Aos 95 anos, mulher trans se torna ativista após ficar viúva e passar por transfobia

Cabelos brancos, brincos de turquesa e muitas histórias. Robina Asti pode ser considerada uma das poucas mulheres trans que conseguiram ultrapassar a expectativa de vida – até mesmo das pessoas cis norte-americanas (que no geral é de 79). Ou seja, ela tem 95 anos.

Ex-piloto de avião e atualmente ativista, ela foi entrevistada pelo site Refinery29 e afirma que não sabe como está viva até hoje. E diz: “Todas as manhãs em que eu puder abrir os olhos, é um bom dia”.

Robina nasceu em 1921 e passou grande parte de sua vida em Nova York, nos EUA. Durante a 2ª Guerra Mundial, esteve alistada na Marinha e chegou a ser atingida por um avião japonês. Ela foi casada com uma mulher, teve duas filhas e em 1976 finalmente revelou ao mundo que também é uma mulher.

Na década de 70, enfrentou inúmeras dificuldades e discriminação no trabalho, além de relação tensa com a primeira filha. Mas encontrou conforto ao conhecer o “amor de sua vida”, o artista plástico Norwood Patton, com quem se casou em um antigo hangar de aviões em 2004. E que morreu em 2012.

“Ele era um homem bom. Sempre fazia o café da manhã, almoço e jantar e tomava Martini às 5h”, declara ela sorrindo. “Quando ele estava no hospital, eu levava escondido uma garrafa de Coca-Cola cheia de martinis misturados para ele”.

Veja a foto de Norwood, o marido, quando jovem: 

SER MULHER

Robina afirma que o start para revelar a sua transgeneridade ocorreu logo após a morte do segundo filho do primeiro casamento. Ela conversou com a esposa, Eva, que decidiu ajudá-la na busca por sua real identidade, desde que topasse ter outro filho.

“Ela ficou chocada, é claro, mas concordou. Ela era uma boa mulher, e é ainda hoje. Então me ajudou e se tornou o meu modelo. Foi gradual”, declara Robina, que passou a tomar hormônios femininos e também pela redesignação sexual.

Robina afirma que na época não utilizavam os termos transexualidade e transgeneridade como atualmente e que atribui esses adjetivos ao que ela era antes de passar pela cirurgia, não agora. “Eu sou uma mulher e não vou pensar sobre mim de outra maneira que não seja como mulher”, defende.

Pouco depois, elas decidiram se separar e Eva voltou para a Flórida com as filhas. Sem trabalho formal, Robina passou a ser uma dona de casa que se divertida esporadicamente tocando piano em um bar. Foi em um deles na 66th Street que conheceu o marido, Norwood. Eles se encantaram por meio da arte.

Robina e Norwood

.
“Eu sabia que tinha que lhe falar (sobre ser transexual) e eu disse. Ele ficou tão chateado que me deixou. Uma semana depois ele voltou e afirmou que não se importava. Ele foi o meu amor até o resto de sua vida. Foi um relacionamento delicioso, em que nós fazíamos coisas divertidas juntos, como compras em um sábado de manhã”, lembra.

Ainda hoje, quatro anos depois, a casa de Robina é repleta de retratados dela e de outras imagens pintadas por Norwood. Durante a entrevista, ela chega a se emocionar algumas vezes.

VIROU ATIVISTA

Logo após a morte do marido, Robina levou um susto: não poderia receber o seguro como viúva porque a Administração de Segurança Social havia avaliado que ela não era legalmente mulher no momento do casamento.

“Pensei, tenho que fazer algo sobre isso, pois não está certo. Embora eu não precisasse do dinheiro, pensei que poderia haver outras pessoas como eu e que poderiam precisar dele para viver. Suponhamos que isso seja negado para elas, é catastrófico”, afirma.

Ela foi atrás dos seus direitos, conquistou o seguro e logo depois decidiu ser voluntária e defensora dos direitos transgêneros e de uma ong LGBT, a Lambda Legalize, que a ajudou. “Eles me abriram os braços e no Dia dos Namorados eu olhei para a minha conta bancária e que os cheques da Segurança Social caíram. Olhei para fora e disse: “Obrigado Nowwood”.

Agora, ela se dedica também à luta por direitos humanos e a ajudar jovens trans por meio de sua história.

.
DICAS AOS JOVENS TRANS

Aos 95 anos, Robina afirma que o único medo que sentiu foi nos tempos em que pilotava aviões. Dentre as dicas que dá aos jovens trans, ela fala sobre humildade, menos selfies e a necessidade de aprender a lidar com a rejeição. Uma vez que a transfobia cerca a maioria dos lares.

“Esteja preparado para a rejeição, mas saiba que ela não é permanente. Certamente a família e amigos vão dizer que é permanente, mas ela não é. Eles ainda não sabem que você é a mesma pessoa que eles amavam quando era mais jovem. E eles eventualmente podem entendê-la”, afirma.

Ela destaca o esforço incansável da paciência e da compreensão. “Não perca a paciência, não importa o que eles façam. Se te expulsarem, vá, mas não feche a porta. Envie um cartão de aniversário para a sua mãe, envie um cartão para o seu pai, lembre-se do Natal e do Ano Novo. E mesmo que você saiba que eles jogaram fora ou que foi enviado de volta, eles sabem que você enviou-lhes um cartão”.

Robina afirma que aos poucos eles mesmos podem estar preocupados e podem encontrar uma maneira de reestabelecer o contato. “E quando você voltar, faça isso abertamente”, diz. Caso não procurem, você já estará sabendo lidar com a rejeição e criando outros laços. “É preciso ser humilde. É lindo quando as pessoas param de se vangloriar e se tornam humildes”.

Ela revela que demorou mais de 20 anos para que a primeira filha do casamento com Eva a aceitasse. “Ficamos afastada por vinte anos ou até mesmo mais tempo. Acho que ela percebeu que tinha que resolver esse problema de aceitação comigo e, então, veio me ver. Nós conversamos e agora estamos bastante próximas. Isso está sendo simplesmente delicioso”, finaliza.

Fonte: NLucon.

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.