Por Elenira Vilela, para Desacato.info.
Há 170 anos, nessa época do ano (a data oficial foi 21 de fevereiro de 1848), foi publicado pela primeira vez um tratado científico sobre o capitalismo industrial em desenvolvimento, um panfleto de agitação de toda uma classe contra a exploração, um resumo sobre tópicos fundamentais da história da humanidade, uma tese para um congresso a Reunião da Liga dos Justos que nunca mais se chamaria assim.
A humanidade jamais seria a mesma depois de ter contato como “Manifesto Comunista” de Karl Marx e Friederich Engels.
São apenas 67 páginas em um livro de bolso na edição da Expressão Popular, vendida por 3 ou 4 reais. Existem milhares de edições, uma das obras mais traduzidas da história da humanidade. Esse livreto desvendou e sistematizou o conhecimento sobre Economia Política, História, Matemática, Política, Geografia, Psicologia da Ciência. Ninguém devia terminar sua vida sem ler este livro. Ninguém devia começar sua vida sem essa leitura.
Os comunistas são tratados pela classe dominante como uma das maiores ameaças para a humanidade. Bom, só se for para a existência humana deles, porque de fato o objetivo dos comunistas é acabar com a exploração e portanto com os exploradores como tal.
Nesse livro, Marx e Engels mudam o foco da luta de uma questão moral (justos x injustos) para a base material da existência. Não é moral e por isso mesmo o capitalismo é avaliado na sua objetividade, não como bom, nem como mal.
Nas próprias palavras dos autores: “A grande indústria criou o mercado mundial, preparado pela descoberta da América. O mercado promoveu um desenvolvimento incomensurável do comércio, da navegação e das comunicações. Esse desenvolvimento, por sua vez, voltou a impulsionar a expansão da indústria. (…) a burguesia moderna é, ela mesma, produto de um longo processo, moldado por uma série de transformações nas formas de produção e circulação.” (p. 11) e “a burguesia desempenhou na história um papel altamente revolucionário”(p.12).
Marx e Engels abordam os maiores dilemas sociais de sua época histórica e a maioria deles continua absolutamente atual. Propõe de maneira inequívoca que os proletários devem lutar para abolir a propriedade privada e vaticinam: “Vocês se horrorizam com o fato de que queremos abolir a propriedade privada. No entanto, a propriedade privada foi abolida para nove décimos dos integrantes da sua sociedade; ela existe para vocês exatamente porque para nove décimos ela não existe.”(p. 34).
Não é um texto polido e acadêmico, nem por isso deixa de ser científico e preciso. Mas, principalmente, é um texto político, um Manifesto. Explica questões a respeito do comunismo que até hoje muitos não querem entender, como “O comunismo não retira de ninguém o poder de apropriar-se de produtos sociais; apenas suprime o poder de, através dessa apropriação, subjugar o trabalho alheio” (p.35).
O autores abordam ainda questões como a moral, o papel da família, o papel da mulher. Impressiona, lendo 170 anos depois, que as acusações falaciosas contra os comunistas sejam as mesmas até hoje. Outras são verdadeiras acusações as quais assumimos “vocês nos acusam de desejar abolir a exploração das crianças pelos pais? Nós confessamos esse crime.” (p. 37)
Falam de educação, do papel social atribuído às mulheres e da necessidade de mudá-lo, da questão da pátria.
Debatem a construção da consciência como algo objetivo, determinado pelas condições objetivas de vida e afirmam: “será necessária inteligência tão profunda para entender que com a mudança das condições da vida das pessoas, das suas relações sociais, de sua existência social, também se modificam suas representações, concepções e conceitos, em suma, também sua consciência?” (p. 40).
Explicam que o “primeiro passo da revolução dos trabalhadores é a ascensão do proletariado à situação de classe dominante, ou seja, a conquista da democracia.” (p. 42, grifos meus). Isso para o entendimento de que a verdadeira democracia é o domínio da maioria (o proletariado) sobre a minoria (a burguesia).
E explicitam um programa da revolução, que não será exatamente o mesmo em todos os lugares ou tempos históricos, mas devem ser as medidas capazes de “aumentar a massa das forças produtivas o mais rapidamente possível” (p. 42) sob o controle do proletariado organizado como classe dominante de modo a revolucionar todo o modo de produção.
O ponto 10 desse programa é:
“10. Educação pública e gratuita para todas as crianças. Supressão do trabalho fabril de crianças, tal como praticado hoje. Integração da educação com a produção material etc.” (p. 44). Na maior parte do planeta ainda estamos tão longe de alcançar algo que parece simplesmente humano, mas que é totalmente revolucionário. Mas é óbvio, ainda nos falta a revolução que pode dar base para esse processo. A não ser onde ela ocorreu, como em Cuba ou no Laos.
Nesse texto explicitam que o maior objetivo dessa revolução é exterminar o antagonismo entre classes e, por consequência, das classes em si. Então, quando afirmam que a luta de classes é o motor da história, não o fazem por desejo ideal, mas por constatação histórica. O desejo é exatamente seu oposto, isto é, afirmam como essencial atuar na luta de classes para que não seja mais necessário haver luta de classes, para que não existam mais classes. Aparentemente contraditório, esse é o raciocínio dialético por excelência.
