Análises do segundo protesto da Frente de Luta pelo Transporte Público de Florianópolis

Por Camila Ignácio e Thiago Iessim para Desacato.info.

A segunda manifestação pela diminuição do valor da tarifa de ônibus de Florianópolis ocorreu ontem, 21 de janeiro, no centro da cidade. O protesto foi o suficiente para provar duas premissas: a capital catarinense não tem mobilidade urbana e a polícia do estado está preparada para impedir o crescimento e amplitude dos protestos. O ato teve a participação de cerca de 150 pessoas e um número expressivo de policiais fazendo o acompanhamento ostensivo da manifestação.

Foram quase três horas de protestos, sem embates entre policiais e manifestantes, mas com a tensão de ter a cavalaria e um grande contingente militar, em relação ao número de manifestantes, cercando a passeata. Diversos contingentes especializados da Polícia Militar participaram da operação, como Cavalaria, Choque, Rocan e Tático. Dessa forma, os manifestantes não chegaram ao túnel, trajetória que tinham como objetivo, e tiveram que retornar ao centro.

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O cerco da polícia sufoca a manifestação, que é democrática, e o medo da violência afasta a população do movimento. Os policiais militares catarinenses são diferentes dos paulistas e cariocas por seguirem um protocolo, o qual diminui o embate nas manifestações. No entanto, as notícias de violência nos protestos que acontecem pelo país e de outros que já aconteceram em Florianópolis, assim como a imponência de policiais militares fortemente armados, assusta a coletividade.

A Frente de Luta pelo Transporte buscou apoio na população ainda quando estava em concentração no Terminal Central, através do ritmo dos tambores e euforia das cantorias, de panfletagem e do catracaço que foi realizado. Porém, apesar dos apoios expressados momentaneamente e da simpatia conquistada, não houve grande adesão à passeata.

Os manifestantes, mesmo em pequeno número, diminuíram o fluxo de trânsito em uma das vias centrais e foram capazes de gerar um enorme congestionamento nas principais ruas da região central que dão acesso à ilha e aos bairros. O trânsito ficou bastante prejudicado, principalmente no sentido centro bairro, por cerca de 30 minutos, em que ocorreu a paralisação da Expressa Sul pelos manifestantes, havendo congestionamento que se estendeu até a ponte Pedro Ivo.

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Essa definitivamente não foi a primeira vez que Florianópolis teve um congestionamento e, se o transporte coletivo não se tornar melhor e mais acessível, não será a última. A fila é a prova de que cidade não é capaz de manter o número de carros de moradores e turistas que se movimentam pela ilha, assim como também comprova a falta de comprometimento das gestões que passaram pela prefeitura de pensar a mobilidade urbana a longa data. O trânsito parado de ontem foi um incômodo para os motoristas, mas se trata da tentativa de fazer da capital catarinense uma cidade mais rápida e de mais fácil locomoção para todos.

O transporte na gestão César Souza Júnior e Consórcio Fênix

Em abril de 2014, após assinar o contrato licitatório realizado pela gestão de César Souza Júnior, assume o Consórcio Fênix, único contendor a disputar a licitação de nível nacional com vigência de contrato de 20 anos. Formado pelas mesmas empresas que exploram o transporte público catarinense desde a década de 20, o consórcio assume com base no discurso de melhoria do serviço pautada na sustentabilidade e focos sociais, econômicos e ambientais. Por parte do governo, foi mencionado a maior facilidade e menor gasto operacional em monitorar uma única empresa.

A tarifa, que a priori decaiu quando assumiu o consórcio, de R$2,90 para R$2,75 em junho de 2014, teve um salto no período de um ano e meio. Passou de R$2,75 para R$3,20 já em janeiro de 2015, e em questão de mais um ano para R$3,50 – um reajuste de 9,37% em relação ao preço anterior e, no período desde o início da vigência do contrato, apresentou um aumento de 27,27% em que a inflação acumulada não ultrapassou o teto dos 14%.

A Frente de Luta pelo Transporte de Florianópolis, chama a atenção para a questão do transporte público como direito fundamental da população e como este aumento influência de forma contundente no cotidiano dos trabalhadores. Mensalmente o gasto de uma família de 4 pessoas aumentará 100 reais no orçamento somente para transporte público comprometendo o investimento em alimentação, estudos ou lazer.

Os atos não irão cessar e a Frente de Luta pelo Transporte já planeja sua próxima ação em busca de derrubar o aumento da tarifa para as próximas semanas.

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