro, em 2019, foram destinados R$ 14,8 milhões. Em 2020, com primeiro orçamento elaborado integralmente pela gestão bolsonarista, foram apenas R$ 3,9 milhões para as campanhas oficiais de combate ao HIV – ou 74% a menos do que no ano anterior.

Este governo não só reduziu recursos, segundo Scheffer, como também excluiu algumas das populações mais vulneráveis à epidemia das campanhas de prevenção e ações educativas e antidiscriminatórias. Em especial profissionais do sexo, homens que fazem sexo com homens, jovens gays e pessoas trans (travestis, homens e mulheres transexuais). Sem contar outras ações de cunho ideológico, como a proibição de uma cartilha de prevenção voltada para homens trans pelo então ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta.

“Quando era deputado federal, Bolsonaro afirmou que ‘quem não se cuidou, se pegar a doença é problema dele’, referindo-se a quem vive com HIV. Em 2020, já presidente, voltaria a dizer que pessoas soropositivas são ‘uma despesa para todos no Brasil’”, lembra o professor da USP.

Aids ainda não tem cura

“Alguém se lembra de quando viu pela última vez uma campanha nos meios de comunicação advertindo sobre a doença e como se proteger?”, questionou em entrevista à RBA o ativista Harley Henriques, coordenador do Fundo Positivo, que atua há mais de 30 anos no enfrentamento ao HIV/aids.

Segundo enfatizou, trata-se de uma doença grave, ainda sem cura, controlada por um coquetel de medicamentos que podem causar efeitos adversos sérios. “No Brasil, todo ano, pelo menos 40 mil pessoas morrem devido à infecção pelo HIV. Não é uma doença que está resolvida. Há um grande número de pessoas que está contaminada e não sabe. Não há testes em massa. E piorou com a pandemia (de covid-19)”, disse.

Nesta quinta-feira (24), o Fundo Positivo, entidade de fundo privado criado em 2014 para fomentar projetos de prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, HIV/AIDS e hepatites virais, lançou o Fundo Brasil. Com aporte de R$ 1 milhão, a meta é disseminar estratégias de prevenção ao HIV/aids para as populações-chave e prioritárias da epidemia em contexto de extrema pobreza. Desta forma, o fundo pretende desenvolver ações educativas comunitárias para conter a expansão do HIV.

Serão contemplados 20 projetos de prevenção ao HIV desenvolvidos por organizações sem fins lucrativos no país. Desde que foi criado, o Fundo Brasil ja financiou projetos de mais de 160 instituições.

Confira o lançamento do Fundo Brasil de combate ao HIV/Aids

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