Engels e Marx abordam as várias correntes de pensamento socialista como base a seu pensamento, mas explicitando a necessidade de superação de sua confusão de classes e de seu idealismo. Demonstram pela sua própria abordagem como referenciais teóricos são fundamentais para uma prática revolucionária.
Já a crítica ao idealismo do movimento dos trabalhadores parece tão atual quanto no dia que foi escrita. A quantidade de manifestos, teses e “análises” que falam da necessidade do sonho e da utopia para a construção e organização da classe demonstra a dificuldade de superação desse idealismo até os dias de hoje.
Certa vez já nos anos 2000, convidado para falar em uma mesa do Fórum Social Mundial cujo tema era o quixotismo no movimento social, depois de ouvir românticos discursos em defesa da utopia como motor da luta, o comunista José Saramago afirmou: “O que move a luta não é a utopia, o que move a luta é a NECESSIDADE”, ele certamente estava apenas repetindo o que aprendeu com Marx e Engels.
Tratando da relação entre os comunistas e as demais organizações proletárias, afirmam de maneira simples e direta: “Os comunistas lutam pelos objetivos e interesses mais imediatos da classe operária, mas, ao mesmo tempo, representam no movimento atual o futuro do movimento. Na França eles se aliam ao partido democrata-socialista contra a burguesia conservadora e radical sem, no entanto, abdicar do direito de se posicionar criticamente frente a palavrórios e ilusões legados pela tradição revolucionária” (p. 62) e dão exemplos dessa forma de atuação na Suíça, Polônia e Alemanha e resumem “os comunistas apoiam em toda parte todo movimento revolucionário contra as condições sociais e políticas atuais (…) e trabalham por toda a parte pela união e o entendimento entre os partidos democráticos em todos os países” (p. 63).
Essa obra precisa estar nas mãos de todas as pessoas que defendem e lutam por mudanças econômicas e sociais profundas. Deve ser distribuída, lida, estudada e debatida como ponto de partida para uma nova consciência, a que rompe com a sociedade que tem a exploração como sua base.
Deve ser um meio para o trabalho contra o preconceito que a burguesia plantou em toda a sociedade contra os comunistas, vistos como ameaça. A ampla maioria de conquistas das maiorias ao longo do capitalismo tem nos comunistas seus promotores ou aliados. Direitos trabalhistas, sociais, políticos e direitos humanos, tais como jornada de trabalho reduzida, férias, redução do trabalho infantil, diminuição da violência e exploração das mulheres, avanços democráticos, tudo isso e muito mais é consequências dos referenciais e atuação de comunistas em todo o mundo.
A burguesia realmente tem motivos para ver os comunistas como ameaça, já que todas as outras classes e segmentos sociais sempre terão entre nós comunistas seus principais aliados: Os que querem a mudança que significará a verdadeira liberdade para todas as pessoas e a defesa do nosso planeta como nossa casa e lugar da vida.
Trabalhadores de todo o mundo, uni-vos na revolução!!
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[avatar user=”Elenira Vilela” size=”thumbnail” align=”left” link=”attachment” target=”_blank” /]Elenira Vilela é professora e sindicalista.
Como então explicar tantas mortes causadas pelos comunistas? Quantas ditaduras, onde não se pode questionar nada que os dirigentes definem unilateralmente como correto, se fortaleceram com esse discurso. e isso é irrelevante? “A prática como critério da verdade” não tem mais validade? Mortes não contam mais? Democracia é o que a “nomenklatura” decide q é bom? Quanto cinismo, quanta falta de vergonha e cinismo, quanta falta de considerar o que o povo realmente quer… basta dizer que eles são “enganados” , e seguir em frente, implantando o que seus interesses determinam… A quem voces, comunistas, querem enganar? Vc s só querem poder, e mais nada,,, e usam um discurso populistas de ” vamos proteger os coitadinhos” p isso… Vc tinham q sumir do mapa, com certeza! Não é medo da classe dominante de perder o poder, é medo do povo de se submeter a vcs!
Penso que como corrente filosófica, a ideia do comunismo, a sua essência é realmente interessante, o problema, não só apenas no comunismo, mas também no capitalismo é a falta de valores; como por exemplo, a ética. Tudo que o ser humano puder deturpar, seja na política, econômica etc, será assim feito. Na verdade poderíamos ter um governo de esquerda ou direita; mas desde que os valores fundamentais como o bom senso, honradez, ética, por exemplo fossem incorporados de verdade nas veia dos comunistas e capitalistas, não brigaríamos tanto e não haveriam tantos conflitos como houve ao longo das décadas, são pessoas sem ética nenhuma que usam o Marx como Bom Bril. Quem é de direita também usa o liberalismo como se fosse melhor para o povo, mas, sem bom senso e tantos outros adjetivos nesse sentido um governo de direita e de esquerda seria igualmente ruim.