Alguns pontos sobre Wokeismo

Imagem de Gabi em Pixabay

Por Quantum Bird.

Escrevo esta breve nota a pedido de um caro amigo, que contribui frequentemente com o Saker Latinoamérica e me disse que não sabia muito bem o que era wokeismo. Segundo ele, muita gente que ele conhecia também não entendia exatamente ao quê o termo woke se referia. Assim resolvi escrever essa peça.

O wokeismo é uma típica “doutrina” liberal originada nos EUA, que instrumentaliza, descaracteriza e despotencializa as verdadeiras causas relacionadas à justiça social através de revisionismo social, cultural e histórico, do identitarismo e da cultura do cancelamento. O termo woke em português significaria algo como alguém estar ligado, desperto ou acordado. Os wokes de fato imaginam terem atingido subitamente uma compreensão privilegiada e acurada da História, que eles agora vão corrigir.

Os wokes acreditam que ser woke é a coisa mais importante da existência de qualquer ser humano. Ou seja, os wokes são militantes radicais, que praticam uma visão de mundo binária e exclusivista. Todo não-woke – qualquer um que discorde de qualquer aspecto do wokeismo — dever ser convertido ou cancelado. Não existe meio termo. Pessoalmente, chamo esta atitude de ultimatum Borg dos wokes.

O modo mais eficaz de reconhecer um woke é observando a prática de uma atitude chamada “sinalização de virtudes”. Trata-se de um exercício de narcisismo, excepcionalismo e autoatribuição de autoridade moral, no qual o woke declara publicamente o que é certo e o que é errado de acordo com sua visão de mundo distorcida e moralmente seletiva. Não existe direito a réplica, e o ritual quase sempre serve envergonhar alguém, um interlocutor em uma conversa, por exemplo, de modo a coagi-lo a se comportar e pensar como um woke faria. A sinalização de virtudes também acontece durante o linchamento público nas redes sociais que antecede as campanhas de cancelamento.

Wokeismo implica identitarismo. Ou seja, a substituição da diversidade real da humanidade pela coleção de letras – sempre em expansão – designativa dos possíveis gêneros de uma pessoa. Gênero em substituição de sexo, que como se sabe, são dois na espécie humana: homem e mulher. Mas como doutrina woke é fortemente focada no ato sexual; a modalidade de prática sexual quase sempre acaba sendo o critério para a definição de gênero. De qualquer forma, no wokeismo, gênero é uma noção fluida e qualquer um pode ter o gênero que quiser, basta proclamá-lo publicamente, e todos devem seguir a nova regra, se não… cancelamento.

No contexto do wokeismo não existe luta de classes. A luta é entre as identidades fluidas que os wokes adotam em um certo momento no tempo. Existe todo tipo de guru, com seu lixo antihistórico pseudointelectual para justificar isso — veja Teoria Crítica das Raças, por exemplo. Assim, o wokeismo presta-se perfeitamente à fragmentação das sociedades, ao empoderamento seletivo de minorias convenientes para circunstâncias específicas, à desarticulação de movimentos políticos genuínos e a fomentação de litígio entre pobres.

No wokeismo, a fragmentação do indivíduo e de sua psiquê atinge o máximo. Por exemplo, para um woke brasileiro típico é totalmente normal e admissível que uma suposta ativista feminista preta – ou vice-versa – famosa por sua luta “lacradora” contra o racismo – aquela do lugar de fala, lembram? – e seu feminismo radical, faça propaganda para marcas luxuosas como Prada – marca dos 1%, que objetifica mulheres há décadas e está frequentemente associada a trabalho escravo – e para o “99”, mais um serviço de táxi por aplicativo que precariza e preda a vulnerabilidade de milhares de pretos e pardos no Brasil pós-lava jato.

A principal vítima, aparentemente fatal, da ascensão do wokeismo parece ser a esquerda global, cujos políticos e militantes, em sua grande maioria, abraçaram em massa o liberalismo econômico e e a financeirização, esquecendo o trabalhismo, o marxismo e o comunismo, e tornaram-se wokes apenas para se associar uma suposta militância por justiça social. Simulacra e simulação. O wokeismo e o belicismo econômico e militar formam a ideologia dominante do Partido Democrata Estadunidense. E podemos dizer, sem risco de cometer maiores injustiças, que pelo menos com respeito ao wokeismo, os principais partidos ditos de esquerda do Ocidente são meras sucursais do Partido Democrata Estadunidense.

Finalmente, tenho que dizer ainda que o wokeismo foi a forma que os 1% encontraram de mobilizar multidões que formam os 99% da anomia em que foram jogados por décadas de liberalismo econômico, financeirização e degradação cultural e social, para se autodestruírem.

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